Crítica | O Cão e a Raposa (The Fox and the Hound)

Nota
5

“Nós vamos ser amigos para sempre, não vamos?
Sim, para sempre.”

Após perder sua mãe em uma caçada, Dodó (um arteiro raposinho) é adotado por uma gentil senhora. No seu novo lar ele conhece um de seus curiosos vizinhos, Toby um filhote de cão de caça, com quem acaba criando um forte vinculo e prometendo uma amizade eterna. Mas, após uma desastrosa visita ao quintal de Samuel Guerra (dono de Toby) os amigos tem que ser afastados e mantidos presos em suas respectivas casas.

Samuel então decide levar Toby para uma longa caçada, para terminar de uma vez por todas o treinamento do cão farejador. Ao se ver afastado de seu melhor amigo, Dodó descobre coisas macabras sobre a natureza, e como ele e seu adorável amigo são inimigos naturais. Enquanto confia cegamente que Toby nunca faria mal a ele, o raposo é alertado pela sabia Mamãe Coruja, sobre o quanto o tempo muda os seres e que talvez eles não sejam mais os mesmos quando se reencontrarem na primavera.

Meses depois, os dois amigos estão maiores e mais amadurecidos. Preparados para o reencontro e se questionando se continuaram os mesmos ou se a natureza de predador e caça falará mais alto e colocará um fim na bela amizade que construíram na infância. Seria o tempo uma força tão poderosa a ponto de mudar o coração dos amigos? Ou eles sobreviveram a pressão social na qual estão inseridos e continuariam bons e velhos amigos?

Em 1981, a Disney Animaction Studios nos presenteava com a 24° obra de animação do estúdio trazendo uma obra tocante e intimista denominada O Cão e a Raposa. Baseada na obra homogênea de Daniel Pratt Mannix, o longa representou uma fase na Disney, tendo como encargo a transição dos antigos animadores para nova e talentosa geração que iria conquistar o mundo com suas obras.

Com cenário e esplendorosos feito a mão, com uma profundidade invejável e um bom jogo de luz, o longa encanta por sua beleza e nos deixa deslumbrado com sua textura e cores. Nos traz, portanto, bem para aquele mundo e nos introduz com maestria na trama, logo nos primeiros minutos o longa mostra a que veio, começando em total silêncio e aos poucos introduzindo os sons da frondosa floresta ate culminar na frenética perseguição, com um choque estrondoso ao telespectador, que nos deixa alertas e emocionados logo de cara.

A obra podia se limitar a ter como tema a amizade tão presente em outros clássicos, mas ela aprofunda e levanta questionamentos complexos sobre preconceito, conflitos sociais e naturais e a real força de um laço construído na infância. Os estereótipos criados para cada personagem e como cada um deve ou não se moldar a eles são outra base de sustentação para o enredo. Até onde uma sociedade pode interferir em algo tão puro e belo como uma amizade juvenil? Devemos mudar para nos encaixar nesses padrões impostos ou simplesmente seguir nossos corações?

O tema é tão presente e tão atual que chega a assustar. Cada uma das críticas é precisa e notável, nos fazendo aprimorar ainda mais a complexidade e beleza da obra. As canções escolhidas são duras e ásperas, tão diferentes das melodias felizes e positivas que encontramos no estúdio. Embora sejam poucas, cada uma das musicas do filme pode ser sentida até seu amago e da uma bofetada bem dada na cara do espectador.

Começamos com a doce Best Friends, que já mostra que embora a doce amizade dos protagonistas seja algo lindo de se ver talvez não seja o esperado pra eles. Junto com a Mamãe Coruja passamos a torcer para que eles superem as adversidades e permaneçam unidos. Seguimos pela dura Lack of Education, levando um tapa de realidade a cada verso e nos tirando do encanto criado até o presente momento nos trazendo de volta a verdade que ambos são inimigos naturais e que talvez o tempo seja tão destrutivo quanto qualquer outra coisa. Chegamos a chorosa Goodbye May Seem Forever, onde soluçamos com uma das cenas mais tocantes de toda a trama, para enfim encontramos a apaixonante Appreciate The Lady.

Mas o filme não seria nada se não possuísse personagens tão cativantes. Dodó (Mickey Rooney) é encantador desde seu primeiro minuto. O astuto raposinho acredita fielmente que sua amizade com Toby nunca vai mudar e que eles podem confiar nas suas promessas. Mesmo quando confrontado pelas adversidades, o raposo tenta ver o melhor e passa por um arco magnífico durante o longa. Já Toby (Kurt Russell) sempre teve medo de enfrentar seu patrão, ao longo do filme ele passa a encarar suas escolhas e se tornar amargurado pela responsabilidade que se encontra em sua frente.

Mamãe Coruja (Pearl Bailey) é a conselheira que observa o crescimento de nossos protagonistas. Sempre pronta para alertar e proteger, a bondosa ave acompanha e torce para que os filhotes não se percam para o mundo, mas se sente na obrigação de mostrar que as coisas podem ser cruéis alertando não só os protagonistas mas como o próprio público que, embora seja uma animação, as coisas ainda podem acabar mal. O alivio cômico fica por conta de Dinky (Richard Bakalyan) e Bruno (Paul Winchell) duas aves atrapalhadas que passam boa parte da trama na caça a uma lagarta mas que consegue divertir o publico e aliviar a tensão.

Com uma trama emocionante e uma tensão encantadora, O Cão e a Raposa consegue nos trazer para um lado mais pessoal do estúdio mais aclamado em animações e trazer importantes debates em suas entrelinhas, despertando nosso emocional com sequencias bem trabalhadas que vão tocar ate o mais duro dos corações.

“Para sempre é muito, muito tempo e o tempo tem um jeitinho de mudar as coisas.”

 

Preso em um espaço temporal, e determinado a conseguir o meu diploma no curso de Publicidade decidi interagir com o grande público e conseguir o máximo de informações para minhas pesquisas recentes além, é claro, de falar das coisas que mais gosto no mundo de uma maneira despreocupada e divertida. Ainda me pergunto se isso é a vida real ou apenas uma fantasia e como posso tomar meu destino nas minhas mãos antes que seja tarde demais...

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