Crítica | Mallandro, O Errado Que Deu Certo

Nota
1.5

Mallandro, O Errado Que Deu Certo, dirigido por Marco Antonio de Carvalho, chega aos cinemas com a promessa de uma viagem nostálgica e emotiva pelos altos e baixos da carreira do icônico comediante brasileiro, Sérgio Mallandro. No entanto, o que se desenrola na tela é uma mistura desordenada de comédia e drama que consegue traduzir a essência do que fez Mallandro famoso, resultando em um filme que luta para encontrar seu próprio propósito.

O longa acompanha Sérgio Mallandro, interpretando ele mesmo, enfrentando uma crise pessoal e profissional. Com dívidas se acumulando, Mallandro aceita participar de um piloto para um novo programa de auditório. No entanto, quando uma pegadinha dá terrivelmente errado, ele se vê em uma situação de vida ou morte que pode mudar o rumo de sua carreira para sempre. O filme oscila entre momentos de comédia nostálgica e um drama introspectivo, explorando a necessidade de reinvenção em um mundo que já não tem espaço para seu “estilo” de humor.

No início do filme, o público é imerso no que deveria ser o terreno familiar de Mallandro: suas pegadinhas clássicas e bordões icônicos. A tentativa é clara ao tentar revisitar os momentos que o tornaram um nome conhecido na televisão brasileira e cativar pela nostalgia. Porém, o humor agora é datado e forçado, com piadas que não têm o mesmo impacto e podem não ser vistas como piada (algumas realmente não são). O filme depende de participações especiais de figuras como Xuxa (Lua de Cristal) e Zico para tentar arrancar risadas, que acabam sendo mais de pena e vergonha alheia do que genuínas. Algumas participações realmente podem ter se comprometido em participar por pura amizade. A nostalgia falha em mascarar a falta de originalidade e a repetição cansativa de antigas fórmulas de humor.

Quando o filme tenta trazer o drama para a tela, a narrativa se torna ainda mais problemática. Mallandro é apresentado como um comediante em crise, lutando para se reinventar em um mundo que já não tem espaço para seu estilo de comédia. Essa premissa, que poderia ser abordada de diversas outras formas e muito melhor trabalhadas, é tratada de forma superficial e pouco convincente. As situações dramáticas são excessivamente ficcionais, tornando difícil para o público se conectar com qualquer coisa que o personagem esteja sentido, sendo uma mera caricatura do que tenta transmitir. A tentativa de explorar a vulnerabilidade de Mallandro se perde em um roteiro cheio de clichês e contradições.

A ideia de um ator interpretando a si mesmo não é nova, mas geralmente oferece uma chance para introspecção e reinvenção criativa. Em vez de seguir esse caminho desde o início, em um contexto dramático sobre seu local em um mundo onde até a comédia evolui, Mallandro tropeça a todo instante. O roteiro tenta abordar temas como fama, propósito e conflitos geracionais, mas falha em dar profundidade a essas questões. A crise de identidade do comediante é abordada de maneira tão rasa que o público é incapaz de sentir qualquer empatia verdadeira e só se render a vergonha alheia.

Além dos problemas narrativos, o filme sofre com os diálogos fraquíssimos e o trabalho dos atores que tentam a todo custo tirar algo de bom do material que receberam. A falta de unidade entre o retrato do Sérgio Mallandro da vida real e o personagem fictício é gritante, resultando em uma experiência desconexa para o espectador.

A trilha sonora, que inclui clássicos como “Lua de Cristal”, de Xuxa, e “Metal Glu Glu”, de Massacrattion, é um dos poucos aspectos divertidos do filme, trazendo ao menos cenas que fazem você soltar um leve ar pelo nariz. As músicas servem como um lembrete engraçado de que antigamente aquilo era engraçado, mas também destacam a passagem do tempo e o humor ultrapassado que Mallandro se tornou.

O filme tenta encerrar com uma nota de homenagem ao verdadeiro Sérgio Mallandro, destacando sua capacidade de ainda lotar teatros com seu estilo peculiar de comédia. Contudo, essa tentativa de redimir o artista não é suficiente para justificar a existência de um filme tão mal concebido. Repito: se a intenção era emocionar o público e fazer uma homenagem a um notório comediante que o Brasil possui, então existiam mil e uma formas diferentes de o fazer. Não é com uma história fictícia com ares pseudo-biográficos que se conseguiu. Se a ideia era reviver a figura de Sérgio Mallandro, tenham certeza que não conseguiram.

Para verdadeiros fãs do comediante o filme pode ser alguma coisa, mas para o público em geral e futuros fãs que tentassem conseguir com ele, Mallandro, O Errado Que Deu Certo não passa de uma coleção de velhas piadas e momentos embaraçosos, se tornando assim “Mallandro, O Equívoco Que Se Tornou Filme”.

 

Pernambucano, jogador de RPG, pesquisador nas áreas de gênero, diversidade e bioética, comentarista no X, fã incontestável de Junji Ito e Naoki Urasawa. Ah, também sou advogado e me arrisco como crítico nas horas vagas.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *