Nota
“ – A estrada para a Cidade das Esmeraldas é toda calçada de tijolos amarelos – disse a Bruxa. – Você não tem como se perder. Quando estiver com Oz, não tenha medo: conte sua história e peça a ajuda dele.”
Dorothy vivia nas cinzentas pradarias do Kansas, com seu Tio Henry e sua Tia Em e, embora todo seu mundo fosse cinza, a garota conseguia crescer cheia de cor, boa parte pela alegria que Totó, seu cachorrinho, trazia a sua vida. Mas, mesmo sua terra pacata tinha seus problemas e um deles virou seu mundo de cabeça para baixo. Em um dia como outro qualquer, um misterioso furacão assolou a fazenda e, sem mais ou menos, arrancou a casa da família do chão, levando Dorothy e Totó pelos ares. Quando tudo se acalma, a garota percebe que não está mais no Kansas e que eles foram arrastados para um lugar maravilhoso e colorido chamado de Terra de Oz.
Supressa, a garota percebe que sua casa caiu sobre a poderosa Bruxa Má do Leste, o que a torna uma grande heroína naquele reino. Gratos pela libertação, os habitantes aconselham Dorothy a seguir a estrada de tijolos amarelos até a estonteante Cidade das Esmeraldas, onde ela pode encontrar a única pessoa que pode realizar seu desejo de retornar ao Kansas: o Grande e Terrível Mágico de Oz!
“ – Sou Oz, Grande e Terrível. Quem é você, e por que me procura?”
Desde cedo, Lyman Frank Braum se mostrou um ótimo contador de história, sendo uma criança sensível e com uma imaginação fora do comum, mas, por muito tempo, suas narrativas permaneceram presas dentro de seu âmbito familiar, principalmente para seus filhos que adoravam as histórias que criava. Após uma série de tentativas profissionais, ele começou a colocar no papel aquilo que borbulhava em sua mente, principalmente as histórias fantásticas que insistiam em transbordar no seu inconsciente. Se Alice foi um grande marco infantil do Reino Unido, O Mágico de Oz trouxe o mesmo peso para o novo mundo. E, embora eles tenham uma importância literária imensurável, as semelhanças acabam por aí. Enquanto o primeiro aproveita o nonsese fantástico para construir sua fábula, o segundo partiu para uma construção mais direta, cheia de personagens falsos que encantavam com seu cerne quase poético.
Braum nunca utilizou as descrições para construir seu mundo, mas as reações genuínas de seus personagens para aprofundar sua atmosfera, trazendo personas tão interessantes que nos conquistam assim que aparecem nas páginas. É incrível ver como as lições presentes na narrativa se mostram tão atuais e magníficas mesmo tendo mais de um século de seu lançamento.
Dorothy é uma protagonista forte, determinada e extremamente focada, que, por mais que fique encantada com o mundo, nunca se deixa seduzir pela beleza que ele apresenta. Embora ache tudo muito deslumbrante, a garota está mais que determinada a voltar a seu mundo sem cor, reafirmando que, por mais sem graça que possa parecer, não existe lugar no mundo como nossa casa. Reunida com companheiros bastante peculiares, a garota tem um senso de gentileza adorável, que nos aproxima desde sua apresentação. E é exatamente nessas diferenças que mora o brilhantismo da trama de Braum.
Seja pelo Espantalho que busca um cérebro, o Lenhador de Lata que anseia por um coração ou até mesmo no Leão Covarde que procura sua coragem, cada um dos companheiros de viagem crescem em seu aprofundamento ao longo da narrativa. Conforme avançamos pela colorida jornada, percebemos que a ausência desses fatos torna cada um mais cuidadoso, demostrando que, as vezes, o que procuramos está presente desde o primeiro momento. Por exemplo, o Espantalho se acha tolo, mas é dele que vem a maioria das ideias para solucionar os problemas. O Lenhador de Lata, por não possuir um coração, tenta ser gentil e bondoso com qualquer criatura que encontre no caminho, enquanto o Leão enfrenta os perigos mesmo temendo a própria sombra. E o quinteto (sim, quinteto, já que Totó é tão importante para a narrativa quanto todos os outros) se juntam em uma unidade coesa, vencendo as dificuldades e avançando em busca do seu objetivo.
Enquanto o mundo é repleto de bruxas boas e más (quatro delas, ao total), o Mágico de Oz se encontra no centro do reino e é um incógnita até para seus súditos. A figura do mágico é uma das mais misteriosas da trama, por que ninguém na Terra de Oz parece conhecer sua verdadeira aparência e essa é a verdadeira graça em sua presença. Aprendemos a temer o desconhecido e, quando enfim temos chance de confronta-lo, percebemos que não era tão imponente assim. Braum nos presenteia com um universo ímpar que transborda com sua originalidade. Embora seja simplista em muitos momentos, é inegável que seus signos se mostram tão presentes que atravessam as páginas para nosso imaginário coletivo. Afinal, mesmo quem não leu O Mágico de Oz reconhece os sapatinhos mágicos (que aqui são de prata e não de rubi), a Cidade Esmeralda ou, até mesmo, a incomparável estrada de tijolos amarelos que nos guia durante a leitura. Um verdadeiro deleite imaginário.
A edição de bolso da Zahar não deixa em nada a desejar para o universo que almeja representar. Repleta das originais ilustrações de W. W. Denslow, paginas amareladas e a ótima tradução de Sérgio Flaksman, a edição em capa dura é um verdadeiro achado editorial e um item indispensável para os amantes de literatura. Repleta de uma doçura inebriante, O Mágico de Oz é uma obra atemporal que nos mostra que, as vezes, o que mais procuramos está dentro de nós mesmos. Vale a pena pegar a estrada de tijolos amarelos para encontrar esse universo maravilhoso, mas, por mais cinzento que possa parecer, não existe lugar como nosso lar.
“ – Por mais que as nossas casa sejam tristes e cinzentas, nós, as pessoas de carne e osso, preferimos viver nelas do que em qualquer outro lugar, mesmo o mais lindo dos mundos. Não existe lugar igual à casa da gente.”
Ficha Técnica |
Livro 1 – Livros de Oz
Nome: O Mágico de Oz Autor: L. Frank Baum Editora: Zahar |
Skoob |
Phael Pablo
Preso em um espaço temporal, e determinado a conseguir o meu diploma no curso de Publicidade decidi interagir com o grande público e conseguir o máximo de informações para minhas pesquisas recentes além, é claro, de falar das coisas que mais gosto no mundo de uma maneira despreocupada e divertida. Ainda me pergunto se isso é a vida real ou apenas uma fantasia e como posso tomar meu destino nas minhas mãos antes que seja tarde demais...