Há algum tempo, o gênero terror vem se modificando. E toda essa transformação resulta numa obra que entretém, mas, principalmente, informa e conscientiza o público consumidor. Nós (aqui, me incluo como público) queremos ser vistos e representados, por isso é de extrema importância a atualização do gênero terror, que tem muitas vezes uma forma pronta. Essa fórmula já fez bastante sucesso há muito tempo; hoje, não faz mais. É importante discutir, questionar e fazer com que o espectador reflita sobre o que está em tela.
A arte sempre foi uma forma de questionar o mundo que nos cerca. Há algum tempo, isso se perdeu. Assim, encontramos uma série de filmes com a mesma temática, personagens estereotipados, trilha sonora com o objetivo de assustar, como se esse fosse o objetivo da arte representada num filme de horror. E as séries de filmes Pânico e Premonição, por exemplo, estão aí para comprovar o que está sendo dito.
Entre os anos 80 e 2000, vemos uma série de produções estanques, onde o gordo é engraçado, o cara sarado e sem camisa só morre quando aparece transando ou quase pelado ou ainda a mulher bonita e jovem que precisa ser salva por um homem. Fora isso, no fim tudo acaba bem. Igual a filme infantil. O que falta é um belo “felizes para sempre” no final. Felizmente, estamos em 2019 e isso parece estar mudando…
Segundo o Estadão, em 1960, essa transformação já tem dado indícios de que uma hora poderia acontecer. O George A. Romero, por exemplo, usou uma produção sobre zumbis para discutir sobre a sociedade americana, a luta dos negros e até sobre o consumismo global. Essa era a principal característica dos filmes de terror das décadas de 60 e 70. Entre 80 e 2000, houve uma queda. Hoje, felizmente, essa atualização parece ganhar voz e público novamente. E isso é visto nos filmes do Jordan Peele, por exemplo, que traz às suas produções o mesmo que o Romero fez anos atrás.
Mesmo que outros filmes tragam essas mesmas questões abordadas por Peele em Corra!, um terror social que fez bastante sucesso em 2018, há anos esses assuntos eram discutidos e abordados como se tudo isso fosse superado no fim. E, na verdade, nada está superado. Não discutir da forma certa não faz com que algo suma, ou que deixe de existir. Esse terror social abordado por Peele escancara tudo o que muitos negros pensam, mas não podem falar abertamente em sociedade. E esse mesmo terror social era o abordado por Romero em 60.
E se você não acha Corra! tão atual ou ousado, precisa ver Nós, o segundo filme de terror social produzido e dirigido por Peele. Aqui, é abordado o privilégio, a segregação com a apresentação clara das consequências disso e uso de figuras de linguagem nos momentos certos para referenciar uma situação problemática, mas, infelizmente, bastante real que acontece na vida de negros(as). E não podemos esquecer de outras produções, como, por exemplo, O Rastro, que falou sobre o Sistema de Saúde brasileiro, ou A Bruxa, que fala sobre questões femininas.
Essa volta às origens mostra que muitos dos profissionais estão dispostos a se mostrar, a trazer questões relevantes e escancarar problemas minimizados, além de retirar essa máscara social, inventada muitas vezes pelos líderes governamentais que escondem vários problemas. É isso que queremos ver: a arte como um elemento questionador, transformador e conscientizador.
Jadson Gomes
Universitário, revisor. E fotógrafo nas horas vagas.