Crítica | Nosferatu (Nosferatu, Eine Symphonie des Grauens) [1922]

Nota
5

O jovem corretor de imóveis, Hutter (Gustav von Wangenheim), é contatado para vender um imóvel para o Conde Orlok (Max Schreck), mas ao chegar até seu castelo nos Montes Cárpatos, ele descobre que o Conde é na verdade um vampiro milenar e isso acaba sendo apenas o começo da perseguição do Conde, já que após conhecer sua esposa, Ellen (Greta Schröder), o desejo do vampiro Orlok por ela faz com que ele aterrorize a cidade de Bremen na Alemanha. É nessa atmosfera sombria que o diretor F. W. Murnau traz Nosferatu, uma adaptação não autorizada do livro Drácula do escritor irlandês Bram Stoker, e que acabou se tornando um dos maiores símbolos do cinema Expressionista Alemão.

Por ser uma adaptação não autorizada da obra de Bram Stoker, Nosferatu quase foi esquecido na história, já que, após ser exibido, os herdeiros de Bram Stoker processaram a produtora Prana-Film, obrigando a produtora a retirar e destruir todas as cópias do filme, sendo acusada de plágio do livro, mesmo após mudar a história e os nomes dos personagens. Mas mesmo indo à falência após seu único filme, a produtora conseguiu manter algumas cópias que foram restauradas, fazendo Nosferatu ser um filme relevante e referenciado até hoje na cultura pop, sendo referenciado diversas vezes em produções como Bob Esponja, em músicas como do rapper Bad Bunny, assim como adaptações em filmes e em óperas. Mas para muito além disso, o filme segue como referência até hoje sobre como enxergamos vampiros em mídia, já que no filme foi criado o conceito de que os vampiros não podem se expor ao sol, o que é replicado na maioria das adaptações sobre vampiros até hoje.

Após diversos filmes de terror, o diretor F. W. Murnau conseguiu ser eternizado por essa obra que foi marcada também por diversos acertos. Apesar de estar no título do filme e ser o causador de toda a trama principal, o Conde Orlok curiosamente só aparece em cerca de 10 minutos do filme. Mas suas aparições são definitivamente icônicas, como nas cenas apenas de suas sombras, ou na sua aparição na porta. Isso atrelado à sua caracterização super particular das duas presas na frente, orelhas pontudas, a careca e as unhas gigantes. Quem na verdade ganha um enorme destaque pela atuação é Gustav von Wangenheim, que consegue ter diversas nuances e um grande desenvolvimento de personagem, tudo isso com a teatralidade que Hutter exige em ser esse jovem esperançoso, para ter sua fase amedrontado pelo conde.

Sobretudo, Nosferatu se destaca muito dos filmes da época por, mesmo sendo um filme de terror, ter muita personalidade na forma de filmar, compor suas cenas, principalmente na edição, de criar inveja para muitos diretores mais de 100 anos depois de seu lançamento. Há cenas extremamente conceituais no filme, com takes de ratos, aranhas entre outros que explicam muito bem o porquê desse filme ser aclamado até hoje.

Além disso, por ser um filme mudo, havia a necessidade das narrações serem por takes de texto durante o filme, tendo uma clara diferenciação entre fontes góticas para a narração, que remete muito a livros antigos e ao próprio castelo do conde, assim como as narrações que representam cartas que são de caligrafias e que dá realmente a sensação de leitura de uma carta. Além da edição para um filme mudo, outro aspecto que conta muito é sua trilha sonora, que com certeza não decepciona. O compositor Hans Erdmann, que só trabalhou em apenas um filme após Nosferatu, traz composições no estilo épico, que conseguem transportar muito bem para cada sentimento das cenas, seja o terror, a aflição dos personagens, e momentos de ternura.

Nosferatu, de 1922, é uma adaptação não autorizada mas moldou a forma que vemos vampiros em adaptações contemporâneas. Esse filme é um clássico por ser bom em tudo que se propõe, sua estética é imaculada, sua trilha sonora épica e emocionante, assim como as atuações das personagens que, mesmo datadas, continuam sendo muito divertidas de assistir hoje em dia. Além disso, com uma ótima edição e takes super inovadores para época, e que ainda são relevantes e copiados hoje em dia, o filme segue sendo uma inspiração para novos diretores. Nosferatu é sem dúvida um dos filmes cults que quem gosta de cinema deve assistir, não só pela sua relevância no mundo do cinema e do gênero de terror, mas também pela sua qualidade.

 

Ilustradora, Designer de Moda, Criadora de conteúdo e Drag Queen.

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