Crítica | Os Fantasmas Ainda Se Divertem: Beetlejuice Beetlejuice (Beetlejuice Beetlejuice)

Nota
4

O retorno de Tim Burton ao universo gótico e extravagante de Os Fantasmas Ainda se Divertem: Beetlejuice Beetlejuice é, para muitos, uma viagem nostálgica que revisita um dos ícones do cinema de fantasia dos anos 80. Quando o filme original foi lançado em 1988, ele trouxe uma mistura peculiar de terror e comédia que cativou tanto adultos quanto jovens espectadores. Agora, décadas depois, essa sequência se propõe a recriar essa magia, mas com uma narrativa mais complexa e que, por vezes, podem se tornar cansativa. Contudo, para os fãs saudosistas, o excesso de referências e a reunião de rostos conhecidos como Winona Ryder, Catherine O’Hara e Michael Keaton são motivos suficientes para embarcar nessa nova aventura.

Um dos pontos altos desta sequência é, sem dúvida, o elenco. Winona Ryder retorna como Lydia Deetz, a gótica médium que agora se encontra em um conflito entre seu tempo como estrela de TV e mãe, tentando lidar com a rebeldia de sua filha Astrid, interpretada por Jenna Ortega. Ortega, que já se destacou em produções como Wandinha, parece se sentir em casa no papel de filha de Lydia, conseguindo captar tanto a sensibilidade quanto o sarcasmo que caracterizam o estilo de Tim Burton. Catherine O’Hara, por sua vez, mantém seu alívio cômico como a excêntrica Delia Deetz. Sua interpretação é repleta de momentos exagerados, o que a torna uma das personagens mais marcantes do filme.

O filme explora com humor e sensibilidade a relação conturbada entre avó, mãe e filha. A interação entre elas revela o contraste de gerações, abordando temas como legado familiar e os desafios de comunicação entre essas mulheres. Essa relação, por vezes tensa e cheia de conflitos, também carrega momentos de vulnerabilidade e ternura, mostrando como essas personagens, apesar de suas diferenças, compartilham uma conexão. Michael Keaton, mais uma vez, rouba a cena como o excêntrico Beetlejuice. Seu retorno ao papel é repleto de energia, e suas piadas e manias grotescas são uma constante fonte de humor no filme. No entanto, é difícil não notar que o personagem parece menos perigoso e caótico do que antes, o que pode decepcionar alguns fãs. Burton tenta compensar essa suavização de Beetlejuice com a introdução de novos personagens.

Um dos aspectos mais marcantes de Beetlejuice Beetlejuice é o design visual. Tim Burton, conhecido por seu estilo único e bizarro, traz à vida um mundo cheio de detalhes meticulosamente construídos. As cenas no Além são especialmente impressionantes, com cenários que parecem saídos de um pesadelo lúdico. A combinação de efeitos práticos e animação stop-motion, uma marca registrada de Burton, é um deleite visual que evoca o charme do filme original. No entanto, por mais impressionante que seja o design, ele não consegue salvar a narrativa que, em muitos momentos, parece estar mais interessada em exibir seus efeitos visuais do que em desenvolver uma história coesa.

A trama principal, que inclui desde a fuga de Beetlejuice da sua ex-esposa, Delores, até o conflito entre Lydia e Astrid, acabam parecendo se fragmentar a medida que ainda mais subtramas vão sendo inseridas e tentam achar um espaço de tela que lhes aproveite. Há momentos em que parece que o filme está tentando abarcar mais do que deveria, introduzindo personagens e situações que não têm tempo para se desenvolver adequadamente. Isso é especialmente evidente na maneira como os personagens secundários são tratados. Willem Dafoe, por exemplo, é desperdiçado em um papel que poderia ter sido muito mais impactante, mas que acaba sendo reduzido a piadas repetitivas.

Ainda assim, para os fãs do original, há muito o que amar na sequência. As referências e homenagens ao filme de 1988 são abundantes, desde o retorno dos modelos em miniatura até a icônica música “Day-O”, de Harry Belafonte, que mais uma vez rouba a cena. Essas lembranças do passado são claramente destinadas a agradar aqueles que cresceram com o filme, e para muitos, isso será o suficiente. No entanto, para quem não está familiarizado com o original, o excesso de nostalgia pode tornar o filme um tanto desorientador.

Os Fantasmas Ainda se Divertem: Beetlejuice Beetlejuice pode não capturar totalmente o frescor e o impacto do original, mas acerta em explorar novas camadas visuais, mergulhando ainda mais fundo no universo criativo de Tim Burton. A direção de arte exuberante e os efeitos práticos ganham destaque, criando uma atmosfera de fantasia sombria que encanta visualmente. Embora o enredo por vezes tropece, o filme se beneficia de sua estética singular e da energia vibrante do elenco. Para os fãs de longa data, há um certo charme em revisitar esse mundo peculiar, enquanto novos espectadores podem se maravilhar com a extravagância visual e a irreverência do personagem principal.

 

Pernambucano, jogador de RPG, pesquisador nas áreas de gênero, diversidade e bioética, comentarista no X, fã incontestável de Junji Ito e Naoki Urasawa. Ah, também sou advogado e me arrisco como crítico nas horas vagas.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *