Crítica | 101 Dalmáltas (One Hundred and One Dalmatians)

Nota
5

“Minha história começa em Londres e pouco tempo atrás, mas tanta coisa aconteceu desde então, que o tempo até parece uma eternidade.”

Pongo (Rod Taylor) está cansado da vida de solteiro. Enquanto olha para fora da janela de sua casa, ele reflete sobre a monotonia em que ele e Roger (Ben Wright) estão fadados e, tendo plena ciência que seu dono não fará nada para mudar a situação, ele decide agir. É então que ele avista a bela Prenda (Cate Bauer) e sua humana passando em direção ao parque e decide por seu plano em prática.

Após um desastroso e divertido encontro, os dois casais vivem tranquilamente em um pequeno bangalô sem muito luxo, mas com muita felicidade. E isso é acentuado com a chegada de 15 filhotinhos que acabaram de nascer, mas a chegada dos novos moradores desperta a cobiça de Cruella De Vil (Betty Lou Gerson), uma antiga amiga de Anita (Lisa Davis), que é simplesmente apaixonada por peles. A megera faz um proposta ao casal para comprar os filhotes, mas, após a recusa de ambos, Cruella sai indignada, preparada para conseguir seu objetivo a qualquer custo e fazer um lindo casaco de pele de dálmatas.

Walt Disney sempre foi perdidamente apaixonado pelo reino animal. Seja pelo gracioso Bambi ou até mesmo o espetacular Dumbo, os bichinhos sempre estiveram tão intrinsecamente ligados ao estúdio e foram mostrados com uma complexidade e encanto sem precedentes. Pouco depois de comemorar o enorme sucesso de A Dama e o Vagabundo, Walt trouxe sua mais nova aposta nos presenteando com uma obra atemporal.

Baseado na obra de Dodie Smith, 101 Dálmatas é o 17° longa animado do estúdio e traz uma evolução divina na arte da animação. Logo em sua abertura, o filme mostra a que veio, criando piadas visuais com as pintas tão presentes no longa e trazendo um divertido contexto que insere bem o telespectador na grandiosidade que a obra transmite. Com a trilha baseada no Jazz e um ritmo mais frenético, o filme se mostra mais próximo do nosso cotidiano com um contexto urbano facilmente reconhecível, com seus traços mais artísticos e marcantes, além de uma harmonização perfeita e incomparável – até mesmo A Dama e o Vagabundo apresentavam algo mais fantasioso e improvável da vida urbana.

Com uma dinâmica inusitada e com a direção de três mentes brilhantes (Clyde Gerônimo, Hamilton Luske e Wolfgang Reitherman), o filme não apresenta dificuldades em construir a forte ligação do público com seus personagens, utilizando bem a passagem de tempo para o avançar da história e a construção de cenas dramáticas e precisas para despertar fortes emoções. É engraçado como os humanos se veem de mãos atadas em determinadas situações e os animais precisam tomar a frente para resolver o problema.

Logo na apresentação de Pongo, vemos a inversão da interação homem/cachorro, quando o mesmo toma a frente e resolve a vida de solteiro do dono. Isso se torna ainda mais acentuado ao decorrer da trama, com a hábil organização dos animais ao resgate dos filhotes quando nenhuma força ou lei humana surtiu efeito. É impossível não se apaixonar pelas diferentes personalidades e jeitos. Cada um foi pintado com 32 pintas diferentes, tornando-os únicos e nos fazendo questionar o trabalhão que deve ter sido criar a animação.

No elenco humano, temos a emotiva Nana (Martha Wentworth) que carrega a maior parte das cenas dramáticas. Ver seu fracasso em cumprir sua missão e o desespero de ver seus adorados filhotes sequestrados é de cortar o coração de qualquer um. Gaspar (J. Pat O’Malley) e Horácio (Frederick Worlock) são os capangas da vilã. Atrapalhados e gananciosos, os dois têm personalidades bem distintas e servem como alivio cômico na trama. Enquanto Gaspar quer terminar logo seu serviço e receber por isso, Horácio se questiona sobre as consequências de seus atos e se mostra bem mais ciente das coisas ao seu redor, embora nunca seja levado a sério pelo companheiro.

Juntos com os dálmatas, Cruella rouba cada uma das cenas em que aparece. Desenhada por Marc Davis, tudo na vilã é construído para despertar a raiva naqueles que têm o mínimo de bondade em seu coração. Afinal, quem em sã consciência torceria por alguém que deseja criar um casaco de peles de filhotes? Seja por sua cara esquelética, seu cabelo bicolor, seu inseparável casaco de peles ou até mesmo por sua risada cacarejada… tudo nela é exagerado ao extremo, trazendo uma presença tão forte que é difícil desgrudar os olhos. Isso tudo é acentuado pela voz debochada e estridente que Betty Lou Gerson entregou a personagem.

Nascida em uma família rica e acostumada a ter todas suas vontades realizadas, Cruella se vê transtornada quando não consegue o que deseja de Anita. O simples “não” a torna ainda mais obcecada e cruel, a ponto de não medir esforços para chegar em seu objetivo. Seu visual caricato e atraente tornaram-na uma obra-prima da animação, sendo a master piece de Davis, que se aposentou pouco depois do lançamento do longa. É quase impossível assistir 101 Dálmatas e não lembrar da perversa vilã e seus exageros, assim como não cantarolar sua música-tema.

Com um conceito visual bem feito e pioneiro no sentido de animação, a animação traz um clássico moderno e atemporal que não importa se for assistido uma, duas ou cento e uma vezes, pois continuará brilhante e moderno, trazendo momentos inesquecíveis e diferentes, como cada uma das pontas dos dálmatas que aprendemos tanto a amar.

“Serei criador de cachorros, meu sitio já tem 101. E eu não desejo, vender a varejo. Acabo vendendo nenhum.”

Preso em um espaço temporal, e determinado a conseguir o meu diploma no curso de Publicidade decidi interagir com o grande público e conseguir o máximo de informações para minhas pesquisas recentes além, é claro, de falar das coisas que mais gosto no mundo de uma maneira despreocupada e divertida. Ainda me pergunto se isso é a vida real ou apenas uma fantasia e como posso tomar meu destino nas minhas mãos antes que seja tarde demais...

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