Nota
Em sua maior turnê, primeiramente nos Estados Unidos e depois mundial, Taylor Swift celebra todos os seus álbuns, com os seus maiores hits, principalmente os álbuns de estúdio que não tiveram turnês: Lover (2019), Folklore (2020) e Evermore (2020), junto ao lançamento de Midnights (2022). Com uma estrutura de divisão de show muito parecida com uma peça teatral, através de atos dividindo as eras e músicas do show, cada um com uma produção e cenários próprios para representar aquela faixa.
Além dos figurinos que representam bem seus álbuns, bem característicos, seja um mais country, outro mais showgirl, outro com serpentes, outro literalmente da sua canção principal daquele álbum, outros mais fantásticos, cada figurino e troca de figurino por cidade traz uma composição para o filme, incrementando com os cenários, seus dançarinos, a interação e o palco, com telões no chão e no fundo com tecnologia touchscreen, que muitas vezes fazem interação com objetos ou passos, deixando mais dinâmico e fantástico cada apresentação. A Taylor adentra em cada era nova, fala de suas inspirações para aquele álbum ou canção ou captura momentos de interação com a plateia, como em “The Man”.
Além das divisões em atos, a produção separa as partes em um álbumj mais introspectivo seguido de um álbum mais agitado e dançante, provavelmente para deixar a audiência na expectativa de qual seria o próximo álbum homenageado, porém ao decorrer do filme isso se torna cansativo, pelos picos e quedas de energia o tempo todo, não há um clímax. Talvez essa estratégia funcione para um show/concerto, mas quando é traduzido para a linguagem de um filme, é necessário um olhar mais crítico ou que pense mais no espectador, colocar os álbuns mais intimistas primeiro, crescendo para os românticos e de baladas, indo pro country e por fim os mais pop e dançantes resultaria em um maior ápice ao espectador.
Quem utilizou uma linguagem mais intimista, tendo um show como base, foi Beyoncé no seu Renaissance World Tour, que nos desperta interesse pelo íntimo da artista, seu processo criativo, cada música, além do espetáculo visual, ela nos fez sentir afeto pelo processo de seu trabalho, Taylor nos trouxe um espectáculo visual e de talento, porém peca no vínculo com os seus espectadores, numa tradução de linguagem de espetáculo para um filme. Sam Wrench dá uma surra ao mostrar os melhores momentos do espetáculo e os melhores dramas, que junto com a produção atenciosa entram cenas marcantes como a da mesa de Evermore, a casa de Folklore, as nuvens de Midnights, o oceano e a Taylor mergulhando, as mil e uma Taylor’s de “Look What You Made Me Do”, ou o intimismo com os seus backing vocals em “Long Live”.
Também é perceptível a tentativa de divulgar seus trabalhos mais intimistas, que não tiveram turnês mas balanceiam bem com os álbuns de maior recepção. A produção nos faz, a cada era, ser imergidos em um novo universo, num novo conceito, com toda interação e telões trazendo personagens que conversam com a própria artista, bem como com a música. Taylor Swift: The Eras Tour dá um espetáculo visual e artístico imenso, capturando lindos momentos e traduzindo ao cinema, porém fica o questionamento se o filme é apenas para os fãs, será que a outra parcela do público poderia ser atraído e aproximado em seu trabalho? E a bilheteria, como fica?
Lucas Vilanova
Formado em cinema de animação, faço ilustrações, sou gamer, viciado em reality shows, cultura pop, séries e cinema, principalmente terror/horror