Resenha | Celular

Nota
3.5

“Ele já havia tomado sua decisão. Era loucura, é claro, mas aquele tinha se tornado um mundo louco, e aquilo deixava tudo em perfeita sintonia.”

Clayton Riddell estava satisfeito, finalmente conseguiu fechar um grande acordo e vender sua primeira graphic novel. Agora tudo seria diferente, ele finalmente ia poder provar que seu “hobbie caro” não era apenas um passatempo inútil, ele ia poder resolver as coisas… e então o mundo desmoronou.

O evento conhecido como O Pulso começou às 15:03 na tarde de 1° de Outubro, um evento que transformou todos que usavam o celular naquele momento em criaturas violentas e com impulsos destrutivos (que ficaram conhecidas como Fonálticos), apagando qualquer traço se humanidade existente em seu ser. Por sorte, Clay não possui um celular e, em seu desespero para deixar Boston e reencontrar sua ex esposa Sharon e seu filho Johnny, ele se junta a dois outros normies (pessoas não afetadas pelo Pulso): Tom McCourt e Alice Maxwell, uma adolescente que ambos salvaram de um fonáltico.

Enquanto batalha para encontrar um lugar seguro e escapar da loucura na qual o mundo se tornou, Clay e seu grupo se vêm cercados por caos e uma carnificina sem fim, por humanos que foram reduzidos aos seus instintos mais básicos e, que por uma razão assustadora, parecem ter começado a evoluir…

Sem sombra de duvidas Celular é um dos livros mais sangrentos escritos pelo mestre Stephen King. A trama trás um terror apocalíptico, causado pela tecnologia que tanto necessitamos para viver no mundo atual, tornado tudo ainda mais aterrorizante e real a nossa imaginação, mas é errôneo classificar a obra como um livro de Zumbis, a humanidade não esta morta-viva, apenas foi reiniciada a seu estado mais primário e, agora, parece ter um espaço maior para evolução de um novo programa que acesse todo seu potencial, o que torna tudo ainda mais medonho.

A critica social esta bastante clara em sua trama, como nos tornamos cada dia mais necessitados dessas pequenas tecnologias e como isso pode nos destruir. King constrói com maestria um enredo complexo, cheio de dramas, terror e sobrevivência, levando seus personagens ao extremo e os forçando a avançar mesmo que tudo ao redor esteja destruído. É interessante acompanhar os pensamentos de Clay e sua maneira de ver como aquilo ficaria bem se desenhado em um papel, o dom artístico do personagem e sua percepção descritiva aguça o interesse do leitor e nos faz imaginar bem seus cenários e detalhes, mas a sua obsessão quase doentia as vezes nos cansa, a resposta é clara mas o personagem insiste em permanecer no caminho mais perigoso.

Tom é um personagem gentil e educado, que viu seu mundo virar do avesso e, por pura sorte, escapou de ter o mesmo destino que o resto da humanidade. Embora seja um dos personagens mais brandos, Tom é a voz da razão do grupo e sabe ser duro quando necessário. Alice, embora jovem e traumatizada com o novo mundo, toma o papel de liderança e, por muitas vezes, ela que conduz o grupo e os incentiva a seguir em frente. Mas por que o objetivo de Clay é maior que o dos outros? Por que a busca de sua família é tão importante para fazer os outros personagem o seguirem mesmo quando esses outros perderam tanto em seu caminho e ainda tem muito a que procurar nesse novo mundo?

Jordan é um pré-adolescente esperto que nos cativa logo em sua primeira cena, o garoto é usado como condutor narrativo para associar os Fonálticos com sistemas de computadores, e explicar muito do que esta acontecendo para os leigos. O garoto é leal e destemido, e criamos uma forte empatia com o decorrer de sua jornada. Mas o que seria a historia sem seu antagonista? O Esfarrapado é o porta voz da Horda e consegue arrepiar e causar asco em cada uma de suas cenas, seu jeito sarcástico e frio causam uma repulsa tão forte que o leitor quer manter uma distancia segura do mesmo, temendo o pior cada vez que o personagem aparece para criar uma tensão crescente.

Com uma nova edição, tendo seu conteúdo todo revisado, Celular chega a nossas prateleiras pela Editora Suma, que fez um trabalho primoroso com a obra. A capa em alto relevo nos mostra uma tela estilhaçada de uma aparelho, com o nome do autor cortado em vários pontos, nos mostrando o que nos espera a frente, uma jogada genial da editora. As paginas amarelas, o cuidado gráfico e a fonte confortável e bem espaçada trazem um conforto primordial ao leitor que agradece pelo cuidado e amor colocados na edição. Obrigado Suma.

Sangrento, inteligente e repleto de uma profunda agonia Celular mostra ate onde a humanidade pode ir para sobreviver. Com temas tão atuais que tragam o leitor desde suas primeiras páginas, e emergindo em seu universo de uma maneira tão impecável que faz o leitor pensar e duas vezes antes de tocar em um celular, nos desligando por um tempo dessa era tecnológica e temer pelo nosso futuro…

“O termo era inapropriado, é claro, porém, dez horas depois do evento, a maioria dos cientistas capazes de apontar isso estava morta ou louca. Seja como for, o nome não tinha importância. O importante foi o efeito”

 

 

Ficha Técnica
 

Livro Único

Nome: Celular

Autor: Stephen King

Editora: Suma de Letras

Skoob

Preso em um espaço temporal, e determinado a conseguir o meu diploma no curso de Publicidade decidi interagir com o grande público e conseguir o máximo de informações para minhas pesquisas recentes além, é claro, de falar das coisas que mais gosto no mundo de uma maneira despreocupada e divertida. Ainda me pergunto se isso é a vida real ou apenas uma fantasia e como posso tomar meu destino nas minhas mãos antes que seja tarde demais...

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