Nota
“Isso só pode ser coisa de… Vivos!”
Nas profundezas do Egito, metros abaixo da superfície, está o Mundo do Além, uma cidade habitada por múmias há pelo menos 3 mil anos. Essa milenar civilização é governada pelo Faráo, que ordena o inicio do ritual de invocação da Ave Fênix de Háthor para escolher um futuro marido para a Princesa Néfer, um ritual que acaba sendo interferido por um acidente que faz a realeza acreditar que o grande escolhido é Thut, um ex-condutor de bigas que abandonou seu oficio após um trauma e vive de sessões de autógrafos e da sua fama. Como o ritual manda, cabe a Thut guardar a antiga aliança da família real durante sete dias, quando o casamento deve ocorrer, e quando ele será condenado a perda dos olhos e da língua caso perca o item ou rejeite a Princesa. No Mundo dos Vivos, Lord Silvester Carnaby encontra a entrada para o Mundo do Além e rouba o anel, o que faz com que Thut precise se unir com a Princesa, com seu irmão de oito anos Sekhem e seu crocodilo bebê Croc para percorrer as ruas de Londres e recuperar o anel, só não esperavam ter uma aventura capaz de mudar a vida do trio.
Depois do bem sucedido No Mundo da Lua e de As Aventuras de Tadeu, os roteiristas Jordi Gasull e Javier López Barreira se unem novamente para uma trama sem muita inventividade mas mirando incisivamente em um publico alvo. Trazendo uma narrativa simples e explorando um universo que permite inúmeras possibilidades, o longa pode ser uma bela oportunidade à Warner Bros. investir em novas produções que se passem no mesmo universo e possam ser realmente criativas. Estreando no papel de diretor, Juan Jesús García Galocha se mostra confortável trabalhando com uma animação voltada unicamente para o publico infantil, entregando uma trama que se apoia em seus personagens caricatos e na previsibilidade para entreter, algo que infelizmente não vai capturar o publico mais velho e pode ser um dos grandes problemas do filme (afinal as crianças não vão ao cinema sozinhas ver o filme).
Thut é divertido, imaturo e egoísta de diversas formas, talvez por isso seja tão dificil se conectar com o personagem e se agradar dos rumos que o personagem vai tendo no decorrer da trama, algo que só piora pelo fato de tudo sobre ele ser clichê e mal embasado, só se salvando realmente por conta das tiradas engraçadas e situações divertidas que se desenrolam com ele durante a trama. Néfer por outro lado consegue ser um pouco mais interessante, a Princesa vive carregando o peso do dever e das suas obrigações, algo que a impede de viver seu sonho de ser cantora e ser feliz, mas a chegada a Londres parece abrir novos horizontes para a Princesa, que acaba indo parar no meio de uma apresentação de Aida e sendo descoberta por Ed, um desesperado produtor musical.
A verdadeira graça do longa fica a cargo de Sekhem e Croc, uma dupla doce e divertida que nos cativa com sua maturidade e com a genuína inocência das crianças, que rapidamente se adapta a Londres e se conecta facilmente com Ed, deixando seu desenvolvimento ainda mais interessante. O antagonismo da trama fica a cargo de Lord Carnaby, um vilão que traz situações absurdas à tela e chega perto do surreal quando o assunto é seu desenvolvimento, ele consegue descobrir da forma mais conveniente possivel o Mundo que existe há milênios e ter um acesso facílimo a tudo que lá vive, algo que pode até ajudar nas reviravoltas do filme, mas só enfraquecem o roteiro. A função de assistentes idiotas fica com Danny e Dennys, que surgem como alivio cômico da trama e ficam apenas coadjuvando no enredo, sem evoluções notáveis e nem muita relevância para o desenrolar do enredo.
Colorido e bagunçado, As Múmias e o Anel Perdido perde ao não ter um significado ou uma moral clara, o que supera a falha de ser nichado demais e prejudica a proposta do longa. Com uma trilha original interessante, um visual chamativo e um estilo de animação caricato, a animação espanhola acerta ao entregar diversão genuína ao seu público alvo e preencher seus 90 minutos de forma precisa para o publico infantil, mas poderia melhorar se investisse em uma história com menos clichês, personagens melhor construídos e uma mensagem moral verdadeiramente sólida. A bagunça pode divertir, mas talvez o mérito do filme seja de abordar outras questões além de sua trama, como despertar o interesse das crianças no Egito Antigo, leva-los a imaginar como seria cruzar com uma múmia na rua ou entrar em uma passagem que levasse para aquela época, ou até criar um interessante em desenvolver esse universo com a criação de uma série animada focada na vida no Mundo do Além.
Icaro Augusto
Sonhador nato desde pequeno, Designer Gráfico por formação e sempre empenhado em salvar o reino de Hyrule. Produtor de Eventos e CEO da Host Geek, vem lutando ano após ano para trazer a sua terra toda a experiência geek que ela merece.