Nota
Quem nunca viu Meninas Malvadas? Independentemente de gostar ou não de cinema, o clássico da Sessão da Tarde sempre esteve no imaginário de praticamente toda uma geração ao longo de duas décadas. E é justamente como uma forma de homenagem a esses vinte anos que o remake, também produzido por Tina Fey, surge, com nova roupagem embora com a essência do seu original. Para início de conversa, é muito satisfatório ver o quanto um filme permanece vivo. Aqui, não se trata de atribuir vivacidade a uma releitura, mas sim de observar o quanto a história original nunca desaparece. Afinal, por mais que seja uma narrativa “boba” – a patricinha e seu bonde que inferniza a vida da garota “vulnerável” – e não seja algo inédito no cinema, é uma história que simplesmente cativa e entretém pela sua realidade. É como se Tina Fey, lá em 2004, resgatasse a essência de clássicos oitentistas, como Atração Mortal ou Clube dos Cinco.
Ao seguir nessa perspectiva, a roteirista reorganiza a moldagem do filme e o adapta para os dias atuais, através de um musical divertido e que cumpre a essência de 2004, ainda que inferior ao original. “Adaptação” aqui não quer dizer que o roteiro anterior se mostra descartado, mas sim que algumas situações são realocadas para um encaixe em 2024, sem desmerecer o já feito. E isso é um ponto positivo que vale a pena ser acentuado.
Ainda sobre a adaptação para os dias atuais, é possível perceber o quanto Tina Fey suaviza a acidez de seu texto, quando comparado ao original. Se a Regina George de Rachel McAdams possuía um ar de dissimulação muito bem aproveitado, Renee Rapp a constrói com um olhar letal e impiedoso, sem perder a maneira dissimulada de agir, embora mais contida nesse sentido. E isso, dentro desse contexto, não é um ponto negativo.
A ideia de um musical, a princípio, pode parecer incômoda para alguns. Afinal, não é algo que surge como um consenso o fato de curtir musicais. Nessa releitura, o musical não é o principal fator que faz o filme ser adorável, mas certamente funciona como propulsor desse sentimento. Os números são bem dirigidos, apesar de seus altos e baixos, e destacam, sobretudo, o carisma de Rapp, que constrói uma Regina George tão bem criada quanto Rachel McAdams lá em 2004. Sem sombra de dúvidas, uma ótima escolha para defender uma personagem que já está no imaginário popular há duas décadas.
No fim de tudo, Meninas Malvadas é um filme que, mais uma vez, cumpre sua proposta e não tem ambição em ultrapassar seu mestre – afinal, nem precisa disso; ou melhor, não há qualquer forma de um remake, por mais incrível que ele seja, superá-lo. É uma obra tão cativante quanto a original – a cena do número de Natal, um marco de 2004, é muito bem defendido em 2024, e a da apresentação de “Meet The Plastics” empolga pelo carisma e, acima de tudo, por não esquecer de resgatar os ingredientes da fórmula do sucesso de vinte anos atrás.
Vinicius Frota
Apenas um rapaz latino-americano apaixonado por tudo que o mundo da arte - especialmente o cinema - propõe ao seu público.