Resenha | Simon vs A Agenda Homo Sapiens

Nota
5

“Acho que nunca me considerei interessante até me tornar interessante para Blue. Então, não posso contar para ele. Prefiro não perdê-lo.”

Simon Spier vive uma vida comum e sem grandes agravantes de um garoto de dezesseis anos, mas sofre por esconder um grande segredo que não ousa revelar nem para seus melhores amigos: ele é gay. Afinal, sair ou não do armário é um drama que ele decide deixar para depois e, se nenhum hétero precisou se reafirmar para a sociedade, porque ele deveria?

Mas tudo muda quando Martin Addison, o bobão da escola, descobre uma troca de e-mails entre Simon e o misterioso Blue, um garoto anônimo de sua escola por quem Simon se encanta a cada troca de mensagens. Determinado a conseguir uma chance com Abby, uma das melhores amigas de Simon, Martin começa a chantageá-lo e, se Simon não ceder, seu segredo vai parar no tumblr da escola, o que pode colocar um fim à sua relação com Blue, antes mesmo que ela possa começar. Agora, o rapaz adverso a mudanças, precisa encontrar um jeito de sair de sua zona de conforto, enfrentando uma realidade dura enquanto tenta conseguir uma chance de felicidade com o menino mais confuso e encantador que já conheceu.

“Mas estou cansado de sair do armário. Tudo que eu faço é sair do armário. Tento não mudar, mas estou sempre vivendo pequenas mudanças.”

Durante muito tempo, a comunidade LGBTQIAP+ não teve reconhecimento, sendo tratada como uma pária social amplamente ligada à tragédias e finais infelizes. Então, não seria surpreendente que, em pleno 2015, nos deparássemos com uma obra voltada para esse público onde a única frente seria um combate a homofobia descarada na sociedade. Pois bem, não é o que Becky Albertalli tinha em mente. Simon vs a Agenda Homo Sapiens poderia ser uma trama densa e dramática, mas a autora decide trazer uma nova vertente e dar voz à inúmeros adolescentes que não conseguiam se enxergar na grande mídia. Utilizando seu trabalho como psicóloga, Becky relembra as inúmeras histórias sobre jovens inteligentes, estranhos e incompreendidos socialmente, trazendo uma veracidade impecável para sua obra que encanta o leitor desde o começo.

Embora a história nos convide a refletir e indagar paradigmas sociais, em nenhum momento ela embarca no viés dramático, demostrando uma amplitude sobre as temáticas abordadas e as nuances que elas podem proporcionar. Becky respeita a individualidade de seus personagens e o tempo necessário para que cada trama possa se desenvolver, trazendo um aspecto fofo de uma narrativa de um adolescente que ainda está descobrindo seu lugar no mundo. Simon sabe bem sua própria sexualidade. Mas, como tantos jovens (e adultos), ele não se sente pronto para se apresentar ao mundo. É por isso que sua vida se torna um verdadeiro pesadelo quando tal liberdade é ameaçada. A autora consegue transcrever toda a confusão e dor de termos nosso momento tirado das nossas mãos, além de nos fazer indagar o por que devemos sair do armário, quando pessoas héteros não precisam fazer o mesmo?

Com uma escrita envolvente, que intercala a narrativa do protagonista com seus e-mails para Blue, Becky consegue brincar com essas dualidades, construindo uma trama rica que nos absorve desde a primeira página, elaborando uma serie de falhas que tornam seus personagens ainda mais humanos. Nada aqui é preto no branco, e as camadas cinzentas é o que torna a estória tão interessante. Simon e Martin são ótimos exemplos disso. O protagonista coloca seu segredo acima da confiança de seus amigos, e passa a temer tanto ser exposto que precisa conviver com o mal estar que causa a quem ama. Enquanto Martin é divertido e engraçado, ele se mostra um chantagista de marca maior, que tenta ao mesmo tempo garantir para si mesmo (e para o próprio Simon) que tem as melhores intenções, a ponto de acreditar realmente nisso.

O livro ainda nos apresenta as diferentes relações sociais do protagonista e ao mistério sedutor de quem é Blue, que quase se torna uma obsessão ao longo da narrativa. Passamos a juntar as peças deixadas pela autora enquanto vamos tentando adivinhar quem estaria por trás dos adoráveis e-mails, nos fazendo vibrar a cada contato entre eles. Repleto de uma doçura impecável e Oreos incontáveis, Simon vs A Agenda Homo Sapiens preparou o terreno para as inúmeras obras que estariam por vir. Demostrando o quão difícil é se encontrar no mundo, o livro nos mostra a complexidade de um simples ato e o quão invasivo pode ser ter nossas escolhas tomadas quando não estamos prontos. Mas, no fim das contas, a obra se mostra uma experiência adorável que nos deixa com um acalento no coração, que só um bom clichê adolescente pode nos proporcionar.

“Você já se sentiu preso dentro de si mesmo? Não sei se isso faz sentido. É que as vezes parece que todo mundo sabe quem eu sou, menos eu.”

 

Ficha Técnica
  Livro 1 – Simonverse

Nome: Simon vs A Agenda Homo Sapiens

Autor: Becky Albertalli

Editora: Intrínseca

Skoob

Preso em um espaço temporal, e determinado a conseguir o meu diploma no curso de Publicidade decidi interagir com o grande público e conseguir o máximo de informações para minhas pesquisas recentes além, é claro, de falar das coisas que mais gosto no mundo de uma maneira despreocupada e divertida. Ainda me pergunto se isso é a vida real ou apenas uma fantasia e como posso tomar meu destino nas minhas mãos antes que seja tarde demais...

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