Nota
“Certa vez, você me contou que seu pai dizia que todo mundo precisava de uma história. Essa é a minha. Pode mantê-la com a sua?”
Brianna Randall teve que passar por muita coisa nos últimos anos. A morte do seu pai Frank, a descoberta chocante de seu passado e a despedida de sua mãe Claire, que voltou uma vez mais para a Escócia do século XVIII para reencontrar o seu grande amor Jamie Fraser. Mas, nada disso seria tão perturbador quanto descobrir um recorte de jornal antigo informando sobre a morte de seus pais biológicos em um terrível incêndio em 1776.
Movida pelo desejo urgente de avisar a mãe sobre seu terrível destino e pela curiosidade em relação ao seu pai biológico, a moça deixa seu namorado e seu tempo para trás enquanto se aventura pelo misterioso círculo de pedras que um dia levou sua mãe ao passado. Ao descobrir os planos de Bree, Roger Wakefield entra em desespero. Largando seu emprego, ele decide segui-la através das pedras para proteger a garota antes que ela se meta em problemas ainda maiores em um lugar brutal e devastador como os Estados Unidos da era colonial.
Depois do despertar caprichoso no final do primeiro volume, era de se esperar que a continuação tomasse o rumo deixado pelo gancho do anterior, mas não é bem isso que acontece. A segunda parte de Os Tambores do Outono começa de uma maneira mais apática que chega a beira a um balde de água fria comparado ao final empolgado do volume anterior. É quase como se uma história totalmente diferente estivesse sendo contada com pouca, ou quase nenhuma, ligação com os acontecimentos anteriores.
Diana Galbadon opta por tomar um destino diferente, mostrando um novo protagonismo nessa parte da história. Claire e Jaime se tornam apenas coadjuvantes enquanto um novo casal ganha destaque com o descobrimento desse novo mundo. Essa escolha se mostra abrupta, causando um leve desconforto no leitor mas, ao longo da trama, se revela interessante e saudosa. Quase como um revival dos primeiros volumes da saga. Diana nos faz sofrer, agonizar e, ainda assim, se apaixonar perdidamente por sua escrita.
Os conceitos da viagem no tempo são melhores explorados nesse volume, trazendo questionamentos firmes sobre um dos aspectos que sempre intrigou os fãs. É gratificante ver a mitologia ser explorada e questionada, quando tudo parecia ser apenas esquecido nos livros anteriores.
Brianna é destemida e tempestuosa, como toda boa Fraser, mas mesmo a mais valente das personagens passa por seus dilemas. A moça se encontra dividida entre a curiosidade de conhecer seu pai biológico e o amor e a lealdade àquele que a criou e amou durante toda sua vida. Ir atrás de sua mãe e conhecer Jaime seria trair a lembrança de Frank? Junto com seus questionamentos, ela precisa aprender a lidar com a nova época e se manter forte com toda adversidade que se coloca em seu caminho.
Roger sempre se mostrou sensato e protetor, mas parece que ter pisado em um século diferente desperta seu lado machista e controlador. Em vários momentos o rapaz desperta a raiva e o asco do leitor, já que o mesmo deveria ser mais consciente da civilidade que os habitantes daquele século em questão. Só passamos a ter um pouco de empatia quando o mesmo se afasta da amada, passando por poucas e boas ao longo do caminho. Claire se mostra menos desafiadora que nos volumes anteriores, mas quando trata do bem estar da sua filha ela pode se tornar uma verdadeira leoa. O Jovem Ian nos cativou de um modo impar durante o ultimo volume e consegue partir nossos corações com seu destino, além de mostrar um crescimento sublime.
Mas, o real problema do livro se encontra em seu protagonista. Já foi mostrado varias vezes pequenos detalhes da personalidade tóxica de Jaime e de seus constantes feitos sobre-humanos (afinal, é super comum um humano comum conseguir matar um urso armado apenas com uma faca, não é?), mas é nesse livro que se toma um arco dramático extremamente problemático. Jaime sempre teve suas mulheres como uma espécie de posse, tomando decisões controversas e achando que é seu direito mas, quando um acontecimento traumatizante (que deveria ser sobre determinada pessoa) volta seu foco para o protagonista, mostra o quão problemático esse arco pode ser.
É inegável que Jaime já sofreu durante sua jornada, mas não era o momento do foco voltar a ele. Não é sobre ele, nunca foi sobre ele. O trauma é dessa outra pessoa e é o momento dela sofrer e receber apoio. Não Jaime. Mas Dianna insiste em focar na exorcização dos fantasmas dele e de arcos antigos do mesmo. Pelo amor de Zeus, Diana.
A edição da Arqueiro remete bem o vazio não explorado das novas terras, as pedras misteriosas e seu poderoso chamado. As folhas amareladas e a fonte confortável ajudam na leitura do calhamaço, nos transitando durante suas páginas e intervindo nossas mentes em sua trama detalhadamente descrita.
Repleta de traumas, ódio e reencontros profundos, Os Tambores do Outono – Parte II da um novo folego a trama e, embora tenha diversos problemas, nos deixa intrigado para conhecer esse novo arco que parece se estender a nossa frente como a belíssima Cordilheira dos Fraser, com todo seu mistério e um amor tão intrínseco que pode, sim, atravessar o tempo.
“- Há um silêncio ali. Algo está acontecendo e não consigo perceber. Não acho que tenha a ver conosco… mas, mesmo assim não estou tranquilo. – disse abruptamente. – E eu já vivi tempo suficiente para ignorar tal sensação.”
Ficha Técnica |
Livro 4 Parte 2 – Outlander Nome: Os Tambores do Outono Autor: Diana Gabaldon Editora: Arqueiro |
Skoob |
Phael Pablo
Preso em um espaço temporal, e determinado a conseguir o meu diploma no curso de Publicidade decidi interagir com o grande público e conseguir o máximo de informações para minhas pesquisas recentes além, é claro, de falar das coisas que mais gosto no mundo de uma maneira despreocupada e divertida. Ainda me pergunto se isso é a vida real ou apenas uma fantasia e como posso tomar meu destino nas minhas mãos antes que seja tarde demais...