Review | Cidade Invisível [Season 2]

Nota
3.5

“Desejo mais que tudo que você traga meu pai de volta!”

Mais de dois anos se pasaram desde o desaparecimento de Eric, o que fez sua filha, Luna, e a Cuca se mudarem para perto de Belém do Pará, onde sentiam existir uma forma de trazê-lo de volta à vida. Depois de encontrar com Matinta Perê, Luna faz um acordo que faz com que Eric ressurja perto da entrada do Marangatu, um santuário natural protegido por indígenas e procurado por garimpeiros. Eric logo acaba percebendo que Belém do Pará é uma região habitada por um grupo de Entidades que ele não conhece, e onde Luna precisa cumprir uma missão que impede o trio de voltar para o Rio de Janeiro imediatamente, mas, ao mesmo tempo que tenta proteger sua filha, sua presença na região começa a ameaçar o delicado balanço que existe entre a natureza e as entidades.

Depois de uma primeira temporada que investiu pesado no resgate cultural de tradições populares brasileiras, a segunda temporada de Cidade Invisível começa a corrigir um dos erros mais criticados (não usar como cenário o norte ou o nordeste, onde o folclore é muito mais rico) e muda toda a sua trama para uma cidade da região norte do Brasil, mostrando o comprometimento de Carlos Saldanha em fortalecer a bagagem cultural do show e sua melhor aceitação. Deixando de lado grande parte do seu elenco, a trama se concentra em manter os três personagens de maior destaque e povoar a tela com toda uma nova gama de Entidades, aproveitando a mudança de região e a evolução da trama para oferecer novos poderes para Eric e novos personagens com todas as suas camadas. Saldanha mostra disposição ao remediar o erro de transportar as lendas para as terras cariocas, mas esquece de dar uma justificativa realmente embasada do motivo de só Matinta poder ressucitar Eric ou de Eric ressuscitar às margens do Marangatu, fazendo tudo parecer conveniencias do roteiro. Por outro lado o showrunner acerta ao trazer para tela debates sobre a exploração ambiental e as questões indígenas e até em adornar a trama com um elenco muito mais adequado, composto grandes atrizes nativas.

Marco Pigossi se destaca em tela, comandando o show com toda a densidade que seu personagem ganha ao voltar depois do seu desaparecimento, a incredulidade e o pé no chão que o personagem tinha no primeiro ano somem completamente, agora ele acredita nas Entidades e, mesmo que continue lutando contra suas origens e sua missão, ele começa a enxergar seus poderes, que não entende e nem sabe como controlar. Alessandra Negrini continua sendo uma Cuca maravilhosa, roubando a tela em todas as suas aparições sem deixar de saber dividir a tela nos momentos certos, algo que se mostra extremamente necessário com a chegada de uma Letícia Spiller quase irreconhecivel no elenco, que se torna outra potencia autoritaria e segura de si encarnando Matinta Perê, deixando claro que as duas bruxas são extremamente poderosas, respeitosas e capazes de liderar seus respectivos grupos. Apesar de mostrar uma clara evolução, Manu Dieguez (Luna) não tem a capacidade real de carregar a trama em suas costas, não se destacando em tela e enfraquecendo o enredo, que se baseia completamente em sua presença como chave para solucionar todas as problematicas. O exato oposto do efeito que Kay Sara tem, interpretando a promotora Telma Dyorá, filha da Pajé e defensora das terras nativas, a atriz tem pouco tempo de tela e poucas linhas de dialogo, mas consegue ser imponente e exaltar a valorização dos povos nativos, sendo um ponto chave na trama pessoal de Cobra Caninana e na revelação dos segredos de Honorato/Cobra Norato.

Zahy Guajajara no papel de Débora/Cobra Caninana encarna uma vilã palpavel, o seu desenvolvimento é solido e vamos pouco a pouco conhecendo os poderes da mulher cobra enquanto somos instigados a querer saber seus objetivos. Tomás de França como Bento/Menino-Lobo explora uma versão muito mais complexa do Lobisomem, colocando a Entidade como uma criança que teme seus poderes e que se vê aprisionado à sua maldição, desenvolvendo de forma dolorosa sua história, seu instinto e sua personalidade. Tatsu Carvalho no papel de Castro é discreto, ele nos deixa sem muita informações e constroi seu personagem ao fundo da trama, sem roubar a tela e sem deixar que sua presença passe batida, criando um vilão secundario forte e pronto para seguir a dinamica a que se propõe. Simone Spoladore como Clarice é outra construção inteligente, o roteiro sabe esconder sua identidade como Entidade tempo suficiente para tornar a revelação eficiente, escondendo aspectos de sua personalidade e seu passado ao ponto de a evolução da sua personagem acontecer na frente dos nossos olhos sem que a gente perceba, e que a nossa descoberta acontece bem no apice de seu trabalho, que mesmo assim continua em crescendo para superar sua evolução.

Atarefada e dedicada, a segunda temporada de Cidade Invisível se perde ao tentar manter a continuidade enquanto cria sua trama, ela propõe duas tramas que prometem o tempo todo se cruzar, com um lado focado na busca por Marangatu e o ouro que ele esconde e o outro na busca de Eric e Luna por ficar juntos e voltar a sua vida normal, mas o grande problema é que as tramas não se conectam naturalmente e a trama de Marangatu parece muito mais interessante e dotada de autonomia para guiar a série. Se a primeira temporada explora o sofrimento de ser uma Entidade, com os seus membros sendo humanos que foram transformados, a segunda temporada atinge uma dualidade agridoce, agradando o público ao ser fiel apresentando Entidades que nasceram com seus poderes e errando ao fazer as Entidades verem seus poderes como uma maldição, algo que vai totalmente contra a proposta da série: celebrar o poder da natureza. Com miseros cinco episódios de cerca de 30 minutos, a série não tem tempo para fazer o processo completo de apresentar, aprofundar e explorar os segredos de seus novos personagens, deixando de explorar um elenco mais interessante e ôrganico para forçar uma evolução nos personagens da temporada anterior que não tem mais o que adicionar.

“Eu sou a Mula, e a Mula sou eu.”

 

Sonhador nato desde pequeno, Designer Gráfico por formação e sempre empenhado em salvar o reino de Hyrule. Produtor de Eventos e CEO da Host Geek, vem lutando ano após ano para trazer a sua terra toda a experiência geek que ela merece.

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