Crítica | O Bebê de Rosemary (Rosemary’s Baby)

Nota
4.5

Rosemary Woodhouse (Mia Farrow) e Guy (John Cassavetes) visitam um apartamento no Bramford, um luxuoso e antiquado edifício em Nova Iorque. Durante a visita, o gerente do edifício, Sr. Nicklas (Elisha Cook. Jr) comenta sobre a habitante anterior, a Sra Gardenia, uma mulher idosa que, segundo ele, tinha sido senil, o casal nota algumas coisas estranhas espalhadas pela casa, dentre elas um grande móvel bloqueando um armário que tinha apenas um aspirador e alguns panos. O amigo do casal, Hutch (Maurice Evans), tenta convencê-los a não alugar o imóvel, contando um pouco da história macabra do edifício, que já presenciou atos de terror e bruxaria, mas é ignorado pois o casal é estranhamente atraído pelo apartamento e logo fecham contrato.

Tudo parece mudar quando conhecem seus vizinhos, Minnie (Ruth Gordon) e Roman Cassevet (Sidney Blackmer), um casal excêntrico de idosos que os convida para um jantar. Aos poucos eles vão entrando na vida do casal e coisas estranhas vão acontecendo, Rosemary então começa a questionar sua sanidade quando se encontra grávida e descobre os segredos que o Bramford esconde. O Bebê de Rosemary, baseado no livro homônimo de Ira Levin, é considerado um dos clássicos do horror, mas como uma trama simplória seria capaz de alcançar esse patamar?

Mia Farrow se entrega completamente à sua personagem, uma jovem ingênua que deseja apenas viver uma vida tranquila com seu marido e ter muitos filhos. Vemos a sua mudança surgir lentamente, a começar pelas estranhas visões que começam a surgir no início de sua gravidez e vai aumentando à medida que ela vai descobrindo segredos que são duramente confrontados, culminando na sensação de que ela não pode confiar em ninguém, assim vemos a atriz expressar todo o desespero e angústia, além de nuances de histeria e paranoia que a personagem demanda, sem dúvidas uma atuação fenomenal.

Ruth Gordon não parece fazer o mínimo esforço para prender a atenção do espectador, sua atuação transita constantemente entre o cômico e o bizarro, e claro traz todo o suspense necessário para que desconfiemos de cada coisa que Minnie faz. A personagem é responsável por toda a movimentação da trama, trazendo um mistério profundo sobre a real intenção dos vizinhos e nos fazendo compreender na hora exata todos os aspectos manipuladores e obscuros que a trama esconde. Sua maestria rendeu o Oscar de melhor atriz coadjuvante.

O Bebê de Rosemary foi a estreia do polonês Roman Polanski em Hollywood, e pelo visto deram total liberdade para a adaptação do livro, o roteiro conta com um princípio simples, sem grandes firulas, mas que trabalha com maestria o psicológico de sua protagonista e faz o espectador se questionar sobre a confiabilidade da narração, ela passou por isso ou está tendo alucinações devido à fragilidade de Rosemary? Dentro de todos os questionamentos, Polanski também aprofunda (na medida necessária) cada um dos personagens, aos poucos vamos vendo mais nuances e camadas vão sendo reveladas, tudo em prol do mistério em que o enredo permeia.

Além da trama bem construída, podemos ver de forma sutil algumas temáticas sociais presentes e relevantes na década de 60, a principal delas é o direito da mulher, onde podemos perceber como a protagonista é jogada de um lado para o outro, sem ser ouvida dentro de suas dores, considerada histérica por querer o mínimo, garantir a sobrevivência de seu bebê. A trilha sonora fortalece o teor misterioso do filme, Krzysztof Komeda compreendeu bem a essência do filme, amplificando a sensação claustrofóbica que é passada. Por mais que seja muito bem construído, o longa parece se alongar demais em sua primeira hora, fazendo o espectador sentir o tempo de tela.

Não há dúvidas dos motivos pelos quais O Bebê de Rosemary se consolidou como um clássico, mesmo com um ritmo mais lento, a forma como a trama se desenvolve é única e prende o espectador. Além disso é amplamente referenciado em diversas produções, inclusive recentes, definindo muitos aspectos sobre satanismo e se destacando dentro do gênero, já que não trabalha o terror de forma exaustiva, mas sim como um elemento condutor da trama.

 

Graduado em Biológicas, antenado no mundo geek, talvez um pouco louco mas somos todos aqui!

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