Crítica | Hypnotic – Ameaça Invisível (Hypnotic)

Nota
2.5

“Por que eu? Por que minha filha?”

Danny Rourke é um típico detetive do Departamento de Polícia de Austin, mas ele passou recentemente por um evento traumático: sua filha de sete anos, Minnie, foi sequestrada há três anos enquanto estava com ele em um parque, um evento que o destruiu por dentro e deteriorou seu casamento, mas chegou o momento de ele voltar à ativa. Junto de seu parceiro, Nicks, Danny precisa lidar com uma misteriosa série de roubos a banco sem explicação, e uma ligação anônima avisou qual será o próximo banco a ser roubado e qual o cofre alvo dos assaltantes, Danny só não esperava que, ao tentar se adiantar e pegar o conteúdo do cofre antes do assaltantes, encontraria apenas uma foto de Minnie com a mensagem “Encontre Lev Dellrayne” escrita nela. Puxado para o centro de uma gigantesca batalha psicologica com um poderoso hipnótico, Danny precisa entender qual a conexão de sua filha com um programa secreto do governo e por que esses assaltos ultra-elaborados estão acontecendo, tudo isso apenas com a ajuda da mulher que fez a ligação anônima, a cartomante Diana Cruz.

Tudo começou em 2002, quando Robert Rodriguez escreveu o roteiro inicial de uma de suas histórias favoritas, mas foi só a partir de 2018 que Hypnotic começou a ser produzido, com Rodriguez assumindo a direção e escrevendo o roteiro final ao lado de Max Borenstein (grande nome por trás dos roteiros do MonsterVerse da Legendary Pictures). Com uma premissa bastante interessante, apesar de complexa, o filme começa capturando nossa atenção e nossa curiosidade, mas rapidamente começa a tomar rumos duvidosos com jogos mentais que lembram muito uma versão indie de X-men que lembra muitos elementos de Doutor Estranho, AmnésiaMatrixA Origem e até da série 1899, mas que vai, pouco a pouco, perdendo a atenção do público, perdendo a consistencia de roteiro e tomando rumos previsiveis, uma sensação de amargor que dura até antes do penultimo ato, momento em que o roteiro dá uma enorme virada e toda a trama ganha um novo folego, tudo começa a ficar interessante novamente, toda a história começa a se tornar mais plausivel e até os elementos perdidos do decorrer do longa começam a ganhar justificativa, mas é arriscado demais construir uma história morna unicamente para sustentar uma crescente em seu final, mesmo que o filme ainda consiga dar outra virada surpreendente em seu ato final e mostre que Robert está ciente do quanto os diversos plot twists podem engrandecer a conclusão do enredo, ele se prejudica pela forma como perde o público em seu meio.

Protagonizando o longa como Danny, Ben Affleck assume aquele tipico papel do protagonista antipatico que foi puxado para o centro de uma trama perigosa, ele luta, ele corre, ele precisa se provar, mas ele não consegue trazer carisma para o desenrolar da trama, desde a primeira cena ficamos sentindo que tem algo estranho na história do sequestro de Minnie, mas a introdução do antagonista como culpa ainda não se torna suficiente para calar essa sensação de que tudo tem haver com Danny. A introdução destrambelhada de William Fichtner como Dellrayne pode até descer guela abaixo, mas toda a trama de um vilão conhecido pelo alto poder de hipnose, tornando tudo mais imprevisivel quando ele se revela capaz de moldar a realidade e se misturar com as recriações do cérebro, fica forçada no contexto, e algumas revelações que surgem no meio do filme acabam se tornando convenientes demais para o desenrolar da obra, mesmo que tudo seja justificado com o final surpreendente. Alice Braga prova que foi feita para Hollywood com sua Diana, ela funciona no papel mesmo sem que o filme precise aprofundar sobre o background da sua personagem, ela surge como mentora e guia do público e de Danny e funciona, ela se transforma no decorrer do filme e funciona, mas o que não funciona muito bem é o roteiro em que ela está inserida.

Complexo e controverso, Hypnotic tem uma premissa interessante, mas não sabe sustentar a proposta por muito tempo. Seu roteiro previsivel e a forma como perde a atenção do público prejudicam o desenvolvimento do filme, os personagens mal trabalhados e falta de certos desenvolvimentos de background empobrecem a evolução do elenco como um todo, fica chato enxergar o vilão surgir desde as primeiras cenas e depois viver uma caçada cansativa que gera mais perguntas do que respostas, a construção do personagem de Affleck se torna irreal em vários momentos, tudo isso parece bater contra o básico: filmes que mexem com a realidade são uma aposta divertida, passear pelos enigmas, caçar as pistas e montar os quebra-cabeças são artificios que funcionam com muita facilidade, mas o roteiro não sabe alimentar bem esses conceitos básicos do gênero, e isso frustra o espectador. O roteiro que conta a história de um mal feitor que manipula as pessoas para cometer crimes em seu lugar seria genial, mas quando tudo começa a querer envolver segredos do passado, conspirações governamentais, jogos de não saber em quem confiar e verdades reprimidas, o filme se sabota e vai se deteriorando de dentro para fora. Mas ainda surge um questionamento, será que Rodriguez não está consciente do subaproveitamente que está cometendo? O diretor entrega uma fotografia interessante, ele dirige bem diversas cenas que são potencializadas pelos trejeitos de Affleck e sabe deixar diversas cenas elaboradas e complexas simplesmente com seu teor tecnico, será que realmente ele não enxerga as falhas do roteiro? Tendo um olhar mais fora da caixa, será que esse não é mais um dos diversos filmes do curriculo de Rodriguez feito unicamente para alçar o status cult do diretor? Se a gente parar para pensar, Hypnotic tem os mesmos defeitos de Um Drink no InfernoEra uma Vez no México e até Planeta Terror, filmes que envelheceram tão bem que se tornaram obras cult.

 

Sonhador nato desde pequeno, Designer Gráfico por formação e sempre empenhado em salvar o reino de Hyrule. Produtor de Eventos e CEO da Host Geek, vem lutando ano após ano para trazer a sua terra toda a experiência geek que ela merece.

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