Nota
Yuck!, curta-metragem de animação dirigido por Loïc Espuche e indicado ao Oscar 2025, é uma obra que, apesar da simplicidade, cativa o espectador através da sua sensibilidade. Não prometendo uma narrativa mirabolante, o filme aborda de forma lúdica e simbólica a relação das crianças com o amor romântico, retratada através do desejo de beijar. É muito interessante observar como é construído o diálogo entre a infância e o desconhecido e como os sentimentos paradoxos e bastante enfáticos de repulsa e nojo são, na verdade, um reflexo do medo por explorar aquilo que se deseja vivenciar.
Dessa maneira, Yuck!, mesmo que de forma simplória, explora aspectos filosóficos da inocência infantil e a percepção de como o amor é demonstrado fisicamente. É bastante comum que algumas crianças reajam de forma repulsiva a demonstrações de afeto romântico e o filme aborda justamente o ponto em que esse “nojo” na verdade mascara um desejo. É bastante importante perceber como Yuck! retrata as noções de sexualidade que desde já permeiam a existências de crianças e de certa forma são indissociáveis da experiência de qualquer pessoa, desde a infância.
A magia de Yuck!, então, está na forma honesta em que é representada essa poética contradição entre repulsa e desejo. O glitter na boca das pessoas então é mais uma ênfase na noção do beijo enquanto importante ato de afeto, e como as crianças começam a perceber isso por si mesmas, inconscientemente. É entender que certas coisas, apesar de explicadas, só são realmente compreendidas quando são sentidas. O beijo então, é representado através da sua magia, um misto de prazer sensorial com afeto.
Por conseguinte, Yuck! é o retrato da curiosidade mais pura que existe, que é aquela despertada durante a infância. O curta-metragem consegue, através da simplicidade, retratar a magia de um dos atos mais puros e afetuosos que podem existir, e o quão lindo é perceber isso através das lentes de uma criança.