Crítica | Uma Pitada de Sorte

Nota
4

“Essa sou eu, Pérola, e esse é o meu cantinho. Eu vim aqui pra relaxar, caminhar, refletir e pensar na minha vida.”

Pérola Brandão é uma grande sonhadora e uma guerreira moderna brasileira. Morando com sua mãe, Gina, e seu irmão, Pérola vive equilibrando seu dia entre trabalhar como Sous Chef em um restaurante na Zona Sul do Rio e como animadora de festas infantis na empresa da família, que é comandada por sua mãe, que foi herdada de sua avó e futuramente deve ser assumida por Pérola. O maior problema para Pérola é encontrar uma forma de alcançar o seu sonho, de se tornar uma grande chefe de cozinha com seu próprio negócio de culinária, ao mesmo tempo que honra a herança da família, que se orgulha da brasilidade de suas festas e garante festas incríveis sem usar nenhum personagem/artificio não brasileiro. Como se sua vida já não fosse caótica o suficiente, Pérola acaba sendo demitida do restaurante em que trabalhava e encontrando a oportunidade de ser auxiliar de Diego Gomez, um famoso chef argentino, em seu programa de televisão, precisando dedicar ainda mais tempo de seu dia ao mesmo tempo que tenta esconder da mãe sobre a mudança de emprego.

Com direção de Pedro Antônio, que já exibe em seu currículo o padrão de nos presentear com produções que são exemplos da típica comédia brasileira, Uma Pitada de Sorte é uma comédia romântica feita sob medida para fazer Fabiana Karla brilhar no papel principal. Com um enredo que parece reunir os melhores elementos clássicos da comédia brasileira, o longa não busca surpreender com uma proposta inovadora e inesperada, mas sim divertir o público com o melhor do cinema nacional e proporcionando a Fabiana a possibilidade de colocar seus melhores artifícios na mesa e levar seus compatriotas a degustar o mais puro e sincero humor. O longa explora ao máximo o humor físico e o timing de Fabiana, equilibrando o drama de uma típica brasileira que não desiste nunca de seus sonhos e precisa encontrar seu lugar no mundo com a comédia de uma mulher que se arrisca e se sobrecarrega, levando às diversas trapalhadas que tanto nos fazem rir sem ficar forçado.

Fica claro em cada cena o quanto o filme foi feito para Fabiana, visto que a atriz que foi escolhida para protagonista do filme pela produtora Gláucia Camargos antes mesmo de o roteiro começar a ser escrito, o que só facilitou na construção de Pérola como uma jovem cozinheira carismática e que, mesmo com pouca experiência profissional, se mostra extremamente ambiciosa, esforçada e inventiva e ainda consegue colocar em cena as raízes pernambucanas da atriz sem quebrar a história de fundo da personagem. Outro destaque do elenco é Mouhamed Harfouch, que interpretando Lugão, personifica um dos melhores amigos de Pérola que é secretamente (ou nem tão secretamente assim) apaixonado pela cozinheira, o que o coloca ativamente presente no dia a dia da personagem, ajudando ela a conseguir dar conta da sua dupla jornada e sempre dando seu máximo para agradar sua amada, tudo fica ainda mais envolvente e engraçado pela forma como o personagem é construído, cheio de características planejadas para criar piadas pontuais que só contribuem para o papel e para a interação de Mouhamed e Fabiana. Regiane Alves vive Margô, a produtora do canal que abriga o programa de Diego e que assume praticamente o papel de vilã do filme, já que ela se mostra contra a presença de Pérola como assistente de Diego e, usando sua influência, tenta de toda forma fazer o canal ou a moça desistir da sua escolha para a vaga, mas o filme nos surpreende até nesse ponto, dando à personagem uma subtrama discreta que a leva por uma evolução interessante, justificando seus atos e até nos fazendo ver mais a fundo o valor da personagem.

Debatendo sobre família, tradição e superação, Uma Pitada de Sorte parece trazer a receita completa de como entregar uma agradável comédia romântica e ainda se mostra disposto a defender o nacionalismo da obra, a produção brinca com a montanha-russa de emoções e o ritmo do enredo que vai soar confortável para todo brasileiro e que parece combinar perfeitamente com a estrela da comédia, que é acelerada e hilária. O longa ainda ganha pontos por conta de sua direção de arte cativante e do seu roteiro consciente, que chega até a tratar de temas como a gordofobia e o machismo estrutural de forma natural, mas se prejudica por conta de alguns problemas em sua edição, que as vezes exagera no dinamismo do roteiro e corta diversos trechos importantes da história, deixando alguns momentos soarem inconsistentes ao esquecer de justificar certas ações, ao pular as motivações de certas mudanças de atitude, ou até esquecendo de dar detalhes necessários em certos desfechos, um deslize que pesa muito mais no ato final do longa. Apesar desse problema, o conjunto da obra acaba nos entregando uma comédia divertida, familia, reflexiva e que vale muito a pena ser assistida.

“- Se você fosse uma comida, que comida seria?
– Um prato cheio”

 

Sonhador nato desde pequeno, Designer Gráfico por formação e sempre empenhado em salvar o reino de Hyrule. Produtor de Eventos e CEO da Host Geek, vem lutando ano após ano para trazer a sua terra toda a experiência geek que ela merece.

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