Nota
Judy Hopps, uma coelha da zona rural, realiza seu sonho de se tornar a primeira oficial coelho no departamento de polícia da cidade vizinha, Zootopia, mas, duvidando de sua capacidade, o Chefe Bogo a coloca como guarda de trânsito. Durante um dia de trabalho, Judy acaba conhecendo Nick Wilde e Finnick, uma dupla de criminosos que ganham a vida enganando os habitantes da cidade. Após um confuso acontecimento, que culminou com Judy prendendo o ladrão Duke Doninha, a vice-prefeita Bellwether obriga Bogo a dar à Judy o caso do marido desaparecido da Sra. Lontroza, algo que ele faz a contragosto, logo depois de dar à coelhinha 48 horas para solucionar o caso, com a condição dela demitir-se se falhar. Judy então se junta a Nick, chatageando o criminoso, e começa uma frenética investigação para salvar sua carreira e provar seu valor.
Com paradigmas que abordam a diferença entre os animais, mas que aludem ao racismo, a diferenças de classe e tantas outras questões, o longa aborda os dilemas de ser uma “presa” e não um “predador”, mostrando o preconceito enraizado na sociedade ao vermos certos animais encontrando obstaculos ao serem colocados em cargos menores quando se é presa e cargos mais chamativos quando se é predador. A produção faz questão de ficar o tempo todo levantando o enredo de não julgar o livro pela capa, temos o oficial Onça que é fofinho, a toupeira chefe da máfia, entre outros. Vemos um herói politicamente correto lidando com um anti-heroi nada correto, de forma que ambos vão estreitando a relação, construindo uma cumplicidade e camaradagem de parceiros de investigação que já é comum em tantos filmes, ao mesmo tempo que Judy precisa lidar com todas as malicias na vida da cidade grande, o que faz com que os espectadores comparem bastante com a vida real.
O diretor e roteirista Byron Howard, em parceria com Rich Moore, traz para o filme o clima de cidade grande e do dia-a-dia de cada animal de uma forma incisiva, cada estereótipo dentro da sociedade humana está presente naquele ambiente, com muitas piadas visuais inteligentes, como é o caso da cidade dos roedores com grandes engarrafamentos, a sorveteira com elefantes tendo problemas de higiene pelas trombas, o departamento de trânsito ter os atendentes sendo bichos-preguiça ou os seguranças noturnos serem lobos, que param pra uivar pra lua. A direção de arte é impecavel, cada cenário, cada ambiente, tem uma atmosfera própria, com espaços para que cada subespécie de animal expresse jeito próprio de agir e de funcionar.
Zootopia traz, através de sua trama, mistério, investigação e plot twists, cada referência que somos expostos do começo ao fim do filme é uma aula de narrativa e roteiro, a produção ainda consegue contruir um cenário que parece beber de tantas referencias da cultura pop, é possivel ver traços tirados tanto dos filmes da franquia Kung Fu Panda como de Avatar: A Lenda de Aang, que faz com que vejamos grandes cidades populadas por arquétipos bem marcados de personagens.
O enredo é fluído, e com um design tão bem feito e expressivo, logo o publico se conecta e passa a entender quem é Judy Hopps em sua essencia e quais são seus objetivos, mas é surpreendente o que fazem com Nick, que nos faz questionar o filme inteiro os motivos que o levaram a ser tão frio e realista, para sermos impressionados quando é revelada sua história de origem, pronta para nos comover. Varios elementos da Jornada do Héroi vão surgindo a medida que o filme se desenrola, brincando com a forma como, no mundo real, histórias são utilizadas pela mídia para trazer uma narrativa deturpada e o quanto certos posicionamentos podem afetar diretamente a sociedade num geral, principalmente quando estamos falando da posição delicada de oficiais de polícia.
Zootopia marca uma nova era de animações que entretém adultos e crianças, a obra da Disney consegue divertir tanto aos pais como a seus filhos, já tendo inclusive uma sequencia garantida, mas com a quantidade de lançamentos programados, fica um certo receio no ar, será que será entregue a mesma qualidade marcante das animações Disney/Pixar anteriores? Temos que parabenizar mais uma vez a dublagem nacional, que apesar de investir em Star Talent, consegue fazer uma escolha certeira ao colocar Rodrigo Lombardi como Nick e Monica Iozzi como a Judy, uma dupla que entrega uma química maravilhosa em todo filme.
Lucas Vilanova
Formado em cinema de animação, faço ilustrações, sou gamer, viciado em reality shows, cultura pop, séries e cinema, principalmente terror/horror