Crítica | Viva – A Vida é uma Festa (Coco)

Nota
5

Miguel é um menino de 12 anos que sonha em ser um músico famoso tal como seu ídolo, o falecido cantor Ernesto de la Cruz. Mas, o garoto vem de uma família cuja música é tratada como uma maldição desde quando seu tataravô abandonou a família para seguir a carreira. Determinado a virar o jogo, Miguel acaba desencadeando uma série de eventos ligados a um mistério de 100 anos que acaba levando-o para o Mundo dos Mortos, onde tudo é belo e colorido. A aventura, com inspiração no feriado mexicano do Dia dos Mortos, acaba gerando uma extraordinária reunião familiar.

Há quem, cega e erroneamente, diga que “Viva – A Vida é uma Festa” é uma cópia da animação de 2014 “Festa no Céu” (The Book of Life), produzida por Gullermo del Toro. Pela lógica dos “críticos especializados de plantão”, uma história ambientada no mesmo cenário cultural e país de uma produção lançada anteriormente é plágio. Devo salientar, acima de qualquer coisa, que não! “Viva” não é plágio de “Festa no Céu”. Semelhanças como a história envolvendo música existem, mas o que mais aproxima um longa-metragem do outro é respeito e carinho que ambos tiveram ao retratar a cultura mexicana da melhor maneira animada para inserir crianças e adultos em um universo tão rico histórica e culturalmente.

“Viva – A Vida é uma Festa” (“Coco”, no original) não parte de uma premissa inovadora, uma vez que aborda um personagem insatisfeito com exigências da família e a não aceitação, desencadeando eventos que acabam fazendo ele sair de sua zona de conforto e lutar para achar um caminho de volta para casa, tal como acontece em diversas animações da Disney e Disney/Pixar. Por outro lado, assim como tais diversos longas-metragens do estúdio mais poderoso do mundo, o que vale é a maneira como essa história já vista antes se desenvolve e encontra em si uma identidade única, a ponto de surpreender quando menos esperamos.

Em “Viva”, o desenrolar da trama, reviravoltas surpreendentes e chocantes para uma animação destinada ao público infantil, personagens simpáticos, trilho sonora impecável e o bom e velho sentimentalismo Pixar são elementos fundamentais para elevar o filme a uma categoria digna, ao lado de produções consagradas como “Wall.E”, “UP!”, “Trilogia Toy Story” e “Divertida Mente”.

Fazendo jus ao nome “Pixar”, a nova animação do estúdio não poupou a abordagem de temas polêmicos, porém inseridos de maneira sutil, como a ganância, arrependimento e o perdão, além das temáticas mais explícitas como o valor que devemos dar aos nossos familiares que estão presentes e para aqueles que não mais estão entre nós, preservando sempre a memória e o amor. Afinal, “Viva” não é só um filme sobre um garoto e seu sonho e sim sobre Miguel e sua família. Quando o menino descobre uma inesperada verdade sobre seus parentes, o tom do filme parece mudar imediatamente de uma história de aceitação e demonstração de valor para uma trama mostra o personagem principal determinado a salvar a sua família. A construção da trama familiar é dada a partir do desenvolvimento do longa, mas nos momentos finais tudo se intensifica, resultando em um dos desfechos mais belos, não só da história da Disney/Pixar, mas de toda a sétima arte desta década.

Quanto aos personagens, o foco em Miguel (Anthony Gonzalez), Héctor (Gael García Bernal), Mamá Imelda (Alanna Ubach), o cachorro Dante e Mamá Coco/Inês (Ana Ofelia Murguía), personagem que dá nome ao título original do filme, é extremamente bem dosado, permitindo também que os coadjuvantes como o ícone da música Ernesto de la Cruz (Benjamin Bratt) e os demais familiares de Miguel também tenham seu devido espaço, permitindo que ninguém sobre ou fique de fora da trama.

Dirigido com excelência e dedicação pela dupla Lee Unkrich e Adrian Molina, “Viva – A Vida é uma Festa” é belo ao retratar a cultura mexicana com maestria e respeito em um espetáculo visual absolutamente soberbo, engraçado e interessante ao desenvolver bem seus personagens e tramas, chocante ao pegar de surpresa um público que não esperava o verdadeiro sentido de uma mensagem passada pelo filme de maneira positiva até uma reviravolta fundamental, e, acima de tudo, comovente ao dedicar toda sua magia às lembranças que temos daqueles que amamos e que sempre estarão conosco. Afinal, não importa a distância, ninguém esquece ou é esquecido.

“Viva – A Vida é uma Festa” é um filme para fazer você lembrar.

 

Jornalista, crítico de cinema, fotógrafo amador e redator. Quando eu crescer, quero ser cineasta.

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