Nota
“Tudo termina agora!”
Quatro anos se passaram desde a morte de Karen, um período sem novos ataques de Michael Myers, um tempo que Laurie e Allyson tiveram para reconstruir suas vidas e uma momento que Haddonfield deveria ter usado para curar suas feridas, mas como esquecer a chacina que Myers fez em 2018? A busca da cidade por novos bichos-papões foi o que acabou prejudicando a vida de Corey Cunningham, um jovem que, em 2019, acabou causando um acidente quando estava trabalhando de babá no halloween e foi vitima de uma pegadinha de Jeremy, o garotinho do qual estava responsável, que lhe trancou no sótão e, quando Corey arrombou a porta, acabou sendo empurrado do terceiro andar e morrendo, mais uma alma de Haddonfield em busca de cura. Mas tudo começa a se conectar em 2022, quando o pesadelo de Corey se encontra com as feridas não curadas de Allyson e acabam o fazendo cruzar com um moribundo assassino com fome de sangue, fazendo o mal nascer dentro de Corey e as forças ressurgirem em Myers.
Depois d0 resultado morno que Halloween Kills teve ano passado, abrindo mão da relação entre Michael e Laurie, a alma de Halloween parecia estar se perdendo, o que só fez com que o filme que finalizaria a trilogia tivesse uma responsabilidade ainda maior. Com a promessa de trazer a maravilhosa final girl de Jamie Lee Curtis de volta ao protagonista, agora pronta para vingar a morte de sua filha e acabar de vez com o pesadelo que já dura 45 anos, o filme parece pronto para entregar um poderoso jogo de força e fraqueza, tratando Kills como o momento de força de Myers e de fraqueza de Laurie e prometendo um Halloween Ends onde veremos Laurie de volta com força total para enfrentar um Myers que se enfraqueceu ao longo desses quatro anos. O salto temporal ajuda muito na construção do equilíbrio que o filme pede, mas talvez o maior erro do filme tenha sido a alta aposta no arco de Corey como condutor para o embate final, sendo ótimo ao deixar no ar a expectativa e a antecipação pelo grande confronto entre Laurie e Michael, mas não sendo suficiente para sustentar o desenrolar do enredo.
O primeiro ato é facilmente dividido em duas tramas que se opõe, de um lado temos a construção de Jamie Lee da Laurie renovada, ela está tentando esquecer o passado, exorcizando seus demônios através de um livro que está escrevendo, contando sua experiencia e tentando sobreviver ao luto que ainda pesa na cidade. A Allyson de Andi Matichak mostra uma evolução clara, deixando de lado a imaturidade adolescente e se tornando uma aliada da avó na busca por se curar, trabalhando como enfermeira e se deixando apaixonar, infelizmente a personagem não tem muito tempo de tela e serve muito mais como suporte de Laurie e Corey. O papel do antagonista Corey fica por conta de Rohan Campbell, que dá um show de atuação ao entregar um Corey profundo, obscuro e dualístico, o garoto do começo do filme é um jovem cheio de feridas, lutando para sobreviver numa cidade onde todos os enxergam como um psicopata, mas uma chave macabra vira quando ele e Michael se encontram, toda a escuridão que existia dentro dele parece emergir, transformando o garoto desajeitado em um homem claramente transformado, o olhar de Corey muda, suas expressões, seu jeito de andar e de agir, até a forma de falar, é como se uma parte do mal que reside em Myers tivesse sido transferido para Corey, infelizmente o filme deveria ser focado em Michael e Laurie, e a presença de Corey no foco acaba incomodando mais do que adicionando. Apostando na nostalgia, o filme continua apostando nos velhos rostos trazidos diretamente de 1978, o que garante a presença do Frank de Will Paton, da Lindsey de Kyle Richards e, principalmente, da manutenção de Nick Castle dividindo o papel de Michael com James Jude Courtney.
Halloween Ends provou que realmente veio para ser algo que ninguém poderia prever, indo muito além do apresentado em trailers e entregando uma trama que mais parece um jogo de xadrez, onde as peças vão sendo jogadas vagarosamente e criando a tensão do embate final entre os dois reis. Apesar de incomodo em muitos momentos, o filme parece ter conseguido o feito de redimir a trilogia de David Gordon Green, que se desviou durante seu segundo filme, e entrega um desfecho que está longe de ser o grandioso final que todos esperávamos, mas que agrada por ser sóbrio, contido, deixando de lado a violência para focar muito mais na verdadeira luta, o que pode até ter sido a melhor forma de emoldurar o embate de Michael e Laurie como o ápice da trama, nos enchendo de adrenalina, nos fazendo pular na cadeira e torcer pela mulher, tornando a conclusão muito mais emblemática, satisfatória e emocionante.
“É halloween, a gente vai se divertir esta noite!”
Icaro Augusto
Sonhador nato desde pequeno, Designer Gráfico por formação e sempre empenhado em salvar o reino de Hyrule. Produtor de Eventos e CEO da Host Geek, vem lutando ano após ano para trazer a sua terra toda a experiência geek que ela merece.