Nota
Após a separação, Max Bernal (Bobby Cannavale) acabou decidindo se mudar para a casa do pai, Stan Bernal (Robert De Niro), enquanto tenta manter uma boa relação com sua ex-esposa, Jenna (Rose Byrne), e seu filho, Ezra (William A. Fitzgerald). Mas manter a boa relação com sua ex não é nada fácil, principalmente por Max não concordar com a maioria das decisões de Jenna na criação de seu filho autista. Após diversos desentendimentos e por não concordar que Ezra deve frequentar uma escola especial para crianças com autismo, Max decide sequestrar o seu filho para uma viagem de carro, na tentativa de “salva-lo” das decisões da sua mãe. Mas essa viagem vai servir para Max de fato conhecer o seu filho e descobrir como é ser um pai de uma criança neurodivergente.
O ator Tony Goldwyn, que atuou em diversos filmes relevantes como Oppenheimer e King Richard, volta a dirigir filmes após um hiato de treze anos, dessa vez mais ousado, saindo do seu núcleo anterior em romances clichês. Mas mesmo sendo uma inovação para a filmografia do diretor, Meu Filho, Nosso Mundo parece uma réplica de vários filmes compilados em um só, reduzindo o que poderia vir a ser uma boa mensagem em apenas um grande compilado de clichês. O filme aparenta ter pego inspiração em Rain Man, ganhador do Oscar de Melhor Filme em 1988 e estrelado por Tom Cruise e Dustin Hoffman, que conta a história de vendedor que descobre ter um irmão autista e precisa aprender a lidar com ele para conseguir a herança do pai em uma jornada numa viagem de carro. Misturado a isso, o enredo do diretor parece agregar referências de outro ganhador de Melhor Filme, dessa vez em 1980, Kramer vs. Kramer, que acompanha um pai que aprende a cuidar do seu filho após a mãe do garoto fugir de casa. E mesmo sendo algo recorrente na indústria, referenciar e pegar inspiração de outros filmes, aparenta que Tony Goldwyn pegou os pontos mais clichês de cada um desses filmes, de Rain Man todos os maus tratos que o personagem do Tom Cruise faz com seu irmão ao longo do filme por não saber lidar com uma pessoa autista, e de Kramer vs. Kramer o velho enredo de “pai ruim tentando melhorar para se tornar um bom pai” que já foi utilizado diversas vezes em diversos filmes.
Meu Filho, Nosso Mundo conta com um ótimo elenco, e isso com certeza foi o maior acerto do filme, por diversos motivos. Obras que costumam retratar personagens neurodivergentes costumam se utilizar de “cripface”, a prática de usar atores neurotípicos em papéis neurodivergentes, o exemplo atual mais popular é da série The Good Doctor, onde o ator Freddie Highmore faz um personagem autista, enquanto o ator não é. O ator William A. Fitzgerald, que interpreta o Ezra, de fato é autista na vida real, o que contribui para a sua atuação não recair em estereótipos caricatos e que promovem a desumanização de pessoas neurodivergentes, além de promover mais oportunidades para um grupo minoritário que já tem pouquíssima representação na mídia. Muito se discutiu após o filme sobre a representação do filme ser um respiro após anos e anos de más representações sobre autismo na mídia e de fato William faz um trabalho excelente, trazendo um olhar mais sério sobre o assunto de uma forma mais acurada com a realidade.
Ainda assim, a construção do personagem de Bobby Cannavale é o que decepciona. Toda a construção do enredo é voltada para que o espectador torça por esse pai, mas que ao mesmo tempo se mostra cada vez mais um pai que não conhece o seu próprio filho, não sabe e não tem interesse em aprender a lidar com as particularidades e necessidades de Ezra, exibindo de fato um show de horrores a medida que essa jornada vai se estendendo. Por um outro lado, o filme poderia dar mais foco não só ao próprio Ezra, como também a sua mãe, Jenna, que mostra-se cansada por sua rotina e seria uma personagem muito mais fácil de criar empatia para com essa situação. Rose Byrne, inclusive, que dá um show de atuação nos momentos dramáticos do filme, que é uma personagem interessantíssima, mas infelizmente foi colocada em segundo plano.
Apesar de Meu Filho, Nosso Mundo trazer uma boa representação, o filme recai em velhos clichês tornando um filme uma enorme decepção. Mesmo com um grande acerto de elenco e com a escolha de William A. Fitzgerald, um ator autista para interpretar um personagem autista, o enredo do filme não desenvolve bem seus personagens, sendo um grande desperdício de grandes talentos. O diretor Tony Goldwyn, que após treze anos voltou a dirigir filmes, parece que ainda não maturou o suficiente da sua experiência com romances e comédias românticas para tentar temas e gêneros diferentes, fazendo do seu novo filme uma grande mistura de inspirações de outros grandes filmes em um só.