Nota
“Você foi banida de todos os calabouços de Nova York, criticada em todas as redes sociais por falta de consentimento e bom senso e por deturpar os nossos deveres como Domis. E pra piorar, ainda foi atender um cliente perigoso, que acabou resultando em uma perseguição policial da qual você mal escapou, e agora ninguém aluga para você, por que ninguem confia no seu trabalho. Faltou alguma coisa?”
Dez meses se passaram depois do atendimento desastroso que acabou com a reputação de Tiffany Chester, ou melhor, da Senhora May, o que leva Tiff e Pete a precisarem buscar uma ajuda poderosa, a da ex-mentora de Tiff, Senhora Mira, uma respeitada professora de dominação que obriga a dupla a iniciar a formação de dominatrix do básico como condição para receber sua ajuda para reconstruir uma reputação.
Depois de uma agradavel, porém curta, primeira temporada, Bonding mergulhou em uma grande controversia ao ser alvo de várias críticas pela comunidade BDSM, principalmente por trazer um alto nível de imprecisão de informações e fornercer um humor que gira em torno de estereótipos equivocados e não retrata com precisão a realidade de profissionais da área. Mesmo assim, a série foi renovada pela Netflix, o que fez com que o criador da série, Rightor Doyle, prometer ouvir a comunidade BDSM para consertar as imprecisões, o que foi feito através da contratação, como consultora, de Olivia Troy, uma escritora que trabalhou com BDSM por 15 anos, o que garantiu que muitos dos pontos negativos encontrados na primeira temporada fossem corrigidos, tornando a série mais respeitosa com o trabalho da comunidade BDSM, mesmo que seja claro, e até admitido por Troy, que é impossivel fazer um show completamente fiel à realidade quando se leva em conta a necessidade de encaixe em um estilo de roteiro e da proposta de ser uma série de comédia.
No decorrer dos oito episódios de cerca de 20 minutos (5 minutos a mais que os da primeira temporada), vemos uma história mais madura ser desenvolvida, afinal é importante lemprar que dez meses é realmente muito tempo quando se trata de jovens adultos, a dupla protagonista teve tempo suficiente para viver uma evolução que os transforma, o que faz com que a temporada comece com Tiff e Pete em um lugar totalmente diferente de suas vidas, principalmente se considerarmos que as relações amorosas deles se tornam um eixo decisivo na rota evolutiva de cada um, mas ainda exista uma certa imaturidade e loucura na relação dos amigos que lutam para ser poderosos dominadores. Como alegoria para a transformação da série em uma trama mais respeitosa à comunidade BDSM, vemos Tiff e Pete passando por um curso básico de dominação, apontando os erros passados do show (como o fato de Tiff, uma dominatrix, usar coleira com “Anel de O”, que é um símbolo de submissão) e aprendrendendo com eles.
Tiff, interpretada de forma muito mais densa por Zoe Levin, precisa aceitar que sua amizade colorida com Doug é na verdade um namoro quando, justamente nesse momento de confusão emocional, Gina, a ex-namorada de Doug, retorna buscando uma conciliação. Ao mesmo tempo, Pete, vivido por um Brendan Scannell mais contido, descobre que seu namorado, Josh, finge ser hétero no trabalho, cujo pai é dono, vendo sua relação ser completamente jogada para um ármario que ele não queria estar. Com a expansão da relação, os dois namorados acabam se tornando personagens recorrentes, o que dá a eles mais tempo de tela e até uma própria história a ser desenvolvida. De um lado temos Doug, numa atuação cativante de Micah Stock, que lidera um grupo de homens buscando se curar da misoginia estrutural, mas que acaba vendo sua vida entrar em turbulencia quando sua ex-noiva e sua namorada passam a orbitar ao seu redor, tentando reorganizar sua vida ao mesmo tempo que luta contra a misoginia de criar uma rivalidade feminina. Já Josh, vivido por Theo Stockman, não tem muito a oferecer, trazendo um drama comum, mas que ganha tons de comédia em suas interações com Pete, ou quando conhecemos Patrick.
Apesar de ter menos comédia que a temporada anterior, a segunda temporada de Amizade Dolorida é mais respeitosa e evoluida, capaz de mostrar que o mundo da dominação vai além de chicotes e couro. Com altos e baixos, a série acaba perdendo a chance de se desenvolver realmente enquanto tenta puxar o humor em momentos que o drama se sobressai, como é o caso do extremo episódio “Stand Me Up, Stand Me Down” (2×07), que consegue começar como o pior episódio da temporada, sendo doloroso em diversos aspectos, mas ainda assim terminar com um discurso de Tiff que resume as críticas que a série recebeu, mostrando que o roteiro evolui super bem na questão de plot, mas se prejudica muito por conta de seu humor ácido, que parece surgir em momentos onde se torna incomodo e inoportuno.
Icaro Augusto
Sonhador nato desde pequeno, Designer Gráfico por formação e sempre empenhado em salvar o reino de Hyrule. Produtor de Eventos e CEO da Host Geek, vem lutando ano após ano para trazer a sua terra toda a experiência geek que ela merece.