Crítica | A Balada de Buster Scruggs (The Ballad of Buster Scruggs)

Nota
4

O faroeste é uma temática cheia de potencial, e as mãos dos aclamados irmãos Joel e Ethan Coen parecem espremer todo o brilhantismo potencial da temática para frutificar em seis segmentos antológicos, seis historias do velho oeste que exploram a fronteira americana enquanto acompanham de foras da lei a colonizadores, que brinca com a morte e nos leva a profundas reflexões que beiram o mais completo absurdo. Apesar de ficar meio cansativo em sua metade, os irmãos Coen são sem comparações e conseguem recuperar o folego a ponto de nos jogar novamente no clímax de cada historia, tudo enfeitado por um elenco estrelado e cheio de belas atuações, que vão desde o tocando ao engraçado, passando pelo contemplativo.

A primeira trama é “The Ballad of Buster Scruggs“, onde vemos o criminoso Buster Scruggs contando sobre os perigos do velho oeste ao som de canções contagiantes e de um ar canastrão que nos conquista de cara, fazendo rir com seu jeitão nada criminoso ao mesmo tempo que se contradiz com seu gatilho rápido. Em seguida vemos “Near Algodones“, que vemos todo o brilhantismo de James Franco como o singelo e maléfico criminoso cowboy que vive uma desventura incrivelmente inusitada e com um final dignamente revoltante e cármico. “Meal Ticket” é a mais tocante das histórias, onde vemos o sofrimento de Harrison (Harry Melling), que não possui pernas e nem braços e, ao lado de seu empresario (Liam Neeson), precisa viver das apresentações itinerantes, que vem tornando a grana cada vez mais escassa e a sobrevivência cada vez mais dificil.

O quarto curta, “All Gold Canyon“, conta a aventura cativante e lenta do Garimpeiro, um velho homem que está lutando para encontrar seu sonhado veio de ouro, dia após dia cavando ao redor do riacho em busca de encontrar o ponto onde estará a maior pepita de ouro, uma aventura que apesar de lenta, possui um final gratificante. Perto do fim temos ” The Gal Who Got Rattled“, a maravilhosa história de superação de Alice Longabaugh, interpretada maravilhosamente por Zoe Kazan, que está migrando para o Oregon e precisa lidar com as dificuldades da vida, os problemas do trajeto e seu, inesperado, envolvimento com Billy Knapp. Para finalizar temos “The Mortal Remains“, que traz uma trama muito mais profunda e reflexiva, uma rápida viagem a charrete reunindo um irlandês, um inglês, um francês, um caçador e uma senhora, um curto caminho e uma curta conversa que reflete as visões da morte e culminam numa recontextualização do filme, um final que não só nos deixa refletindo sobre a história como nos faz refletir sobre todo o caminho que o filme trilhou.

Infelizmente tenho que dizer, mas raramente a Netflix acerta tão bem quanto acertou ao apostar nessa trama dos irmãos Coen, o filme parece não ser bom de inicio, levando um ou dois curtas para nos conquistar, mas no final percebemos o erro que foi não confiar no potencial da trama de inicio, além de pensar por que não confiarmos que os irmãos Coen poderiam entregar mais um sucesso, mesmo que feito para a empresa de streaming. É preciso também citar que o longa trás uma fotografia estupenda, que merecia ser exibida numa telona de cinema, e infelizmente não teve essa oportunidade. A questão é que A Balada de Buster Scruggs é uma produção que tem potencial, que supera as expectativas e que, mesmo esfriando na metade, consegue satisfazer no final com uma amarração digna de seus diretores.

 

Sonhador nato desde pequeno, Designer Gráfico por formação e sempre empenhado em salvar o reino de Hyrule. Produtor de Eventos e CEO da Host Geek, vem lutando ano após ano para trazer a sua terra toda a experiência geek que ela merece.

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