“Hm… Na verdade, tem mais uma coisa que eu queria conversar com vocês…”
Depois de entenderem o que sentem um pelo outro, Nick e Charlie se tornam oficialmente namorados, mas, com esse novo status social, eles têm que encarar novos desafios no seu relacionamento. Enquanto se preparam para uma viagem para Paris, onde todos seus amigos estarão por perto, o novo casal tenta entender essa nova dinâmica, principalmente quando se assumir como tal traz tanta diferença em suas vidas.
Repleto de medos, receios e questionamentos sobre como os outros vão agir, Nick e Charlie começam a preparara o terreno para dar o próximo passo, encarando o misto de sentimentos que somente a capital francesa pode proporcionar. Enquanto decidem o que fazer, os dois percebem que, não importa qual seja o desafio, eles sempre podem contar um com o outro.
“Na verdade, eu sou bi. E daí?”
Quando começamos Heartstopper, acompanhamos uma história de auto-descoberta envelopada em um romance fofo que aquece nossos corações. Mas, conforme a trama avança, vamos entendendo a complexidade de seus personagens e o significado dos temas que Alice Oseman tanto quis abordar em sua webcomic. Não é a toa que o terceiro volume se chame Heartstopper – Um Passo Adiante, demostrando toda a evolução da história em um dos quadrinhos mais acalentadores que já tive a oportunidade de ler. Se nos primeiros volumes acompanhamos o desabrochar do amor entre os protagonistas, o novo capítulo procura exemplificar a dificuldade em se entenderem como casal, principalmente quando um deles ainda está aprendendo a lidar com sua sexualidade recém descoberta.
Oseman toma todo cuidado do mundo para explorar essa dinâmica, trazendo todo respeito necessário para alguém que está compreendendo seu próprio momento. O que se mostra um acerto enorme, já que a obra se tornou uma referência para tantas pessoas que passaram a se identificar com os problemas passados por eles. Alice traz uma fonte de inspiração sobre um amor tranquilo, mas que não apaga nossas questões, construindo trocas saudáveis de um casal que sabe respeitar a individualidade um do outro.
É incrível acompanhar o amadurecimento dos personagens, principalmente enquanto eles entendem que estão em momentos diferentes de suas jornadas, percebendo então que podem se encontrar no meio do caminho. Para Nick tudo é muito novo, e todo conceito de sair do armário parece uma verdadeira batalha interna. Ter que explicar para terceiros uma parte sua que ele acabou de conhecer, soa invasivo e assustador, principalmente quando ele ainda não está pronto para encarar as mudanças que tal ato pode trazer. Ao mesmo tempo que ele quer viver totalmente a experiência com Charlie, isso lhe aflige a ponto dele se colocar em situações que claramente não está preparado.
Já Charlie sabe bem o que é ser tirado do armário contra sua vontade. Depois do bullying pesado que passou no ano anterior, o rapaz se coloca em um papel de proteção, evitando ao máximo que seu namorado sofra o que ele sofreu. E isso cobra seu preço ao longo da jornada. A saúde mental do protagonista e as consequências de todo sofrimento que passou começam a ser debatidos no volume, embora ele ainda esconda de todos o quão grave pode ser sua situação.
A viagem a Paris, além de nos proporcionar momentos incríveis e encantadores, consegue nos dar um ótimo presente para a narrativa: o aprofundamento em personagens que tinham ficado de escanteio nos volumes anteriores. Tao e Ellen são exemplos perfeitos desses momentos. A dupla finalmente ganha espaço para desenvolvimento em sua história, bem longe do enredo do casal protagonista. Inclusive, proporcionando um dos melhores momentos da viagem de Paris, que arrancou uma verdadeira vibração entre os fãs.
Os professores Farouk e Ajayi foram ótimas surpresas, com uma história paralela que desperta imediatamente nosso interesse. Tara e Darcy servem como um suporte gratificante, que auxilia os protagonistas em seu próprio entendimento sobre relacionamentos queer. Aled é outro que começa a ter seu devido destaque, principalmente quando seus desejos são expostos fazendo uma leve indicação do que seria o início de um dos melhores livros da autora.
Sahar é uma das novas adições ao grupo. Embora não tenha tanto desenvolvimento nesse primeiro momento, a garota se integra perfeitamente, trazendo ótimos momentos a trama. E até mesmo Harry ensaia uma possível redenção, mas que precisa de um longo caminho para realmente acontecer. Mas, toda história precisa de um antagonista, e dessa vez o papel cai como uma luva em David Nelson, irmão mais velho de Nick. Irritante, preconceito e totalmente cheio de si, o rapaz faz de tudo para diminuir o irmão, criando situações desconfortáveis que despertam nosso mais puro ódio.
A edição da Seguinte continua primorosa. A tradução de Guilherme Miranda se mostra certeira, transcrevendo toda a jovialidade e emoção necessários para mergulharmos de cabeça na história, com aquele toque brasileiro que tanto amamos identificar. Os tons pasteis, tão conhecidos pelos fãs da saga, ganham uma nova camada, principalmente com a riqueza dos cenários que nos encantam a cada virada de página.
Repleto de um amadurecimento exemplar, Heartstopper – Um Passo Adiante traz um dos melhores volumes da saga. Oseman utiliza o delicioso verão europeu para construiu uma verdadeira evolução em seu enredo, demostrando um controle preciso que nos envolve desde o primeiro momento. Embora o terreno comece a soar mais sombrio, Alice nos deixa prontos para as novas etapas, principalmente quando temas tão importantes começam a ser explorados de uma maneira tão respeitosa, que é quase obrigatório referenciarmos seu cuidado para com o público. Afinal, é impossível não nos sentirmos parte do grupo e simplesmente ficarmos ansiosos para o que ela nos reserva no futuro.
“Existe essa ideia de que, se você não é hétero, você TÊM que contar para toda sua família e seus amigos imediatamente, tipo, como se você devesse isso a eles. Mas não. Você não tem que fazer nada até se sentir pronto.”
Phael Pablo
Preso em um espaço temporal, e determinado a conseguir o meu diploma no curso de Publicidade decidi interagir com o grande público e conseguir o máximo de informações para minhas pesquisas recentes além, é claro, de falar das coisas que mais gosto no mundo de uma maneira despreocupada e divertida. Ainda me pergunto se isso é a vida real ou apenas uma fantasia e como posso tomar meu destino nas minhas mãos antes que seja tarde demais...