Review | Além do Guarda-Roupa [Season 1]

Nota
4

“O que você esperava de um dia que já começou arruinado pelo k-pop? Eu odeio tudo que vem da Coreia!”

Carol é uma adolescente de 17 anos, filha de uma bailarina brasileira e um sul-coreano, mas depois que sua mãe morre e seu pai decide voltar à Coreia do Sul, a abandonando, ela escolhe negar sua ascendência rejeitando tudo que seja coreano, principalmente o K-Pop e o K-Drama. Mas sua vida, que já é uma constante jornada de superação, aceitação e autoconhecimento, começa a ficar mais caótica quando a tudo de origem coreana começa a ficar popular entre os adolescentes brasileiros, e piora ainda mais quando ela descobre que seu guarda-roupa é na verdade um portal mágico que conecta seu quarto ao apartamento do ACT, o mais famoso grupo de k-pop da atualidade, que está em hiatus. Como se não bastasse essa descoberta, Kyung-min, que está com um bloqueio criativo, decide se hospedar no seu quarto para mudar de ares e conseguir a inspiração necessária para escrever a tão esperada música do comeback do grupo, o que faz com que ele e Carol precisem conviver diariamente ao mesmo tempo que ela tenta esconder do resto do mundo a presença do k-idol em seu quarto e recebe periodicamente visitas de outros membros do grupo.

Criada por Andréa Midori, Alice Andreoli Hirata, Gabriel Jubé, Letícia Kamiguchi, Pedro Penna, Palas, Mariana Suzuki e Marina EsodrevoAlém do Guarda-Roupa é uma extremamente ousada proposta abraçada pelo HBO Max. O que aconteceria se o Brasil, conhecido por suas intensas e realistas novelas, resolvesse fazer um k-drama? Seria esse o pontapé inicial para o surgimento dos B-Drama? Talvez não tenha sido esse o pensamento do grupo de executivos quando resolveu unir a proposta extremamente dramática dos K-Drama com uma pitada brasileira, mas parece ter sido o resultado dessa jogada. Com o Brasil sendo o terceiro pais que mais consome doramas no mundo, era natural esperar que essa estética um dia pudesse ser absorvida e replicada em terras tupiniquins, e é justamente nesse ponto que Além do Guarda-Roupa surpreende, se não fosse pela presença de alguns atores brasileiros e a sincronia impecavel de alguns personagens falando português, ele poderia facilmente passar por um drama coreano, principalmente pela competencia exemplar do elenco coreano do filme. A série sabe fluir, mesmo tendo uma protagonista chata na maioria das vezes, ela explora questões de amor, amizade e raízes.

Sharon Cho comanda o desenrolar da produção como protagonista, tudo no enredo é focado em entendermos os traumas de Carol, o que a leva a negar suas origens e adiciona uma camada dramática à série, ao mesmo tempo que temos pequenos flashs da infância de Kyung. Apesar de a personagem não cativar o suficiente, é o female gaze quem dita o ritmo do show, cheio de olhares em camera lenta, filtros que suavizam a pele dos atores e aquele véu ludico que é marca registrada nas produções coreanas, tudo gira em torno do amor e da luta, divisando a proposta coreana da brasileira. Carol é filha de uma bailarina e sente muita culpa em relação à morte da mãe, algo que tenta expurgar ao lutar para ser uma bailarina tão boa quanto sua mãe, mas sofrendo com as dores do abandono e de como teve interferencia direta nos eventos que mataram sua mãe. Mas ao mesmo tempo que ela luta para se provar, ela encontra o maior obstaculo na dinamica de gata borralheira que vive ao ser explorada por sua tia, Regina, que passou a cria-la e a colocou para trabalhar no café da familia, sendo sempre rispida quando a sobrinha mostra interesse em seguir a carreira da mãe como bailarina, e sua prima, Luisa, que se acha uma empreendedora nata e faz diversas chantagens emocionais para levar Carol a fazer tudo que ela precisa para gerir seu K-Café. Mas o lado coreano da trama de Carol desflora como o triângulo amoroso que surge entre ela, o bad boy Kyung e o doce Dae-ho, dois melhores amigos que são opostos e acabam mexendo com o coração da garota.

A construção dos arquetipos acaba se tornando uma das bases mais fortes do desenrolar da trama. Kim Woo-jin (ex-integrante do Stray Kids) é quem ganha mais tempo de tela como o main dancer Kyung, líder do ACT, um garoto ranzinza, com ar de superioridade, que chega ao quarto de Carol tomando conta de tudo, incapaz de obedecer as regras e presunçoso o suficiente para se colocar num pedestal e julga-la, mas o que começa como uma tensão logo se transforma em uma amizade e começa a florescer como um amor. Kim Jin-kwon (membro do Newkidd) traz uma veia mais doce e sentimental para o grupo, surgindo como o all-rounder Dae-Ho, um compositor carinhoso que quer cuidar de seu melhor amigo e acaba despertando amor a primeira vista de Carol, sempre lutando para convencer a brasileira a acolher seu amigo e ajuda-lo na jornada para salvar o grupo. Yoon Jae Chan (do ex-duo XRO) interpreta Sang-Mok, o main vocal do grupo, ricaço de nascença e mega mimado, que apesar de ser o que menos se esforçou para estar ali, é um dos que mais valoriza o grupo. O grupo se completa com o ator Lee Min-wooka, interprete do main rapper Chul-Woo, com uma alma de artista e super antenado em outras culturas. O elenco ainda se completa com as participações do divertido Lucas Deluti no papel de Diguinho, o vizinho de laje de Carol e amigo de infância, que esconde do pai que é gay e tem um crush por Chul-Woo, da incrivel Júlia Rabello no papel da megera tia Regina, que passou a criar Carol depois que ela ficou sem os pais e acaba oprimindo a garota pelo rancor que guarda do balé desde a morte de sua irmã, da engraçada Sabrina Nonata, que no papel de Nayara vive a maior fã do ACT, que por conveniência do destino se torna grande amiga de Carol.

Leve e divertido, Além do Guarda-Roupa é uma bela combinação Brasil-Coreia, mostrando que não precisa ser oriental para fazer um bom dorama, apesar do problema com sua protagonista morna, a série compensa com seus outros personagens complexos, apesar da dinâmica Gata Borralheira que existe entre Carol e sua tia. Com direção geral de Marcelo Trotta e codireção de Paula Kim e Sabrina Greve, o show entrega, em seus dez episódios de cerca de 40 minutos, uma mistura interessante do melhor das produções brasileiras com a estrutura milimetrica das produções coreanas, temperando com um pouco de criticas leves ao lados sombrio de cada cultura ao mesmo tempo de que constroi uma trama divertidade e envolvente. O show ainda consegue trazer atores coreanos contracenando com os brasileiros, o que acaba entregando uma dublagem um pouco tosca, de uma forma natural, e quase nos faz relevar a presença de Pyong Lee num forçado papel de empresário da ACT.

“Quando duas pessoas que se gostam se encontram, tudo fica em câmera lenta”

 

Sonhador nato desde pequeno, Designer Gráfico por formação e sempre empenhado em salvar o reino de Hyrule. Produtor de Eventos e CEO da Host Geek, vem lutando ano após ano para trazer a sua terra toda a experiência geek que ela merece.

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