Crítica | Através da Minha Janela (A través de mi ventana)

Nota
3

“- Sabe que o mundo não gira a sua volta, né?
– O mundo talvez não… Já você…”

Tudo começou com uma senha de wi-fi. Raquel Mendoza é uma garota humilde que tinha uma vida comum até sua vizinha se receber um império da Mansão Hidalgo, a casa onde habita Artemis, Ares e Apolo Hidalgo, os três irmãos donos da Alpha 3, uma das empresas mais influentes do país. Com um estilo de vida completamente diferente do dela, Ares acaba chamando sua atenção e roubando seu coração, mas será que ela vai ser capaz de ser notada pelo rapaz frio que vive em um mundo completamente diferente do seu? Quando o acaso acaba unindo os dois, a garota humilde e um dos donos da empresa cuja sede é o edifício mais famoso de Barcelona se veem envolvidos em uma trama de desejo e amor.

Existe um ditado que fala que “um raio não cai duas vezes no mesmo lugar”, e depois que E. L. James fez sucesso ao transformar uma fanfic de Crepusculo na saga Cinquenta Tons, ninguem poderia prever que o fenôme se repetiria alguns anos depois com Anna Todd ou Ariana Godoy. Ariana, que lançou seu primeiro livro no Wattpad (famosa plataforma de fanfics), que alcançou 250 milhões de visualizações e se tornou um sucesso ao ponto de seu livro, mesmo antes de ser lançado por alguma editora, chegar à Netflix. Com direção de Marçal Forés e roteiro de Eduard Sola, o filme espanhol é um romance erótico que rapidamente causou um estrondo no streaming, ele traz elementos de drama adolescente que equilibram com os elementos picantes do conteúdo sexual do longa, envolvendo o público com um enredo bem planejado ao mesmo tempo que chama atenção com as frequentes cenas quentes, pegando bem facilmente o publico alvo que está na transição da adolescencia para a vida adulta.

Apesar de ser o centra narrativo da trama, a Raquel de Clara Galle consegue se desenvolver de forma intencionalmente discreta, o foco da história não é Raquel e sim Ares, e é justamente por isso que a atriz recebe a missão de guiar toda a narrativa sem ser expansiva, ela esconde muito bem sobre os fantasmas e segredos de Raquel, de forma que toda a história gire em torno da forma que Ares age com ela, mas isso não significa que Galle não atue bem, ela consegue mostrar toda a sua competencia mesmo ao evoluir de forma discreta, ela é a mocinha indefesa que cai nas armadilhas de Ares ao mesmo tempo que parece saber o que está fazendo. O contraponto da trama é o Ares de Julio Peña, o típico homem perfeito que encontramos em fanfics com um plus do clichê dos homens perturbados sexualizados e redimidos que se une a Christian Grey e Massimo Torricelli, apesar de o personagem ser um grande problema junto com a narrativa abusiva, o ator chama a atenção ao desempenhar de forma elogiavel o papel duvidoso, ele se entrega e mostra sua capacidade, deixando no ar uma duvida se devemos ou não gostar de Ares e Peña. Outros grandes pontos da trama são a misteriosa Claudia (Emilia Lazo), que se prova cheia de camadas mas não as descama, o que deixa uma bela brecha para uma sequencia focada nela (que convenientemente é a trama de Através de você, o segundo livro escrito por Godoy); e o excentrico Yoshi (Guillermo Lasheras), o melhor amigo de Raquel e que entre flertes a apoia em todo momento, chamando a atenção para si sempre que aparece em tela.

Um claro romance teen trash, clichê e previsível, Através da Minha Janela até tem uma história interessante, mas ainda está preso às classicas amarras das fanfics que são habitadas por encontros ao acaso, meninas timidas e indefesas e homens poderosos e perfeitos, fica claro a cada cena o padrão que deixa sempre aquele ar de “parace com tantas outras histórias que eu já vi”. Com tudo acontecendo de forma aléatoria e numa velocidade duvidosa, o filme traz algumas reviravoltas mas nada que cause surpresas, lembrando um pouco o padrão de Barraca do Beijo, e a cenas de sexo muito bem feitas, que somado às escolhas de paleta (o filme começa com cores sombrias e vai transitando para cores mais vivas) entregam uma estetica bonita, que faz até as cenas picantes não incomodarem. Apesar de Ares ser um personagem que incomoda a alguns espectadores (assim como a redenção dele é conveniente demais para o roteiro), é possivel notar uma atitude que separa Raquel dos clichês como Bella, AnastasiaElle, dando um ar provocativo que dificulta que ela caia no cliche chato e sem graça de alguns outros romances adolescentes. A produção não é inovadora, então pode-se dizer que é uma boa opção para assistir em um dia de tédio (de preferencia não na sala ou perto dos seus familiares), ele não vai marcar sua vida, mas consegue entreter uma tarde de ocio.

 

Sonhador nato desde pequeno, Designer Gráfico por formação e sempre empenhado em salvar o reino de Hyrule. Produtor de Eventos e CEO da Host Geek, vem lutando ano após ano para trazer a sua terra toda a experiência geek que ela merece.

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