Crítica | A Luz do Demônio (Prey for the Devil)

Nota
3

“Era aquela coisa dentro dela. Ela estava possuída.”

Irmã Ann é uma freira-enfermeira que trabalha em um extremamente tecnológico hospital psiquiátrico católico, onde médicos e padres analisam supostos casos de possessão para julgar se os pacientes devem ser submetidos a rituais de exorcismo ou só tratados pela ciência. Essa mesma instituição abriga uma escola de exorcismo , onde jovens padres aprendem sobre o ritual e estudam casos passados para se especializar na prática, um oficio que só pode ser desenvolvidos por padres, visto que a Igreja Católica proíbe essa pratica às mulheres, até que a irmã Ann resolve quebrar as regras.

Se você já assistiu séries como The Good DoctorHow to Get Away With MurderQuântico, e algumas outras, já deve estar familiarizado com o estilo de produções que foca em alunos aprendendo um oficio guiados por um professor extremamente competente e atuando sob supervisão para mostrar seu potencial, sempre com alunos improváveis mostrando destaque. É basicamente essa proposta que o longa de Daniel Stamm, uma mistura de hospital escola com utopia tecnológica e um terror de exorcismo, tudo isso com uma cobertura de representatividade, muito conteúdo que, claramente, não conseguem ser igualmente focados e desenvolvidos, deixando alguns deles a desejar, ou melhor, deixando a desejar justamente no principal deles: o terror. Irmã Ann é uma protagonista maravilhosa, sua jornada é densa e significativa, e o filme consegue criar plot twists que só enriquecem sua evolução, mas talvez o erro do longa tenha sido se enveredar para o caminho do terror ou ter se dedicado tanto a fortalecer suas outras características, o filme em si funciona muito mais como um drama de aventura focado na busca de uma freira por mudar a realidade em que vive, o que poderia ser feito sem levar muito em consideração a veia de terror ou poderia ter sido substituído por uma forma mais tênue de exorcismo, sem muita espetacularização.

Interpretada por Jacqueline Byers, a freira começa a trama expondo seu passado sombrio, quando viva com uma mãe diagnosticada com esquizofrenia e depressão, mas que ela acredita na verdade ter sido possuída. O passado de Ann é o que impulsiona a garota para o lado da religiosidade, que a guia para um caminho tortuoso em sua adolescência e que acaba a forçando a fazer certas escolhas e entrar pra o convento. O presente de Ann começa a mudar no momento em que, como era de se esperar, o demônio que possuiu sua mãe acaba chegando na instituição em que Ann está vivendo, possuindo pacientes, atormentando suas noites e se apoderando de Natalie (Posy Taylor), uma paciente com a qual Ann cria uma conexão. Ao lado de Ann, acabamos conhecendo Padre Quinn (Colin Salmon), o tutor que começa a enxergar a existência de uma dívida demoníaca no passado de Ann, que decide instruir a moça no exorcismo na esperança de dar armas para que ela se proteja e proteja àqueles ao seu redor. Outro aliado de Ann é o Padre Dante (Christian Navarro), um jovem estudante de exorcismo que tem uma admiração e amizade por Ann e que acaba se aliando a ela na luta por provar suas teorias e entender o funcionamento do processo de possessão e as conexões do caso de Natalie com o da sua mãe.

Cheio de potencial no roteiro mas num gênero que não o valoriza, A Luz do Demônio tem uma protagonista carismática e alguns sustos, mas se perde ao se apoiar apenas nos clichês dos filmes de exorcismo, não querer criar uma identidade própria e muito menos saber o momento de desistir do terror para seguir uma atmosfera que valorize sua trama. Talvez até a escolha de tratar Ann como uma ‘super-freira’, numa luta épica e heroica contra um demônio que a persegue, tenha sido um dos pontos que cooperou com a fuga que o enredo teve em relação ao gênero, dando ênfase demais na luta de Ann por ser a primeira freira exorcista da história (algo que é muito bom para o filme e que inclusive é refutado no ato final do filme) e deixando de lado toda a aura demoníaca e assustadora do longa, dando exagero em excesso nas cenas de possessão, com excesso de CGI, fantasia e efeitos práticos. Talvez o que mais incomoda no filme seja justamente por que, quando se vai assistir a um filme de terror, tudo que esperamos é ter sustos, jumpscares, credibilidade, clima e trilha envolvente, mas A Luz do Demônio não nos entrega isso, deixando ao final uma pequena frustração. A melhor recomendação antes de assistir esse filme é, com toda a certeza, ir preparado para uma trama um tanto moralista, religiosa e com um enredo que não deve ser muito levado a sério.

“Você quer tentar um exorcismo não autorizado?”

 

Sonhador nato desde pequeno, Designer Gráfico por formação e sempre empenhado em salvar o reino de Hyrule. Produtor de Eventos e CEO da Host Geek, vem lutando ano após ano para trazer a sua terra toda a experiência geek que ela merece.

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