Crítica | Cabrini

Nota
3.5

O novo filme de drama e docuficção da Angel Studios, Cabrini, dirigido por Alejandro Monteverde, retrata a história de Francesca Cabrini (Cristiana Dell’Anna), uma mulher considerada “Padroeira dos imigrantes” e a primeira cidadã norte-americana a ser canonizada pela igreja Católica. Trazendo um aspecto um tanto disruptivo para narrativas cristãs, Cabrini dá bastante ênfase ao âmbito feminista presente na existência de Francesca enquanto uma mulher pioneira de movimentos importantes para o cristianismo na época, desafiando as estruturas patriarcais demasiadamente enraizadas nas instituições católicas. Dessa maneira, o filme surpreende ao utilizar-se de uma narrativa documental para trazer um enfoque ao pioneirismo de mulheres liderando movimentos e ações da igreja. No entanto, fica perceptível que faltou um aprofundamento maior na vivência de protagonista, assim como no seu projeto em si.

Diante do conservadorismo pregado por diversas instituições religiosas cristãs, fica muito difícil abrir brechas para falar sobre preconceitos estruturais que assolam desde fiéis até mesmo membros de igrejas. Existe um negacionismo muito forte no que diz respeito a discussão acerca dessas problemáticas, tendo em vista o sistema operar sempre a favor da manutenção do poder, poder este que está totalmente pautado na existência masculina, branca, cisgênera e heterossexual. Resgatar a vivência de uma mulher membro da igreja católica sem negar os inúmeros obstáculos e dificuldades enfrentadas por ela para chegar até ali, é algo diferente de boa parte das narrativas audiovisuais cristãs. Sendo assim, o filme Cabrini traz uma perspectiva bastante importante, feminista e, de certa forma, até mesmo realista sobre essa vivência feminina de 1877. É bastante interessante e inspirador observar os mecanismos utilizados por Cabrini, a qual abre brechas em caminhos difíceis e tortuosos para conseguir concretizar os seu plano de ajudar crianças imigrantes. Enfrentando essas figuras masculinas, o filme também consegue trazer uma noção um tanto verdadeira sobre membros da igreja católica, tirando-os do pedestal em que geralmente são colocados e deixando uma evidente reflexão para o espectador acerca das ambições e disputas por poderes que existe nessas instituições.

Consecutivamente, Cabrini possui uma fotografia bastante interessante, que orna muito bem com a época e o contexto narrativo da obra. No entanto, existe um perceptível vazio dentro do filme, que faz com que 2 horas e 25 minutos não sejam tão bem aproveitados. A sensação que dá é que a obra além de ser lenta, demora a entrar em um fluxo. Existiram alguns problemas na escrita do roteiro que fizeram Cabrini se estender tanto e ao mesmo tempo não conseguir aprofundar por completo na existência da Francesca. O espectador anseia por entender melhor sobre a Cabrini, seu projeto, os encaminhamentos dele e o desfecho de tudo isso. Mas o filme enrola tanto, que quando tudo acontece, o público já não se encontra no mesmo anseio de antes. Existe um cansaço. Este advém do fato de que boa parte da narrativa que não é fluida, apenas se arrasta. Portanto, com um roteiro mais bem escrito seria possível reduzir a obra para 1 hora e 40 ou 2 horas e conseguir falar sobre tudo de forma mais circular e abundante, fator que consequentemente deixaria o público mais vidrado.

Logo, fica evidente que Cabrini traz uma narrativa muito importante, e consegue construir isso melhor do que muitas outras obras da Angel Studios podendo ser considerado facilmente um dos melhores filmes já produzidos pelo estúdio. Sendo assim, mesmo com os evidentes problemas na construção do roteiro, Cabrini tem uma grande relevância não só para a filmografia cristã, como também para diversos âmbitos, já que a obra consegue atingir não somente esse tipo de público cristão, como também desperta a curiosidade de pessoas que não necessariamente são religiosas mas têm interesse em conhecer a jornada da uma mulher importantíssima para os imigrantes do século XIX. Portanto, mesmo de maneira levemente arrastada e cansativa devido aos perceptíveis impasses narrativos, Cabrini consegue entregar o que promete, além de surpreender o espectador.

 

Estudante de cinema, pernambucana

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