Nota
“Os bruxos sempre existiram. Bruxos das Sombras e Bruxos da Luz…”
Nathan Byrne poderia ser só mais um bruxo comum em sua comunidade, filho de uma Bruxa da Luz, neto de uma Bruxa da Luz, irmão de uma Bruxa da Luz, mas sua vida foi marcada desde antes do seu nascimento, seu pai é Marcus Edge, o mais temido Bruxo das Sombras vivo, e suas origens se perderam quando sua mãe foi assassinada, o que fez ele e sua irmã ser criados por sua vó. Apesar de Esmie criar seus dois netos sem distinção, Nathan cresceu sendo rejeitado pela comunidade bruxa e, principalmente, por sua irmã, Jéssica, que sofria por ser a irmã de um Bruxo das Sombras e projetava essa raiva no irmão menor. Lutando contra suas origens, Nathan está cada vez mais perto de completar 17 anos (idade em que um bruxo desperta seus dons e se torna um Bruxo da Luz/das Sombras por completo), acabou de se apaixonar por Annalise O’Brien, a filha de um dos membros do Conselho dos Bruxos da Luz, e precisa aprender como sobreviver, se entender e, principalmente, despertar seus poderes e descobrir seu papel como parte de uma grande profecia.
Livremente baseado na famosa trilogia de Sally Green, a série de Joe Barton muda várias das abordagens presentes no livro, aproveitando seu esqueleto e preenchendo com seu próprio ponto de vista da história, para construir uma produção que consegue ser madura o suficiente mesmo ao lidar com uma temática mais juvenil. Com oito episódios de cerca de 50 minutos, a trama não descarta o clichê sexo, drogas e romance, extremamente comum às séries juvenis, mas consegue criar uma harmonia do tom juvenil com sangue, mortes, e uma backstory extremamente envolvente, que a faz parecer uma ótima série para jovens adultos e até surpreende pela forma, sem darmos nada pela série, ela consegue fazer tudo que Fate A Saga Winx não conseguiu fazer, e ouso dizer que até melhor. O amadurecimento de Nathan e Annalise tomam muito do tempo de tela, pela forma antagônica que existe na evolução dos dois, temos de um lado um Bruxo das Sombras que quer se encaixar e do outro uma Bruxa da Luz que tem medo dos seus poderes, o que os une ainda mais e os coloca ao lado de Gabriel Boutin, um Bruxo das Sombras cheio de dilemas que acaba tendo que encarar seu passado sombrio pra ser capaz de ajudar Nathan.
Interpretando Nathan, Jay Lycurgo (que já ficou conhecido pelo público ao viver Tim Drake em Titans e por sua participação em The Batman) entrega uma das melhores atuações do show, cheio de camadas, medos, incertezas e inseguranças, ele consegue expressar toda a complexidade que é a mente de um garoto que não aceita quem realmente é, que cresceu numa comunidade que o odeia e passa a ter medo quando percebe que realmente é um Bruxo das Sombras, existe um dilema interno entre assumir sua realidade e vingar a morte de sua mãe e sua avó, de colocar pra fora toda a raiva pela forma como os outros Bruxos da Luz o tratam, e de não querer se tornar alguém do mal, de não ter coragem de se tornar um bruxo comedor de corações. Jay entrega uma evolução palpável para Nathan, passando pelos dilemas de identidade, de motivação e até pelos dilemas amorosos. Nadia Parkes como Annalise é um pouco agridoce, a atriz entrega bem toda a carga necessária para os dilemas da sua personagem, todo o peso de ser uma Bruxa da Luz cujo poder é desintegrar as pessoas, mas seus dilemas além do interno ficam mornos, o dilema amoroso, sua busca pela verdade e até seus ‘daddy issues’ não conseguem evoluir bem no decorrer da trama, a atriz sabe sustentar o dilema inicial, mas se perde quando mais dilemas começam a ser adicionados à equação. Já Emilien Vekemans rouba a cena com seu Gabriel, um Bruxo das Sombras com o dom da alquimia, ele acaba sendo abandonado por seus pais quando criança e passa a ser criado por Mercury, uma insensivel feiticeira que o deixa cheio de traumas, agora ele recebe a missão de ajudar Nathan a encontrar Mercury, uma missão de vida ou morte e que acaba se complicando a medida que Gabriel começa a se apaixonar pelo jovem bruxo mestiço.
Intenso e inesperado, O Filho Bastardo do Diabo mostra que nem tudo é tão preto no branco quando o assunto é bem e mal, nos mostrando as vulnerabilidades dos Bruxos das Sombras e a tirania dos Bruxos da Luz como perfeito contraste entre a realidade pratica e o conceito existencial de cada lado da magia, dando a maturidade ideal para o funcionamento da produção e uma base perfeita para a densidade de seus personagens. Por conseguir transitar tão bem entre dois gêneros, não é de se espantar que a série tenha rapidamente ocupado o primeiro lugar na lista das 10 séries mais assistidas na semana de seu lançamento e estreado com uma classificação de 100% no Rotten Tomatoes, mas sua fome por aprofundar seu protagonista talvez tenha sido seu maior pecado, a final a série explorou demais a trama de Nathan e deixou muito a desejar nas tramas de Annalise, Gabriel, Mercury, Ceelia e Soul, construindo uma expectativa tão grande em volta do seu grande ‘antagonista’ (Marcus) para nos decepcionar com sua apresentação precária e superficial, deixando muitas pontas soltas para uma possivel segunda temporada e uma sensação de queda de qualidade nos últimos episódios da produção.
“O próprio sangue matará o Lobo”
Icaro Augusto
Sonhador nato desde pequeno, Designer Gráfico por formação e sempre empenhado em salvar o reino de Hyrule. Produtor de Eventos e CEO da Host Geek, vem lutando ano após ano para trazer a sua terra toda a experiência geek que ela merece.