Crítica | Dias Perfeitos (Perfect Days)

Nota
4.5

O que faz seu dia ser perfeito? Um dia atarefado que você pode se sentir produtivo? Ou quem sabe um dia que você saiu, viajou e festejou bastante? Para Hirayama (Koji Yakusho) um dia perfeito pode ser apenas sentar após o trabalho e tirar fotos das árvores do parque. Dias Perfeitos, longa do diretor alemão Wim Wenders, em coprodução entre Alemanha e Japão, traz um visão simples da vida no olhar de seu protagonista, Hirayama, que independente dos seus problemas passados, prefere viver tranquilo com suas fitas de músicas e suas leituras de livros no final do dia.

Hirayama é um limpador de banheiros que vive uma vida extremamente pacata em Tóquio, tendo praticamente nenhum amigo além do seu colega de profissão, que é bem mais novo que ele, ele parece se dar bem com seu estilo de vida. Conversando pouquíssimo com outras pessoas, só conseguimos notar sua personalidade por seus 4 hobbies: Fotografia com sua câmera analógica, Cuidar de suas plantinhas todas as manhãs, Música com suas fitas cassetes que costuma ouvir no carro indo ao trabalho e seus livros que lê apenas quando está em casa. Parecia que nada poderia abalar sua rotina, mas é aí que o encontro com Riko (Arisa Nakano) vai mexer bastante com a sua tranquilidade e nos contar um pouco sobre a história do Hirayama.

Dias Perfeitos, que disputou Melhor Filme Internacional no Oscar 2024 representando o Japão, veio quase como um acidente para o diretor Wim Wenders. Ele conta em entrevistas que a ideia inicial do filme era um documentário sobre os banheiros tecnológicos de Tóquio, que conhecemos ao longo do filme atual com o Hirayama, e que ao passar tanto tempo novamente em Tóquio ele chegou a conclusão de que ele queria retratar um personagem que vivesse naquela área que ele visitou. E por retratar o cotidiano, o Wim Wenders consegue deixar um filme repetitivo não parecer maçante de assistir, já que acompanhamos a rotina do Hirayama por tantas vezes, mas a cada vez conseguimos notar mudanças muito leves, desde na mudança da câmera, para até as ações do personagem. Como roteirista, tanto o diretor do filme quanto o Takuma Takasaki tem um trabalho incrível na maneira que eles conseguem organizar essa história calma e reconfortante.

Koji Yakusho é a estrela do filme, não só por ser o personagem principal, mas sim por conseguir atingir um nível de atuação que pouquíssimas pessoas conseguem. O ator consegue transmitir nas sutilezas a evolução do personagem ao longo do filme, a cada pequeno gesto aqui, ou um sorriso tímido ali, até a gente conhecê-lo o suficiente e acompanhá-lo em decisões maiores que fecham muito bem todo o processo do personagem que acompanhamos. Por ser um personagem doce e muito tímido, sua interação com outras pessoas, que vai mudando ao longo do filme, cria interações engraçadas com seu colega de trabalho Takashi (Tokio Emoto), e posteriormente interações comoventes, mas ainda assim que aquecem o coração com a Riko, onde Arisa Nakano complementa muito bem a atuação do Koji Yakusho, que poderia até fazer o filme inteiro sozinho, mas que junto dela conseguem de fato amarrar bem as intenções do diretor com o filme.

Dias Perfeitos é um filme lindo e reconfortante, que pode não agradar todo mundo por ser um filme contemplativo onde as coisas “demoram” muito para acontecer, mas que mesmo assim consegue nos envolver do começo ao fim. Acompanhando a vida simples e rotineira do doce Hirayama, conseguimos entender o olhar do diretor Wim Wenders para contemplarmos melhor o ambiente em que vivemos e apreciar a beleza da nossa rotina. E é nesse sentimento de acolhimento e sutilezas que Dias Perfeitos chegou a ganhar sua indicação ao Oscar de Melhor Filme Internacional, e que mesmo não sendo um dos favoritos da premiação, é sem dúvida um filme que vale muito a pena de ser assistido.

 

Ilustradora, Designer de Moda, Criadora de conteúdo e Drag Queen.

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