Crítica | O Exorcista: O Devoto (The Exorcist: Believer)

Nota
3

“Proteja ela!”

Victor Fielding é um fotografo e vive profundamente feliz ao lado de sua esposa, Sorenne, que está gravida da filha do casal. Mas ao viajar a Porto Principe, eles acabam vivendo o desespero de um terremoto que coloca Sorenne em risco de vida, num parto onde morre para salvar sua filha. Treze anos depois, Angela é uma garota plena, feliz e bem criada, vivendo sozinha com seu pai, mas algo ainda a perturba.  Uma certa tarde, ela resolve adentrar a floresta próxima à escola com sua amiga  Katherine, uma jornada para fazer um rápido jogo espiritual para invocar o espírito de Sorenne e que acaba não dando exatamente certo. Angela e Katherine desaparecem por três dias e retornam totalmente diferentes, carregando dentro de si uma entidade demoníaca poderosa, pronta para assombrar as famílias das duas garotas.

Desde seu lançamento, em 1973O Exorcista ganhou quatro sequências e uma série, uma série de produções que tentou explorar de todas as formas as consequências dos eventos em volta do exorcismo de Regan MacNeil, mas, em agosto de 2020, a Morgan Creek Productions decidiu ressuscitar a franquia e explorar uma nova visão de sequência, foi assim que nasceu a nova trilogia do Exorcista, que parece seguir os passos de Halloween, revivido sob a direção de David Gordon Green assim como esse filme, e reviver o espírito da nostalgia trazendo uma sequência direta do filme original e ignorando as sequências. O Devoto é um filme relativamente interessante, ele apresenta uma premissa sólida, mas peca principalmente em seu desenvolvimento. Com uma cinematografia que claramente lembra elementos das franquias Invocação do Mal Evil Dead, o longa apresenta uma base que pode ser usada para explorar vários caminhos do enredo, mas ele erra ao querer explorar todos eles ao mesmo tempo. Não da para entender se estamos vendo um filme sobre possessão, um filme que critica o ceticismo que existe dentro da Igreja Católica, um filme que deseja exaltar a união religiosa de diversos credos ou um filme que fala sobre a luta de um pai para resgatar sua filha, literalmente todos esses discursos são encontrados no filme, e todos eles são mal explorados.

Controlando o volante do filme está Leslie Odom Jr., interprete de Victor, um pai dedicado apesar de extremamente cético, é ele quem vai conduzindo o roteiro e garantindo as reviravoltas e desdobramento que o roteiro vai criando, talvez seja o verdadeiro protagonista do longa apesar de ser preciso detalhes futuros para confirmar algumas teorias. Victor está sempre lutando pela sua filha e acaba tendo mais tempo de tela por sua jornada, é ele quem tem a missão de trazer Ellen Burstyn para o longa, revivendo sua personagem nas telonas. Falando em Burstyn, sua presença na produção parece mais fanservice do que realmente necessária, Chris MacNeil pode ser uma peça importante para que Victor comece a acreditar na possessão, mas o filme apresente elementos suficientes para deixar claro que a sua presença não era obrigatório para esse objetivo, o simples uso do nome de Chris era suficiente para situar o filme no mesmo universo e criar as mudanças de pensamento do pai. Outro nome subaproveitado no longa é o de Okwui Okpokwasili, que surge no longa no papel da Doutora Beehibe, uma médica que se enveredou nas artes de curandeira e que possui uma presença forte no decorrer do longa, apesar de ser extremamente mal aproveitada no decorrer da evolução da trama. As atuações de Lidya Jewett (Angela) e Olivia O’Neill (Katherine) são gratificantes, as duas conseguem encarnar muito bem o papel de possuídas, num nível que podemos facilmente comparar com a dedicação de Linda Blair em 73, a maquiagem e o gestual vai transformando a personalidade das meninas de uma forma palpável, da pra sentir a transformação delas acontecendo gradativamente e de forma discreta, assim como é possivel enxergar o demônio na versão final que elas chegam, infelizmente o roteiro estraga todo esse potencial ao querer incluir referências demais ao filme de 73 ao invés de se dedicar em criar sua própria identidade, essa última soando exagerada ao ponto de ser difícil o público comprar a proposta.

Tenso e cheio de sustos, O Exorcista: O Devoto tem um começo interessante mas não sabe se manter até o final, ele acaba se dedicando demais em homenagear o filme de 1973 ao ponto de esquecer de construir sua própria história de forma eficiente. Não se pode negar que o filme sabe criar uma atmosfera que nos relaxa e nos deixa entregue para as cenas de susto, mas não parece digno de ser a continuação do clássico de 73, mesmo que não seja um filme de todo ruim. Talvez a escolha de trazer duas crianças possuídas tenha impedido de explorar mais a fundo toda a trama da possessão, ou talvez o problema tenha sido querer construir uma figura de especialista em Chris MacNeil e passar a mensagem de que todos podem fazer um exorcismo, deixando os clichês de lado, o que poderia ser bem-vindo quando tratado de outra forma, em detrimento da Igreja Católica, que é o padrão dos exorcismos nos filmes. Padre Maddox não nos captura, ele parece perdido demais na trama e inexperiente demais para assumir o papel do grande exorcista do longa, uma escolha proposital para reforçar o discurso do longa, mas que não agrada frente ao padrão que pode até ser quebrado mas acabou sendo completamente destroçado.

“Está procurando a Regan?”

 

Sonhador nato desde pequeno, Designer Gráfico por formação e sempre empenhado em salvar o reino de Hyrule. Produtor de Eventos e CEO da Host Geek, vem lutando ano após ano para trazer a sua terra toda a experiência geek que ela merece.

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