Review | DAHMER [Season 1]

Nota
4.5

“Jeff, aquele cheiro está pior do que nunca…”

Jeffrey Dahmer sempre teve vários problemas em casa e na escola desde sua juventude em Milwaukee, ele sempre foi diferente das outras crianças e acabou sofrendo muito pelas consequências da separação de seus pais. Rejeitado, diminuído e nunca compreendido, Jeff acabou crescendo com o passar dos anos sem entender ou combater seu comportamento estranho, o que o levou a se transformar num assassino perigoso, que sempre passou despercebido pela polícia, começou a criar um modus operandi e um padrão de vítimas, e logo acabou tendo sua compulsão evoluída de forma aterrorizante ao incluir estupro, necrofilia e canibalismo.

Jeffrey Dahmer é um dos assassinos em série mais notórios da história dos Estados Unidos, responsável pelo assassinato de 17 homens e garotos entre 1978 e 1991, ele se destacou pela crueldade e sadismo de seus atos e pela forma como a negligencia da policia teve um grande papel em sua jornada. Depois do imenso burburinho causado pela presença de Ted Bundy: A Irresistível Face do Mal na grade da Netflix e da excelente repercussão das minisséries Conversando com um Serial Killer, não é de se surpreender que a empresa de streaming resolvesse investir em um novo ‘personagem’ para estampar a mídia, o que tornou Dahmer uma das melhores escolhas. Em 2 de outubro de 2020 foi revelada a escolha de  Ryan Murphy, que sempre mostrou sua competência com American Horror Story, e Ian Brennan, que já trabalhou com Murphy em Glee e Scream Queens, como showrunners da produção, o que não tornou surpresa a posterior escolha de  Evan Peters (que já é presença cativa nas inúmeras temporadas de AHS) no papel título. Estreando em 21 de setembro de 2022, a minissérie apresentou o serial killer a muita gente, iniciando uma profusão de comentários nas redes sociais expondo o choque e o pavor em descobrir que uma pessoa assim já existiu e fazendo a produção alcançar mais de 196 milhões de horas assistidas em sua semana de estreia, atingindo a liderança do ranking de mais assistida da semana na Netflix e o posto de quinto maior lançamento da história do streaming.

O trabalho de Peters no papel de Dahmer talvez seja o maior destaque da série, o ator consegue construir Dahmer de forma magistral, dando ênfase a cada um dos traços do transtorno de personalidade borderline, transtorno de personalidade esquizotípica e transtorno psicótico que, segundo analise de especialistas, eram diagnósticos do assassino, e ainda consegue deixar clara a tênue linha que deixa a duvida entre se ele era doente ou são. Dahmer não é o primeiro psicopata interpretado por Evan, mas comparado a TateKai, o canibal está num nível muito superior, entregando um trabalho tão autentico que arrepia ao assistir à série, fazendo com que sintamos um mix de empatia e antipatia, de curiosidade e nojo, algo que só soma com o ritmo demorado do desenrolar da trama. Complementando a história, o elenco da série se completa, mesmo que com pouco tempo de tela, com alguns coadjuvantes, como Richard Jenkins e Molly Ringwald, respectivamente o pai e a madrasta de Jeff, ou Penelope Ann Miller, interprete da mãe de Dahmer, um trio responsável por entregar o efeito que as revelações dos crimes de Jeff tem em sua família, quem também rouba a tela é Niecy Nash, que no papel de Glenda Cleveland (a vizinha que inicialmente desconfiou de Jeff e foi ignorada pela policia por ser negra e pobre) injeta reflexões preciosas no decorrer da trama, nos fazendo sentir a dor de não ser ouvida quando clama pela vida de tantos jovens negros e imigrantes.

Com seus dez episódios de cerca de 50 minutos, Dahmer – Monster: The Jeffrey Dahmer Story traz um enredo sedutor para nos contar uma história claramente indigesta, sombria e muito dificil de assistir. Aproveitando a moda que o gênero true crime se tornou ultimamente, Jeffrey Dahmer se junta a tantos outros assassinos famosos que invadiram os cinemas e o streaming, nos apresentando uma história fora de cronologia mas com uma ordem que aos poucos vai se justificando, misturando infância, adolescência e idade adulta, indo e voltando para antes, durante e depois do inicio da descoberta de seus crimes. O grande artificio do filme é seu ritmo, criando um clima tenso e arrastado com sua trilha e seus diálogos, tornando tudo ainda mais intimista e aproximando o assassino do expectador, nos tornando mais ligados ao assassino do que às vítimas, tudo para chocar ainda mais a audiência com as cenas de crime, um forte das produções de Murphy, que sempre faz questão de não filtrar seu enredo para ficar mais palatável, criando um misto perigoso de deslumbre e repugnância. Apesar de Tracy Edwards ser a última vítima do assassino, ou melhor, o único sobrevivente, a série faz questão de dar maior ênfase para Tony Hughes, que quase protagoniza “Silenced” (episódio 6) e dá uma humanidade maior ao assassino, mesmo que por pouco tempo, e se torna um dos melhores episódios da série ao lado de “Lionel” (episódio 8), mostrando uma série de escolhas que só engrandece à história e nos coloca em um sério dilema: Até onde devemos dar ou não visibilidade a criminosos reais?

 

Sonhador nato desde pequeno, Designer Gráfico por formação e sempre empenhado em salvar o reino de Hyrule. Produtor de Eventos e CEO da Host Geek, vem lutando ano após ano para trazer a sua terra toda a experiência geek que ela merece.

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