Nota
“Bem vindo a Monte Azul. Desacelere… Aqui acaba sua pressa.”
Agora que Matias está preso, chegou o momento de Verônica entrar a fundo na busca pelo terceiro irmão. A justiceira se vê obrigada a ir às origens do trio, o que a leva até Monte Azul, onde era a sede da Ordem da Fé, organização comandada pelo terrível Monsenhor D’Ávilla, e onde ela conhece Jerônimo, um rico criador de cavalos, e sua mãe, Diana, uma mulher extremamente bela e enigmática, cheia de segredos sombrios que permeiam o passado da cidade. Mas quando tudo parecia estar avançando, Doum dá uma grande cartada, colocando Verônica na mira da policia e sequestrando Ângela, filha de Matias, e Lila, filha de Verônica.
Quando a primeira temporada de Bom Dia, Verônica chegou na Netflix, foi uma surpresa gratificante para o público geral, que começou a conhecer a trama a partir daquele ponto, ou para os que puderam ver a adaptação do livro de Andrea Killmore. A série trazia suspense, muita ação e um protagonismo feminino ideal para sua abordagem sobre abuso e violência doméstica, tudo se tornava ainda melhor pela forma como o roteiro de Raphael Montes e Ilana Casoy não tinha pudores quanto a exibir crueldades e envolver os espectadores nas gradativas revelações por trás das intenções do vilão. Com a chegada do segundo, e agora com o terceiro, ano da série, toda a trama ficou ainda mais densa, com a história dos irmãos e seus crimes engrossando o perigo em que Verônica está se metendo. O líder religioso vivido por Reynaldo Gianecchini segue nesse terceiro ano, e mostra que ainda é capaz de adicionar camadas na podridão no que conhecemos de seu passado, mas é a chegada de Rodrigo Santoro que realmente deveria ser a aposta da temporada, o que infelizmente não acontece devido aos (pouquissimos) três episódios de cerca de 1 hora, que mal da tempo para o personagem ser desenvolvido ao mesmo tempo que a trama tenta evoluir o enredo dos irmãos e apresentar uma nova facção criminosa, a do tráfico sexual de mulheres.
Tainá Müller segue brutalmente eficiente em sua atuação, agora que finalmente conseguiu chegar em Doum, o grande chefe da organização, ela assume uma atitude muito mais intensa, levando à sua caçada mais brutal, superando completamente as expectativas deixadas pelas temporadas anteriores. Numa trama que claramente bebe na série The Handmaid ‘s Tale e na franquia Kill Bill, Verônica arranca a verdade do peito dos envolvidos no esquema, ela se transforma numa feroz e vingativa mãe em busca de resgatar sua filha das garras de Doum, e isso é construido em meio a muitas boas cenas de ação, que se fortalecem por uma carga dramática intensa e um suspense latente, o que dão um desfecho interessante para a busca por derrubar de vez a máfia que envolvia os três irmãos e eleva o nível da produção, mantendo o nível do roteiro. Mas infelizmente manter o nível não era a única coisa esperada, a série não consegue aprofundar com qualidade o novo vilão, ela passa as duas temporadas anteriores prometendo uma grande chefão por trás da máfia, mas não consegue fazer Doum condizer com essa grandiosidade, principalmente considerando que toda a narrativa da série usava esse antagonista como principal engrenagem da narrativa. Como se não bastasse, a temporada ainda amarra pontas essenciais para a narrativa, mas de uma forma tão corrida que perde completamente o impacto e a profundidade da revelação.
Finalizando de forma corrida, a terceira temporada de Bom Dia, Verônica tem um roteiro consciente mas pouco tempo para desenvolve-lo, é como se a quantidade de episódios tivesse quebrado as pernas da produção, que precisaram pegar um roteiro capaz de finalizar o show com grande estilo e adaptar para uma duração extremamente curta, o que claramente não funcionou. Os três capítulos da temporada realmente são intensos e trazem boas reviravoltas, mas o ritmo acelerado não dá tempo suficiente para o espectador digerir um acontecimento antes de bombardear com outro, desviando a atenção de vários momentos importantes e deixando o espectador sem saber no que precisa prestar atenção. Seria um erro afirmar que não vale a pena assistir à temporada final, até por que tudo que compõe a essencia de Bom Dia, Verônica continua presente, com uma abordagem inteligente sobre a perversão humana, a manipulação através da religião, o sexo e o senso de poder através da exploração, sem medo de ser intrigante e repulsiva. Outro ponto marcante da temporada é o do empoderamento feminino, abordando o enfrentamento da violência e do machismo, principalmente a forma revanchista que o enredo assume nas últimas cenas. No final o que fica é uma sensação de decepção por uma história, que cativou tanto o público com sua intensidade, ser concluida de uma forma tão apressada e atropelada.
“Vai começar o show!”
Icaro Augusto
Sonhador nato desde pequeno, Designer Gráfico por formação e sempre empenhado em salvar o reino de Hyrule. Produtor de Eventos e CEO da Host Geek, vem lutando ano após ano para trazer a sua terra toda a experiência geek que ela merece.