Nota
Dos envolventes créditos iniciais – ao som da imponente trilha sonora de John Williams -, até o controverso e heroico giro pelo Planeta Terra no ato final do longa, “Superman: O Filme” continua simplesmente encantador e, sem dúvidas, segue ocupando o topo da lista dos filmes de super-heróis mais importantes do século passado, mesmo após 40 nos desde a sua estreia. Para comemorar as 4 décadas do clássico de Richard Donner, a CCXP, em parceria com a Cinemark, não poderia deixar de fazer uma comemoração à altura. Exibido em diversas salas da de rede de cinema no Brasil, o filme atraiu diversos fãs e curiosos neste último dia 5.
No longínquo Planeta Krypton, o cientista Jor-El (Marlon Brando) constatou que o mundo que conhecia entraria em colapso ao ser consumido pelo Sol Vermelho. Para salvar a vida do seu único filho, ainda bebê, El o envia para Terra, local onde o pequeno Kal teria poderes sobre-humanos e, mais tarde, se tornaria o Homem de Aço.
A trajetória do herói é clara e abordada profundamente ao longo dos três atos do filme. Primeiro, a origem do personagem, seguido da necessidade de ele saber quem é e, com esse propósito, sair da sua zona de conforto e obter respostas. Depois, o desenvolvimento deste como herói e, por último, a ameaça, o enfrentamento e a recompensa. Com a história adaptada por ninguém menos que Mario Puzo para os cinemas, “Superman: O Filme” conta com um roteiro que preza pela fidelidade à história original do personagem e, dessa forma, é bem amarrado a ponto de ser didático, ainda mais quando somos contemplados por belas explicações sobre o Planeta Krypton e o propósito de Kal-El na Terra. Talvez, a pretensão de contar passo a passo a história do Homem de Aço, desde a sua infância, tenha ocasionado um ritmo lento no primeiro ato do longa, o que pode entediar aqueles que não adotam o Superman como super-herói favorito ou os que não estão acostumados com o modo clássico de fazer cinema: com mais história e menos tiro, porrada e bomba.
Além do claro apego à Jornada do Herói e ao clássico, é viável afirmar que o filme também tenha aproveitado elementos das produções de espionagem daquela época, ainda mais quando nos deparamos com o papel do antagonista Lex Luthor (vivido por Gene Hackman), cujos objetivos são dignos de também serem enfrentados por um 007. Porém, diferente do espião, o herói atua por diversas causas, entre elas a de um gatinho preso em uma árvore. Richard Donner soube como causar medo em movimentos de câmera sutis e ambientações sufocantes em “A Profecia” (1976) e, em Superman, utiliza sua afinidade com os equipamentos de filmagem para elevar ainda mais a índole de um dos maiores super-heróis de todos os tempos, não somente em cenas de ação, mas em toda a extensão da história, com belos planos sequência e as famigeradas cenas de voo, além de presar por belos planos abertos no Planeta Krypton e enquadramentos que enriquecem a direção de fotografia do longa-metragem.
A escolha de um elenco com nomes de peso, como Marlon Brando, Gene Hackman, Glenn Ford (Johnatan Kent) e Jackie Cooper (Perry White), talvez ofuscasse o brilho do Superman de Christopher Reeve, o que, felizmente, não aconteceu. Reeve não só ficou fixamente idêntico ao personagem como também soube encará-lo de forma que não parecesse genérico, sendo simpático e ao mesmo tempo heroico vestindo o uniforme e desajeitado, inocente e (apesar de não ser, de fato) humano, ao interpretar o repórter Clark Kent. A Lois Lane de Margot Kidder também é uma personagem carismática e tem uma importante participação, mas, por vezes, cai nas graças do estereótipo da mocinha em perigo. O grande potencial de Gene Hackman foi ofuscado pelo fato do Lex Luthor ser apresentado como um personagem cômico e somente demostrar perversidade nos minutos finais, mas nada que tenha comprometido os ótimos momentos que o personagem tem em tela e suas frases brilhantes.
Superman: O Filme não só foi um marco da DC Comics no cinema, por ter sido o primeiro grande filme de super-heróis a fazer história e, assim, dar início a atual leva de produções baseadas em histórias em quadrinhos. A produção de Richard Donner funciona até os dias presentes pois, assim como na concepção dos criadores do personagem (Jerry Siegel e Joe Shuster), despertar o melhor que temos dentro e nós, além de nos fazer acreditar que o homem pode, de fato, voar. Se o Superman tem o que comemorar nos 80 anos de sua criação (1938), com certeza são as 4 décadas muito bem vividas da representação dele pelo inesquecível Christopher Reeve e todo o legado deixado pelo icônico filme.
Lucas Rigaud
Jornalista, crítico de cinema, fotógrafo amador e redator. Quando eu crescer, quero ser cineasta.