Nota
“Vento do leste vem me dizer que uma magia vai acontecer…
Não sei ao certo o que vem aí…
Mas só sei que alguém estar por vir…”
Na rua das cerejeiras, um artista de rua se apresenta para um grupo de pessoas cantando rimas sobre a vida de quem o observa, porém, com uma leve mudança do vento, ele percebe que algo mágico está para acontecer. Enquanto isso, na casa 17, da mesma rua, uma babá abandona seu emprego por não aguentar a família louca para quem trabalha. Assim como todas as cinco babás anteriores, o sr. Banks então começa a procurar uma nova babá para seus filhos sapecas. Ele quer que a moça seja rigorosa e eficiente; filhos querem alguém gentil e doce. Ignorados pelo pai, que rasga a carta que as crianças fizeram e a joga na lareira, eles vão para a cama tristes.
No dia seguinte, uma fila de babás está na porta da casa da família Banks. Enquanto ele aguarda pontualmente o horário para iniciar as entrevistas, uma ventania leva todas as concorrentes embora, sobrando apenas uma jovem moça, que facilmente o convence a deixá-la no cargo. E assim começa a jornada mágica de Jane e Michael ao lado da doce babá.
Mary Poppins, um clássico da Disney de 1964, nos apresenta uma história mágica, onde um simples passeio ao parque pode virar uma emocionante corrida de cavalos. Dirigido por Robert Steverson e tendo como base em seu roteiro o livro homônimo de P. L. Travers, o longa mistura animações com atores reais, introduzindo músicas memoráveis que atravessam gerações. Tendo um acompanhamento rígido da próprio Disney, Mary conseguiu criar um universo plausível e encantador, repleto de críticas sociais e movimentos revolucionários, que acompanharam a época e se mostram tão presentes em nossos dias atuais.
O longa consegue misturar bem a magia da Disney com uma Londres do século XX, repleta de músicas esplêndidas e cheias de alegria, mesmo quando se trata de assuntos pesados que marcaram a época. Os desenhos casam bem com as cenas, dando traços 2D com coreografias reais que divertem o público e nos fazem querer mais deles no filme. A trilha sonora também não fica para trás, com músicas marcantes como Spoonful of Sugar e Supercalifragilisticexpialidocious, que envolve e transporta para o mundo mágico que Disney criou.
A atuação de Julie Adrews é sublime, carregando todo o peso e importância da sua personagem, que consegue se impor mesmo na sociedade machista da época e sem perder o encanto e a doçura presentes mesmo na hora em que precisa ser mais rígida com as crianças Banks. Seu jeito é tão peculiar que consegue reverter uma situação usando o pensamento inicial do indivíduo e mostrando outro ponto de vista, além de tiradas sarcásticas e cheias de mensagens nas entrelinhas.
Bert (Dick Van Dyke) é o trovador que nos guia durante toda a obra, sempre com alguma piada inteligente ou uma frase de sabedoria. Até nos momentos em que fica claro o seu amor por Poppins, ele apresenta a sagacidade de um homem das ruas. O personagem mostra toda a sua versatilidade, indo de uma banda de um só homem até um dançante limpador de chaminés. Sem perder seu bom humor, o personagem mostra a voz da razão tanto nos momentos alegres quanto nos tristes, onde precisa apresentar uma nova visão sobre a situação sem nunca perder seu encanto.
A família Banks é uma típica família britânica, exceto por alguns detalhes. A mãe é uma revolucionaria que luta pelo direito das mulheres, mas se submete ao controle do marido e reprime suas vontades quando esta perto dele. É estranho acompanhar a dualidade da personagem. Em um momento, ela corre para libertar as amigas da prisão; no outro, abaixa a cabeça e escreve com vigor tudo que seu marido dita. As crianças desejam mais que tudo um pouco de carinho dos pais, elas se veem presas a um controle rigoroso e sentem falta do afeto e do cuidado, ficando encantados quando a mágica babá aparece em suas vidas.
O sr. Banks (David Tomlinson) é rigoroso e, por muitas vezes, frio, desejando que sua casa funcione na mais perfeita ordem e ignorando o que se passa embaixo do seu nariz. Acompanhamos a mudança do personagem com uma desenvoltura estonteante ao perceber o que realmente importa na sua vida, dando uma lição de moral tremenda aos telespectadores. O personagem começa com um ar de antagonista, mas vemos sua crescente para algo mais humano e cheio de defeitos. Afinal, nem todos podem pedir ajuda quando precisam.
Como curiosidades, podemos citar que a atriz estava grávida quando a Disney decidiu fazer o filme e isso fez com que ela não pudesse interpretar o papel principal. Walt a esperou, adiando a produção. A segunda curiosidade é que o filme se encontra em 6 lugar na lista dos 25 maiores musicais americanos de todos os tempos. Após tudo isso, fica claro o motivo pelo longa ter ganhado 5 oscars, incluindo Melhor Atriz, Melhor Efeitos Visuais e Melhor Canção Original. Mary Poppins mesmo sendo um clássico infantil, consegue abranger temas adultos e atuais e, mesmo tendo mais de 50 anos, garante um lugar eterno no coração de quem assiste, provando que com um pouco de açúcar até o mais amargo dos remédios se torna bom de se tomar… E, por último, mas não menos importante: o filme ganhará uma sequência no dia 20 de dezembro de 2018.
Matheus Soares
Graduado em Biológicas, antenado no mundo geek, talvez um pouco louco mas somos todos aqui!