Críticas | Borderlands: O Destino do Universo Está em Jogo (Borderlands)

Nota
2.5

Desde o lançamento de Guardiões da Galáxia, em 2014, Hollywood parece estar em uma busca incessante por replicar o sucesso da fórmula de equipes desajustadas que salvam o universo.Borderlands: O Destino do Universo Está em Jogo, no entanto, demonstra como essa fórmula pode falhar quando não há um entendimento profundo do material de origem e quando se tenta replicar o sucesso sem inovar ou respeitar as características que fizeram a franquia original se destacar. Borderlands é uma adaptação cinematográfica que promete muito, mas entrega pouco, especialmente para aqueles familiarizados com o universo dos jogos.

A premissa é simples e familiar: um grupo de desajustados se une para salvar o universo. A protagonista, Lilith (Cate Blanchett), é uma mercenária com um passado sombrio e motivações nebulosas, que se vê forçada a aceitar uma missão de resgatar a filha de Atlas (Edgar Ramírez), um poderoso executivo intergaláctico. Ao longo do caminho, ela forma uma aliança improvável com personagens como o soldado Roland (Kevin Hart), a psicótica adolescente Tiny Tina (Ariana Greenblatt), o brutal Krieg (Florian Munteanu), a excêntrica cientista Tannis (Jamie Lee Curtis), e o robô sarcástico Claptrap (voz original por Jack Black).

À primeira vista, o elenco estelar parece promissor, mas é aqui que começam os problemas. O roteiro, escrito por Eli Roth e Joe Crombie, parece não entender o que tornou os personagens dos jogos tão icônicos. Em vez de aprofundar suas histórias e motivações, o filme opta por reescrever partes de suas origens e personalidades, resultando em figuras que parecem superficiais e desconexas. Por exemplo, Tiny Tina, uma personagem conhecida por sua insanidade e humor ácido nos jogos, é retratada de maneira muito mais suave e sem o carisma que a tornou uma das favoritas dos fãs. Da mesma forma, a relação entre Tina e Krieg, que nos jogos é um elemento marginal, é inserida na trama sem muita justificativa, parecendo mais uma tentativa forçada de criar uma conexão sem sentido.

Lilith, que deveria ser a líder carismática do grupo, acaba sendo uma figura genérica, cujas motivações e passado são tão diluídos que até mesmo os fãs mais fervorosos dos jogos terão dificuldade em reconhecê-la e que no fim tem um plot genérico e previsível já na metade do filme. A ausência de coesão entre os personagens e a falta de uma narrativa sólida que os amarre faz com que o filme pareça uma colcha de retalhos, em que eventos e interações acontecem sem uma lógica clara ou propósito.

Cate Blanchett é o grande destaque do filme, trazendo sua habitual intensidade e carisma para o papel de Lilith, uma mercenária com habilidades extraordinárias e um passado complexo. No entanto, mesmo com todo o seu talento, Blanchett não consegue elevar a personagem além das limitações do roteiro, que dilui suas motivações e desenvolvimento em uma narrativa desarticulada. Embora ela ofereça momentos de brilho, a falta de profundidade no material acaba transformando Lilith em uma figura menos impactante do que poderia ser. O mesmo ocorre com Kevin Hart, cuja interpretação de Roland, o soldado endurecido, carece do equilíbrio necessário entre seriedade e humor. Hart luta para dar vida a um personagem que, no final das contas, parece desconectado e sem o peso emocional que a história requer.

Ariana Greenblatt, como Tiny Tina, também sofre com a adaptação de uma personagem que nos jogos é explosiva e imprevisível, mas que no filme é suavizada, perdendo grande parte de sua essência. A química entre ela e Krieg, vivido por Florian Munteanu, é fraca, com Krieg sendo reduzido a um amontoado de frases prontas e força bruta, sem a profundidade necessária. Jamie Lee Curtis, no papel da cientista Tannis, enfrenta um destino semelhante: sua interpretação é forte, mas a personagem é subutilizada, aparecendo tardiamente na trama e com pouco espaço para brilhar. Jack Black, como a voz de Claptrap, talvez seja o único que realmente se destaca, trazendo um alívio cômico consistente e que, ironicamente, acaba sendo um dos poucos pontos altos em um filme que promete muito, mas entrega pouco.

Outro ponto problemático é o humor, ou a falta dele. Enquanto os jogos de Borderlands são conhecidos por seu humor irreverente e situações absurdas, o filme falha miseravelmente em capturar essa essência. As tentativas de piadas são tímidas e mal executadas, e mesmo momentos que deveriam ser engraçados se perdem em um mar de diálogos sem vida e cenas de ação genéricas. Nem mesmo o carismático Claptrap, que nos jogos é uma fonte constante de risos, consegue salvar o filme de seu tom morno e sem graça.

Visualmente, Borderlands acerta em alguns aspectos. A caracterização dos personagens e o design do planeta Pandora são fiéis ao material de origem, com cores vibrantes e uma estética chamativa que remete aos jogos. No entanto, a qualidade dos efeitos visuais oscila, com algumas cenas parecendo inacabadas ou datadas. Além disso, o excesso de cenas escuras e a má utilização de CGI barato dão ao filme uma aparência de produção de baixo orçamento, o que é surpreendente dado o orçamento reportado de 120 milhões de dólares.

A direção de Eli Roth também deixa a desejar. Conhecido por seus filmes de terror, Roth parece fora de sua zona de conforto ao lidar com uma produção tão grandiosa e de um gênero tão diferente. O resultado é um filme que falta identidade, como se estivesse tentando ser várias coisas ao mesmo tempo, mas sem sucesso em nenhuma delas.

No final, Borderlands: O Destino do Universo Está em Jogo é um exemplo clássico de uma adaptação mal executada que falha tanto em agradar os fãs do jogo quanto em conquistar novos espectadores. Embora tenha alguns momentos visuais interessantes e um elenco talentoso, o filme é prejudicado por um roteiro fraco, personagens mal desenvolvidos e uma direção desarticulada. Para aqueles que esperavam ver a riqueza do universo de Borderlands ganhar vida na tela grande, o filme será uma grande decepção. Para os não iniciados, será apenas mais um filme de ação esquecível, perdido em um mar de adaptações de videogames que não conseguiram alcançar seu potencial.

 

Pernambucano, jogador de RPG, pesquisador nas áreas de gênero, diversidade e bioética, comentarista no X, fã incontestável de Junji Ito e Naoki Urasawa. Ah, também sou advogado e me arrisco como crítico nas horas vagas.

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