Crítica | O Quarto ao Lado (The Room Next Door)

Nota
5

O Quarto ao Lado, novo filme de Pedro Almodóvar, apresenta a narrativa de duas jornalistas: Ingrid (Julianne Moore), uma escritora de auto-ficção, e Martha (Tilda Swinton), uma correspondente de guerra, as quais estudaram juntas e se reencontram em um momento delicado após anos sem manter contato. Embarcando em reflexões acerca do limiar entre vida e morte, uma delas se depara com uma decisão bastante importante e difícil para ser feita. Assim, a nova obra de Almodóvar apresenta um teor bastante filosófico, leve e delicado, cativando o espectador, que ficará vidrado em uma narrativa realista, emocionante e paradoxalmente encantadora.

Trazendo o seu toque de autenticidade e marca registrada, Pedro Almodóvar consegue abordar assuntos considerados tabus, difíceis de ser digeridos pela sociedade, de forma generalizada, de uma maneira tão leve e ao mesmo tempo tão profunda. Os dramas do diretor não acontecem de forma apelativa, e O Quarto ao Lado deixa esse fato bastante evidente devido à delicadeza presente em todos os âmbitos da narrativa. Antes de elogiar os diálogos que são belíssimos e muito bem escritos, é importante enaltecer a atuação de ambas as protagonistas. Em uma obra na qual existem poucos personagens, assim como um enredo mais sucinto, a completude de O Quarto ao Lado se dá a partir da sublimidade e intensidade presente nas conversas trazidas pelo diretor. Fugindo de padrões hollywoodianos, pautados em uma ideia comercial e mais “dinâmica”, as obras de Almodóvar seguem o seu próprio ritmo, sem receios ou mirabolâncias.

Dessa forma, capturando as nuances da complexidade da existência humana, O Quarto ao Lado carrega um realismo cativante, que leva o espectador para um local de profunda reflexão e até mesmo auto-análise. Trazendo protagonistas femininas fortes, o diretor acaba por retratar também as nuances dessas existências, abordando suas vulnerabilidades perante os árduos caminhos da vida. Ademais, é interessante perceber a despretensiosidade de Almodóvar perante O Quarto ao Lado. Não existe uma necessidade de “surpreender” o público através de algum plot twist muito revelador, ou alguma cena muito chocante. Tudo acontece de forma muito fluida, sútil e acima de tudo: natural. Assim, o diretor consegue realizar de maneira majestosa um filme que prende a atenção do público do início ao fim, sem ter que recorrer a extravagâncias narrativas. Ou seja, apenas seguindo o percurso instintivo de suas obras, ele consegue alcançar o seu principal objetivo: de provocar o espectador e transportá-lo para um panorama filosófico-existencial que é tão real, que chega a soar familiar.

Portanto, O Quarto ao Lado é mais uma obra de drama extraordinária de Pedro Almodóvar, o qual continua seguindo a sua essência cinematográfica, deixando sua marca no espectador. Essa sutileza cinematográfica, acompanhada de uma sublimidade existencial e filosófica, em um ritmo fluido e cativante, é o que torna O Quarto ao Lado uma obra digna de se tornar um grande nome para o Oscar 2025. Sendo assim, não há outro caminho crítico que não seja enaltecer esse grande filme de 2024. O Quarto ao lado, por conseguinte, consegue entregar até mais do que todo fã/público dos filmes de Almodóvar espera por suas obras, emocionando-os de uma forma única e esplendorosamente Almodoviana.

 

Estudante de cinema, pernambucana

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