Review | The Handmaid’s Tale [Season 2]

Nota
5

NOLITE BASTARDES CARBORUNDORUM

No universo de The Handmaid’s Tale, as mulheres férteis são propriedades do governo e usadas unicamente para a procriação (lê-se: servidão sexual), elas são denominadas de Aias. Como uma das poucas mulheres férteis, Offred (interpretada por Elizabeth Moss) é uma Aia e vive entre comandantes, senhoras e servos cruéis e a única coisa que ela almeja é: sobreviver para salvar sua filha, que está desaparecida e foi tomada dela. Porém, sobreviver sozinha não é uma escolha.

Se a primeira temporada desta série teve uma construção quase que impecável — e aqui incluo: fotografia, trilha sonora e roteiro —, a segunda temporada superou as expectativas da crítica. Se antes o telespectador sentiu falta de um aprofundamento em algumas questões levantadas — e é até aceitável que, no início, a série ficou apenas na ponta do iceberg —, não se pode haver mais reclamações nesse sentido. Mais que aprofundamento, agora temos cenas angustiantes, silêncio predominante (afinal, estamos vendo a história através dos olhos de uma Aia) e medo constante.

Nesta sequência, vemos mais precisamente a construção de Gilead, as mulheres perdendo seus direitos pouco a pouco, o fanatismo religioso e o patriarcado criando suas raízes, a criminalização da comunidade LGBTQI+, tudo isso mostrando uma realidade mais próxima do que nunca, se observarmos o mundo que nos cerca.

Mais uma vez, a Elizabeth Moss dá um show de atuação, muitas vezes em cenas que não há falas, mas, mesmo no silêncio, conseguimos sentir/entender o que ela está nos mostrando e chegando até a carregar alguns episódios sozinha. A Yvonne Strahovski, interpretando Serena Joy, também garantiu um destaque nesta segunda temporada. A atriz nos entregou uma personagem complexa e cheia de conflitos internos. A dúvida que fica é: toda essa inquietude em relação à ditadura de Gilead, fará a personagem mudar sua maneira de pensar? — principalmente se observamos que ela era uma mulher ativa na sociedade e calou-se, dando, consequentemente, voz ao seu marido, atual comandante. E há o Joseph Fiennes (Fred Waterford), que foi o protagonista de algumas das piores cenas desta temporada. Vendo as cenas pelo lado técnico, foi uma excelente atuação, beirando muito a realidade. Pelo lado real das cenas, causou, no mínimo, os piores sentimentos nos telespectadores. Mais que um comandante, Fiennes nos mostrou um personagem que se sentia ofuscado pelo “poder” e “conhecimento” da esposa e se aproveitou do silêncio dela.  Sem dúvidas, um destaque masculino na trama.

Um dos pontos mais levantados nesta temporada foi a falta de união das minorias e o quanto isso foi um fator determinante para a implementação do golpe. Além disso, ressaltou a união masculina e o quanto esses ditadores dão uma falsa sensação de poder às suas esposas. A diferença agora é que algumas conseguem não só sentir, mas ver isso claramente. O que faltou/falta é sororidade. Porém, uma coisa é certa: nem tudo está perdido. Principalmente se isso deixar de ser apenas uma palavra bonita e começar a ser praticado pelas minorias prejudicadas por Gilead e seus ditadores.

 

https://youtu.be/HjLcTbNeYsU

Universitário, revisor. E fotógrafo nas horas vagas.

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