Review | American Gods [Season 1]

Nota
4

“A única coisa boa de estar preso é o alivio.
Você não se preocupa se vão te pegar quando já te pegaram,
o amanhã não pode te fazer nada que o hoje já não tenha feito.”

Shadow Moon (Ricky Whittle) estava preso por ser um ex-vigarista, mas o homem acaba sendo solto quando sua esposa morre, e, na viagem de volta pra casa, acaba recebendo a proposta de servir como segurança e companheiro de viagem para o Sr. Wednesday (Ian McShane), um homem fraudulento que é, na verdade, um dos velhos deuses e está na Terra em uma missão: reunir forças para lutar contra as novas entidades.

Baseada no romance de Neil Gaiman, a série, criada por Bryan Fuller e Michael Green para o canal Starz, estreou em 30 de abril de 2017, sendo transmitida mundialmente pelo Amazon Prime Video. A série foi exibida até 18 de Junho de 2017, quando completou sua primeira temporada com 8 episódios, e já com uma segunda temporada confirmada desde o segundo episódio. A produção foi aclamada pela crítica e já tem duas indicações ao Primetime Emmy Awards, que premia os programas exibidos no horário nobre da TV.

American Gods trouxe toda uma nova mitologia para o, já famoso e clássico, universo do livro de Gaiman, talvez até por ter uma liberdade maior já que o próprio Gaiman fazia parte da equipe de produtores e chegou a criar personagens que se encaixavam perfeitamente em seu universo unicamente para aparecer na série. De certa forma, é um fato dizer que a série de TV serviu para expandir muito mais o universo do livro e que é majestoso para quem o leu, como eu, ver algumas das cenas e diálogos sendo reproduzidas completamente dentro da série.

A série se desafia a cada episódio, pegando um livro extremamente polêmico e politicamente incorreto e transformando-o fielmente em cenas perfeitas, chegando a momentos onde a transcrição do livro se torna melhor do que o imaginado ou até fazem com que seja ainda mais polêmico. Esse é o caso de The Bone Orchard (episódio 1), onde vemos Bilquis (Yetide Badaki) pela primeira vez, a deusa que devora os homens pela vagina. Ela é poderosa e imponente na TV, ela dá um novo conceito para poder do feminino e surpreende até aos que esperavam ver essa cena. Em Head Full of Snow (episódio 3), a série se desafia mais uma vez. Aqui, temos a relação homossexual entre um homem e um Djinn sendo potencializada ao máximo quando adicionado um único detalhe: ambos são atores muçulmanos. O que é algo raro de se ver na TV, mas que aconteceu durante a cena, que foi nomeada a cena de sexo gay mais explícita na história da TV.

No quesito atuação, temos claros destaques para Ian McShane, que entrega um Mr. Wednesday tão misterioso e inescrupuloso quanto deveria ser; Emily Browning, que traz toda a doçura e inocência, mas que consegue trazer toda a malicia e impureza que cabe a Laura Moon; Pablo Schreiber nos apresenta uma nova versão do Mad Sweeney, muito diferente do que vimos no livro, com muito mais tempo de tela, e isso é um ponto muito positivo, pois conseguimos enxergar suas motivações e entender seu sofrimento.

O elenco traz ainda o belo protagonismo de Ricky Whittle, que faz um Shadow Moon totalmente infantil. Na série, ele é um brutamontes desconfiado que parece perdido quando fica imerso no mundo dos deuses e volta a ser criança ao não saber o que é impossível e sem saber em que deve realmente confiar, mas apenas sentindo uma repentina e forte fidelidade pelo seu chefe, a quem ele nem sabe a verdadeira identidade. Yetide Badaki aparece como Bilquis e dá uma nova importância à prostituta canibal. As cenas onde a mulher devora pessoas pela vagina mostra todo o empenho dos efeitos especiais, mas sua presença muda os destinos da série e dá a personagem, que mal aparece no livro, um novo sentido de existência. Do lado dos “vilões”, temos que dar uma salva de palmas para Gillian Anderson, que esbanja versatilidade com as várias aparências e personalidades que Media, a deusa da TV, assume no decorrer da série.

E eis que a série acaba por trazer à tona todo o desejo de Gaiman, ele constrói toda uma nova base sobre a origem dos deuses, onde os grandes seres surgem da crença e, por conta disso, sua aparência é definida a partir dessas crenças. Isso vem sendo construído a cada episódio até que possamos ver em A Murder of Gods (episódio 6) e, principalmente, em Come to Jesus (episódio 8) dezenas de Jesus, coisa que Gaiman desejou incluir no livro, mas teve medo da represália por falta de compreensão, e essa nova base fez com que fosse possível vermos Jesus Mexicano, Jesus Branco, Jesus Negro, Jesus Bebê e até Jesus Idoso.

A série se finaliza com Come to Jesus (1×08), mostrando-nos que está livre para não ser fiel ao livro e dando um final épico à temporada, apesar de ter algumas questões de teor duvidoso que ficam a se resolver. Logo, devemos esperar uma segunda temporada para entender se são mudanças que darão certo ou que poderão estragar a trama. Ao fim, temos um episódio que tem cenas incríveis pelo teor simbólico e os efeitos discretamente poderosos, mas que nos deixa sem saber o que podemos esperar de uma série baseada num livro maravilhoso, mas que está aos poucos fugindo da trama original.

“As pessoas acreditam em coisas, o que quer dizer que são reais,
isso significa que nós sabemos que elas existem.
Então o que veio primeiro, os deuses ou as pessoas que acreditam neles?”

Sonhador nato desde pequeno, Designer Gráfico por formação e sempre empenhado em salvar o reino de Hyrule. Produtor de Eventos e CEO da Host Geek, vem lutando ano após ano para trazer a sua terra toda a experiência geek que ela merece.

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