Crítica | Deadpool & Wolverine

Nota
4.5

Quando o Universo Cinematográfico da Marvel parecia estar à beira do colapso, uma luz no fim do túnel apareceu trazendo não o herói que se esperava para trazer esperança e sim o que era necessário.Deadpool & Wolverine surge nos cinemas como uma explosão de irreverência e diversão, oferecendo mais do que só uma lufada de ar fresco para os fãs desiludidos, todo um complexo misto de tudo aquilo que a Marvel pareceu ter esquecido.

Este filme não só traz de volta dois dos heróis mais carismáticos do universo Marvel, como também quebra todas as barreiras do gênero com um tom audacioso e irreverente, jogando para o alto todas as regras que o MCU pautou durante seus mais de 10 anos de existência e se assumindo como algo que somente Deadpool poderia fazer: ser divertido sem a necessidade de ter pós-doutorado em Marvel. Dirigido por Shawn Levy (Free Guy), Deadpool & Wolverine promete uma aventura explosiva e desafiadora, cheia de piadas afiadas e sequências de ação intensas, que revitaliza o entusiasmo pelo MCU de uma maneira que poucos filmes recentes conseguiram.

A trama de Deadpool & Wolverine lida com um Wade Wilson (Ryan Reynolds) desiludido com a vida, abandonando sua carreira de super-herói para se tornar um vendedor de carros usados e afogar suas mágoas na saudade de Vanessa (Morena Baccarin). No entanto, a monotonia de sua vida é abruptamente interrompida quando ele é puxado para o multiverso pela AVT e precisa se unir a uma variante debilitada do Wolverine (Hugh Jackman) para evitar um colapso universal. Entre trocas de farpas e batalhas sangrentas, o filme explora uma combinação eletrizante de humor, ação e um toque de nostalgia que promete agradar tanto aos fãs antigos quanto aos novatos.

A química entre Ryan Reynolds e Hugh Jackman é a alma de Deadpool & Wolverine. A dupla faz um trabalho maravilhoso ao equilibrar as características contrastantes de seus personagens: a irreverência e o sarcasmo de Deadpool com o sombrio e introspectivo Wolverine. Essa dinâmica não só adiciona profundidade aos personagens, mas também transforma cada interação em um espetáculo de humor e drama que mantém o público mais do que entretido. A habilidade de Reynolds em entregar piadas afiadas e referências a cada 5 segundos é maravilhosa, quando combinada com o desempenho mais reservado, porém eficaz, de Jackman, faz com que o filme se destaque entre os lançamentos recentes da Marvel.

O filme é um banquete para os fãs de quadrinhos, repleto de referências e piadas internas que vão desde comentários sobre a Disney e a compra da 20th Century Fox até piadas sobre o próprio universo cinematográfico da Marvel. Não pensem que a mudança para a Disney fez com que o personagem se tornasse mais “polido” ou regrado, longe disso, aparentemente foi dado plena liberdade para que fosse escancarado tudo que estava entalado na garganta do Mercenário Tagarela.

As sequências de ação são igualmente impressionantes, com coreografias de combate que são ao mesmo tempo brutais e hilárias. A trilha sonora, que inclui hits dos anos 80, adiciona um toque nostálgico e empolgante às cenas de ação, proporcionando uma experiência audiovisual vibrante e envolvente.

No entanto, Deadpool & Wolverine não é isento de falhas. A trama, em sua tentativa de ser uma ode à era pré-Marvel Studios dos filmes de super-heróis, por vezes parece se perder em meio a seu próprio excesso de referências e humor autoirônico. Porém a narrativa, com sua dependência do multiverso, referências e das reviravoltas cósmicas, que poderia parecer confusa e exagerada para aqueles que não estão totalmente imersos no universo Marvel, acaba utilizando isso como piada e transformando tudo em uma opera de absurdos e fan service. A duração do filme, que se estende por mais de duas horas, passa de forma quase que despercebida diante de cada novidade que é entregue, especialmente algumas totalmente inesperadas e que o público achava que estavam mais enterradas no lixo da AVT do que tudo.

Visualmente, o filme apresenta um estilo que combina CGI exuberante com uma estética de prática que remete às origens dos personagens e ao cenário apocalíptico do Vazio. Embora algumas cenas sejam visualmente deslumbrantes, outras podem carecer de um polimento mais refinado, resultando em um visual que pode parecer barato em comparação com o alto orçamento, mas, no geral, só os olhos muito atentos irão perceber.

Em termos de desempenho, Emma Corrin (The Crown) se destaca como Cassandra Nova, oferecendo uma performance que é ao mesmo tempo cativante e perturbadora. A interpretação de Jackman como Wolverine, apesar de ser maravilhoso o ter em tela novamente e finalmente usando a roupa clássica, não consegue atingir a profundidade emocional que muitos esperavam após o sucesso de Logan, trazendo uma nova visão do herói muito anterior a sua última encarnação. Enquanto isso, Reynolds continua a ser o Deadpool definitivo, proporcionando uma atuação que é tanto engraçada quanto carismática e reconfortante, mas que, por vezes, parece se apoiar demais em sua própria fórmula estabelecida.

Apesar do que poderiam ser vistos como falhas em outros filmes, Deadpool & Wolverine é definitivamente um longa que vale a pena assistir para qualquer fã de super-heróis, especialmente aqueles que têm uma forte afinidade com os personagens e o legado da Marvel nos cinemas, não se apegando unicamente ao UCM. A combinação de humor irreverente, ação espetacular e a química inegável entre Reynolds e Jackman cria uma experiência cinematográfica que é tanto uma celebração quanto uma crítica ao gênero dos filmes de super-heróis. É uma lembrança de que, mesmo em tempos de crise criativa, a diversão e a inovação ainda têm um lugar no coração dos fãs e na tela grande.

Resumindo, Deadpool & Wolverine é algo que todos precisavam para voltar aos cinemas e se divertir de forma despretensiosa com seus heróis favoritos.  Uma grande sopa de referências que oferece uma nova perspectiva sobre os super-heróis da Marvel e um filme que, apesar de suas imperfeições, consegue capturar a essência do que fazia o universo Marvel nos cinemas tão cativante temperado com um pouquinho do espírito de Deadpool e Wolverine vivos em um cenário que continua a evoluir e a desafiar as expectativas.

 

Pernambucano, jogador de RPG, pesquisador nas áreas de gênero, diversidade e bioética, comentarista no X, fã incontestável de Junji Ito e Naoki Urasawa. Ah, também sou advogado e me arrisco como crítico nas horas vagas.

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