Nota
Lançado em 2012 e dirigido por Tim Burton, Sombras da Noite é uma comédia e fantasia que narra a história de Barnabás (Johnny Depp), um jovem rico que tem tudo o que quer, na hora que quer. No entanto, após seduzir e partir o coração da Angelique Bouchard (Eva Green), sem saber que se tratava de uma bruxa, ele é amaldiçoado; transformado em um vampiro e preso em uma tumba por dois séculos. Então, quando ele enfim desperta, se depara com um mundo completamente diferente, o qual ele não está familiarizado. Indo atrás de sua antiga propriedade e parentes distantes, ele adentra nos caminhos dessa família, percebendo que essas pessoas escondem diversos segredos um dos outros.
Seguindo o alto padrão dos filmes de Burton, Sombras da Noite possui características bastante marcantes no tocante à direção de arte e cenografia. Contudo, o filme se perde muito no tom da comédia, ao deixar a estrutura narrativa em si em segundo plano, tornando-se uma grande bagunça. É inegável que existe um trabalho louvável na dramaturgia. Todos os personagens são icônicos e muito bem construídos. Desde o Barnabás, até a Victória Winters (Bella Heathcore), Angelique Bouchard, Dra. Júlia Hoffman (Helena Bonham Carter), Elizabeth Collins (Michelle Pfeiffer) e Carolyn Stoddard (Chloë Grace Moretz), bem como a relação e interação entre todos eles. Existe um aspecto bastante teatral presente em Sombras da Noite, que é característico dos próprios filmes de Burton. Esse fator acaba por trazer bastante originalidade e plasticidade ao filme.
Ademais, é imprescindível comentar sobre a cenografia e direção de arte do longa. Também característico de Burton, existe um cuidado e minúcia muito grandes na escolha da paleta de cores, figurinos, maquiagens e cenários. Tudo é muito bem pensado, detalhado e claramente um esplêndido resultado de um grande trabalho e orçamento. Portanto, Sombras da Noite acaba por atrair um público infantil bem grande devido a esses aspectos bastante caricatos, chamativos, categorizando-o enquanto um típico filme de Halloween para a família.
Porém, o ponto fraco de Sombras da Noite está no desenrolar da narrativa. Ao focar em uma comédia exageradamente desnorteada, o filme, apesar de possuir cenas divertidas e bem encenadas, se perde totalmente, principalmente da metade para o final. A partir daí ele começa a apresentar diversas narrativas que não são concluídas, inconsistência na apresentação dos personagens, que apesar de entregarem atuação são apenas jogados e pouco desenvolvidos e consequentemente uma bagunça generalizada.
Sendo assim, apesar de apresentar uma dramaturgia impecável e direção de arte cara e belíssima, o filme, ao focar tanto na plasticidade, deixa de lado o principal: o roteiro. Desperdiçando atores e personagens de grande potencial, a obra erra demasiadamente ao trazer uma narrativa perdida. Diante dessa falha, Sombras da Noite acaba até mesmo por perder parte do posto de relevância na filmografia de Tim Burton, sendo recorrentemente esquecido pelo grande público que se afeiçoa por obras mais marcantes do diretor. A produção tinha tudo para ser um marcante filme de Halloween, mas diante de um roteiro sem rumo, ele se destaca apenas pela sua estética.
Júlia Santiago
Estudante de cinema, pernambucana