Nota
“O mundo acaba em oito dias, e não faço ideia de como salva-lo.”
Em outubro de 1989, 43 mulheres ao redor do mundo deram a luz. A única curiosidade sobre isso é que nenhuma dessas mulheres estava grávida quando o dia começou. Determinado a adotar o máximo de crianças que pudesse, o excêntrico milionário Sir. Reginald Hargreeves (Colm Feore) percorreu o globo em busca das misteriosas crianças que acreditava terem poderes magníficos: ele conseguiu adotar sete.
Treinando cada um deles para utilizar ao máximo seus poderes, Hargreeves apresenta ao mundo a Umbrella Academy, a mais poderosa das equipes de super-heróis que já existiu. Mas os treinamentos pesados e a falta de tato de seu tutor têm consequências devastadoras no psicológicos de cada um dos jovens notáveis que ele abriga sobre seu guarda-chuva.
17 anos depois, o milionário morre misteriosamente fazendo com que os irmãos se encontrem mais uma vez para prestar suas homenagens. Cada um deles é desajustado de alguma forma. Cada um deles sofreu com seu passado e com os traumas que a vida de herói trouxe. Mas, tudo isso está prestes a mudar. O Número 5 (Aidan Gallanger) reaparece durante o enterro do seu pai, trazendo notícias devastadoras e em uma caçada irrefreável para impedir o apocalipse que está para acontecer em uma semana. Agora, cabe a antiga equipe unir suas forças mais uma vez, lidar com seus problemas e impedir o fim do mundo de uma vez por todas…
Baseado nas HQs de Gerard Way e Gabriel Bá, The Umbrella Academy é a nova aposta de super-heróis da Netflix. Com 10 episódios, a serie explora um conjunto de adultos desajustados e cheio de excentricidades causadas pelo árduo treinamento e pressão que seu pai adotivo depositou cada um deles. A família disfuncional não sabe agir em união, muito menos lidar com seus problemas, quanto mais salvar o mundo do apocalipse iminente.
Isso proporciona uma aprofundamento crescente em cada a de suas personalidades. O público anseia para descobrir mais sobre eles, como seus poderes funcionam e como a relação ficou tão desgastada e áspera. O ritmo dos episódios variam bastante, alguns são empolgantes e precisos, outros são arrastados e confusos, criando longas barrigas e nos fazendo reviver velhas informações que já nos foram reveladas nos capítulos anteriores. Esse é o grande erro da série.
Ansiosa por guardar informações, a série televisiva se repete e cansa telespectador com detalhes já explorados que não vão acrescentar em nada para desenvolver o roteiro. Ela simplesmente empaca em conceitos repetitivos e se arrasta por dados já revelados, utilizando o velho argumento de: Você é burro demais para entender isso, quando poderia utilizar seus personagens para debater sobre determinado assunto ou situação.
A sensação que fica é que a série poderia ser mais condensada, cortando arestas desnecessárias e não tendo medo de revelar as coisas ao seu público sem utilizar desses fracos artifícios. Mas, antes que você desista, a serie acerta e muito em outros pontos. O visual sombrio e impecável da trama, assim como sua trilha sonora icônica nos mergulham no mundo alternativo apresentado pela Netflix. As cenas de ação bem coreografadas são deslumbrantes e empolgantes, os efeitos visuais são magníficos e despertam nosso interesse.O roteiro peca sim as vezes, mas também constrói tramas densas e interessantes, nos prendendo na cadeira e despertando nossa curiosidade para o que esta vindo a seguir. Mas, com toda a certeza, o grande acerto da série está em seus personagens.
Cada um deles é cativante de uma forma única, e cada um deles vai despertar o sentimento do publico de alguma forma peculiar. Os perfis desajustados e cheios de traumas tornam sua personalidade ainda mais humana e plausível, distanciando daquele conceito de perfeição e idealismo que temos de outras super entidades. Os problemas são reais e profundos, com dores marcantes e humanas de uma família, que por acaso, tem poderes.
Diego (David Castañeda) é um justiceiro latino com aptidão para arremesso de facas e uma mira certeira. Uma vez, ele tentou entrar na policia e fez seus contatos lá dentro. Sua personalidade explosiva e determinada entram em conflito diretos com o líder do grupo, questionando tudo que é decidido e cobrando do mesmo. Mas, o personagem ainda apresenta um lado doce e sensível quando contracena com a mãe adotiva, Grace Hargreeves (Jordan Claire Robins), uma androide construída pelo Sir Reginald para educar e criar as crianças. A ligação entre os dois é palpável e bem aproveitada, despertando a empatia do público. Alisson (Emmy Raver-Lampman) sempre conseguiu tudo o que quis graças a seus poderes. Mas, quando a utilização dos mesmos afastou a sua amada filha, Sussurro percebeu que ela tinha vivido uma vida baseada em mentiras e sussurros que a faziam se afastar do que era realmente genuíno. Agora, a bela atriz e ex-heroína esta determinada a começar do zero e reverter o estrago que fez.
Luther (Tom Hopper) foi criado para cumprir ordens e nunca questionar. Seguindo cegamente o pai, Luther é considerado o líder do grupo e foi o único a permanecer na mansão, ate ser mandado a lua numa expedição especial para seu pai. Mas segredos vão mexer com sua confiança e colocar sua liderança em prova. Luther é um personagem complicado, suas atitudes e pensamentos criam certa raiva a quem assiste a trama e, mesmo que seu passado seja traumático e toda carga que foi colocada sobre ele seja coerente, nada justifica as burradas que o mesmo comete durante a série. Sabe aquele típico personagem protagonista que não escuta ninguém e acaba fazendo besteira por ser o líder e ponto final? Então, esse é o Luther.
Vanya (Ellen Page) sempre teve que viver as sombras dos irmãos, por ser extremamente comum, Vanya sempre foi deixada de escanteio e tratada como uma qualquer. Isso a levou a abandonar o grupo é escrever sobre sua vida na mansão, criando ódio entre os Irmãos. Sua verdadeira paixão sempre foi a música mas nem nisso ela consegue se destacar, ate que um novo fator aparece em sua vida e a faz começar a acreditar em seu potencial. É explicável a ligação que o publico cria com a personagem mais comum da trama. Quem nunca se sentiu um outsider? Quem nunca sentiu que vive a sombra de algo maior e mais poderoso? E é nisso que a personagem foca. Ellen Page transborda normalidade e nenhum aspecto fantástico se destaca. A personalidade comum e, por vezes, sem sal nos faz acreditar fielmente em sua personagem. Mas, isso levanta um outro questionamento: a atriz é realmente boa em trazer os aspectos comuns de sua personagem a ponto de parecer confortável no papel ou apenas esta fazendo um papel mediano e sendo ela mesma na tela?
Do lado dos vilões temos Hazel (Cameron Britton) e Cha-Cha (Mary J. Blige), dois assassinos temporais que tem como ordens caçar e eliminar o Numero 5. A dupla apresenta um desenvolvimento bom, mas suas piadas recorrentes e suas cenas repetitivas na Loja de Donnuts trazem uma grande parte da enrolação da temporada. Cansando o publico e nos fazendo questionar se era realmente necessário tanto tempo de tela para eles.
O grande destaque do elenco se dá em dois personagens excepcionais. Klaus (Robert Sheehan) tem o poder de falar com os mortos, mas ele sempre procurou fugir disso. Um dos meios achados foi o uso de entorpecentes, que bagunçam um pouco seus dons mas tira completamente sua credibilidade. Klaus é engraçado e tem um humor ácido, criando muitas vezes o alivio cômico da serie é nos fazendo se importar com o mesmo. Seu contato com o irmão morto, Ben (Justin H. Min) construiu uma das melhores relações da serie, nos mostrando um lado mais sensível e o que um trauma pode causar a alguém. O outro destaque fica por conta do jovem Aidan Gallagher, que nos entrega um viajante do tempo de 58 anos preso em um corpo de um adolescente. O rapaz convence e rouba cada uma das cenas em que aparece, empolgando o publico e nos deixando curiosos sobre seu passado. Aidan consegue passar uma alma idosa presa num corpo jovem, mostrando o amplo talento que o ator tem e nos deixando curiosos para o que ele possa fazer no futuro. Realmente, ele é alguém para se ficar de olho.
Confuso mas empolgante, The Umbrella Academy trás uma família disfuncional com super poderes que tem que encarar seus demônios e lidar com seus erros enquanto lutam para salvar o mundo de uma catástrofe iminente. A serie consegue entreter, mas esta longe de ser perfeita, construindo uma esperança de uma segunda temporada mais bem trabalhada e sem tanta enrolação. Ganhando pontos magníficos pela profundidade de seus personagens e pela empatia despertada com tanto afinco em uma sociedade lotada com histórias de super-heróis que precisava mesmo de uma bola fora da curva…
https://www.youtube.com/watch?v=3bSOSI4Lr_I
Phael Pablo
Preso em um espaço temporal, e determinado a conseguir o meu diploma no curso de Publicidade decidi interagir com o grande público e conseguir o máximo de informações para minhas pesquisas recentes além, é claro, de falar das coisas que mais gosto no mundo de uma maneira despreocupada e divertida. Ainda me pergunto se isso é a vida real ou apenas uma fantasia e como posso tomar meu destino nas minhas mãos antes que seja tarde demais...