Crítica | O Corcunda de Notre Dame (The Hunchback of Notre Dame)

Nota
5

“Clopin vai lhes contar. É uma história, a história de um homem… E um monstro.”

Em meio a uma Paris Vitoriana, sobre os altos campanários da monumental Catedral de Notre Dame, vive Quasimodo, um alma gentil e bondosa que observa e conhece a vida do povo que vive abaixo. Devido a sua deformidade, o solitário tocador de sinos nunca se atreveu a desobedecer seu guardião, o Juiz Frollo, que sempre lhe contou o quão perverso e cruel pode ser o mundo com alguém como ele acentuando ainda mais as horríveis malformações do pobre corcunda.

Instigado por seus únicos amigos Victor, Hugo e Laverne (as gárgulas que vivem com eles no topo da catedral), Quasimodo decide participar do Festival dos Tolos e aproveitará os múltiplos disfarces para se misturar a multidão. Mas, quando a multidão se volta contra o gentil rapaz por causa da sua aparência, ele é salvo pela magnífica Esmeralda que o enxergar como é e entende como é ser marginalizada por ser diferente do comum.

Mas não é apenas de Quasimodo que a cigana chama a atenção. Frollo se sente enfeitiçado pelos encantos de Esmeralda e acha que ela é a tentação do próprio diabo para abalar sua fé e Febo, Capitão da Guarda, se sente atraído pela forte mulher que luta por seus ideais e não abaixa a cabeça pra ninguém. Enquanto Quasimodo se aproxima de sua nova amiga, ele descobre um plano maligno que pode destruir a cidade que ama e um povo marginalizado e tenta a todo custo convencer a todos que o que realmente importa é quem somos por dentro, não por fora.

Inspirado no romance clássico de Victor Hugo, O Corcunda de Notre Dame é o 34° longa animado da Walt Disney. Repleto de ação, humor e com os deslumbrantes cenários de uma Paris Vitoriana, o filme apresenta uma das tramas mais maduras e concretas que o estúdio apresentou em toda sua história. Com uma qualidade visual impecável, e uma roteiro bem trabalhado o longa consegue nos presentear com uma obra prima da animação que procura fazer jus ao clima sombrio da obra original.

O filme ainda apresenta uma série de críticas e discussões sobre assuntos pesados e delicados, como religiosidade, desigualdade social e o eterno preconceito com o que nos é diferente. O Corcunda de Notre Dame não tem medo de chocar o publico com cenas pesadas mas precisas, como a humilhação pública de seu protagonista, mostrando a crueldade contida no âmago humano com o que lhe é estranho e trazendo uma das cenas mais icônicas ao levantar de Esmeralda contra a soberania de Frollo. Abusando dos tons amarelos e criando um cenário de desconforto tanto para seus personagens quanto para o público, a cena nos marca de tal maneira que é difícil esquecer.

Quasimodo (Tom Hulce) foge de qualquer padrão imposto pela Disney. Ele é gentil, bondoso é totalmente submisso as crueldades de Frollo. Desde que se entende por gente, ele foi ensinado que sua deformidade o transforma em um monstro e que ele devia se contentar com o isolamento e a servidão. Quasi deseja mais do que tudo poder ser comum e andar em meio aquelas pessoa que observa de sua fortaleza e desperta sentimentos tão fortes no publico que é impossível não desejar dar um forte abraço em nosso protagonista e dizer que tudo vai ficar bem em vários momentos do filme. Sua construção como personagem é magnifica; torcemos por ele, sofremos com ele e amamos sua estranheza a ponto de não nos importamos com sua aparência e a cada segundo que se passa só enxergarmos a luz interior que ele sente que lhe falta.

Esmeralda (Demi Moore) está longe de ser a mocinha indefesa. Poderosa, sedutora e repleta de uma presença esmagadora, a cigana tem alguns dos melhores diálogos do longa. Sua postura é tão imponente que é difícil que ela passe despercebida no hall de protagonistas femininas do estúdio. Ouso dizer que sua luta pelos direitos dos proscritos e sua constante bondade em enxergar a real aparência de alguém a tornam mais interessante do que muitas princesas por ai, além de dar um ótimo toque para um publico feminino que encontra aqui uma boa representatividade.

O Juiz Claude Frollo (Tony Jay) em uma das melhores construções de vilões que a Disney já fez. Frollo se acha superior a todos os demais, enxergando pecado e desobediência em cada um deles, menos em si próprio. Considerando-se um homem santo, ele faz atrocidades em nome do divino mas encontra a dualidade que vai contra seus ideais ao se ver obcecado pela cigana de olhos verdes, trazendo a tona uma busca doente em conseguir a qualquer custo o amor de Esmeralda a ponto de transformar Paris em um rio de chamas ate conseguir. O desejo que o consome entra em conflito com a palavra que prega a 20 anos, travando uma batalha com a escória da sociedade que, segundo ele, polui as ruas parisienses.

Com uma musica tão presente e marcante, O Corcunda enche nossos olhos e ouvidos com sequência e músicas tão maravilhosas que arrepiam nossas almas. Começamos o longa com a poderosa Os Sinos de Notre Dame, que nos situam e levantam o questionamento inicial. Seria alguém um monstro apenas por sua aparência? Seguimos para Lá Fora e acompanhamos o sonho quase inalcançável do seu protagonista, com um toque profundo que nos deixa simplesmente em júbilo com tal profundidade. Passamos pela divertida De Pernas Pro Ar que apresenta um show visual magnífico, chegamos a tocante Filhos de Deus que trás um sentimento tão profundo e tão poderoso que chega a nos arrancar lágrimas ao observar a belíssima cena.

Luz celestial e Fogo do Inferno fazem uma dupla magnífica. Enquanto a primeira nos desperta uma profunda tristeza sobre alguém que foi humilhado e não se acha digno de ser amado a outra trás o conflito de um homem doente que deseja seu objetivo como alguém tentado pelo diabo. Sempre colocando a culpa no outro, nunca em si mesmo e ai daquele que recusar seu “beijo terno”. A Corte dos Milagres apresenta um tom divertido e ameaçador, mostrando que os proscritos também possuiu sua garra e estão dispostos a usá-las para se defender. A trilha foi brilhantemente escrita por Alan Menken e trás um tom único e épico que nos acompanha e deleita durante toda narrativa.

Embora não tenha sido aclamado pela critica da época, O Corcunda de Notre Dame nos presenteia com um dos melhores trabalhos do estúdio. Abrangendo temas mais maduros e trazendo uma construção exemplar de alguém humilhado e torturado que só queria ser visto como realmente é, mas conseguir despertar nossa afeição e carinho transformando o filme em uma obra prima que deve ser referenciado por sua qualidade inigualável que transborda a magia Disney para outro patamar.

“Responda ao enigma assim que puder ao soar de Notre Dame.
Quem é o monstro? E o homem quem é?
Dizem os sons, sons, sons, sons, sons, sons, sons, sons, sons de Notre Dame.”

 

Preso em um espaço temporal, e determinado a conseguir o meu diploma no curso de Publicidade decidi interagir com o grande público e conseguir o máximo de informações para minhas pesquisas recentes além, é claro, de falar das coisas que mais gosto no mundo de uma maneira despreocupada e divertida. Ainda me pergunto se isso é a vida real ou apenas uma fantasia e como posso tomar meu destino nas minhas mãos antes que seja tarde demais...

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