Crítica | It – A Coisa (It) [2017]

Nota
5

“You’ll float too.”

Em um dia chuvoso, o jovem George (Jackson Robert Scott) decide sair para brincar com seu barquinho de papel feito pelo seu irmão mais velho nas correntezas formadas em sua rua. A diversão do garoto acaba quando o brinquedo cai em um bueiro, proporcionando o encontro mais inusitado da vida do garoto: um macabro palhaço chamado Pennywise (Bill Skarsgård), resgata o barco do menino e tenta convencer o mesmo a se aproximar do esgoto, prometendo diversão, alegria e balões que vão fazer o menino flutuar…

Meses depois do desaparecimento de George, Bill (Jaeden Lieberher), seu irmão mais velho, ainda sente o peso da culpa de não ter estado do lado dele naquele dia. Acreditando que o irmão ainda possa estar vivo, o garoto se junta com o seus amigos de escola para investigar a série de desaparecimentos macabros que assolam a cidade de Derry. Unidos por suas diferenças e pelo constante bullying dos valentões, o Clube dos Perdedores passam a sofrer constantes aparições sinistras de uma criatura medonha que se esconde no cerne da cidade.
Determinados a colocar um ponto final nos ataques, os amigos embarcam em uma jornada amedrontadora. Mas como lutar quando todos os seus medos se tornam reais? O que fazer quando todo adulto parece ter sido corrompido? Como enfrentar um palhaço demoníaco com poderes sobrenaturais que se alimenta de crianças a cada 27 anos e parece conhecer perfeitamente todos seus medos e receios?

Antes de mais nada é preciso dizer que It: A Coisa está longe de ser um filme de terror. Baseado no livro de Stephen King, o longa vai muito além dos jumpscare e projeções tenebrosas, se aproximando muito mais da obra original que o da serie antecessora. Dirigido por Andy Muschietti, o filme é uma experiência aventuresca que mistura o horror macabro e a comédia precisa em um dos temas mais adorados do autor: a amizade.

O longa encarna com precisão o cerne do livro e trás uma das melhores adaptações dos últimos anos. Sua construção é tão impecável que transborda sensações através da tela. Criamos uma empatia real com seus personagens e abraçamos seus problemas, temendo e encarando o misto de sentimentos que o filme tem a nos proporcionar.

Com um roteiro afiado, o filme vai tecendo uma trama envolvente que explora não só o terror em si mas os dilemas de cada personagem, assim como a forte ligação que eles vão criando de uma maneira fluida e sem parecer forçada. O filme constrói um desconforto crescente. Seja pelos ataques da Coisa, ou simplesmente pelo descaso dos adultos mostrando que tem algo de muito errado na cidade de Derry.

O bullying mostrado é cru e brutal, o clima que a história nos vende esta longe de ser apaziguado, transformando os moradores da cidade em figuras distorcidas. Sim, o filme explora o terror de um palhaço assassino, mas, mesmo sem ele, o filme nos deixa tenso com os adultos quebrados e as situações desconfortáveis dos traumas vividos por cada um de seus personagens.

A cena inicial é tão magnifica que se torna um marco cinematográfico. Tudo nela é bem construído, desde o desconforto sentido na primeira aparição de Pennywise até o clima que o filme nos apresenta logo de cara. Ouso dizer que é uma das melhores cenas de apresentação de personagem que já vi na vida. Tudo esta ali. A aparente inocência, a crueldade no olhar, a mistura entre o macabro e o poder que o personagem exige. Tudo em Pennywise causa desconforto. Sua presença, por si só, já causa uma tensão constante despertando nosso assombro.

A atuação de Skarsgård é tão magnifica que fica impossível não entrar de cabeça em seu personagem. Com um controle magnifico de expressões e trejeitos extravagantes, o ator consegue expressar os pensamentos malignos por trás da aparente doçura que o personagem quer exibir. Ele amedronta, assusta e rouba totalmente a cena nos deixando aflitos e temerosos. Nunca sabemos o que esperar do palhaço e muito menos quando e como ele vai atacar.

Mas, não é só o vilão que brilha na trama. O elenco mirim mostra uma desenvoltura assombrosa para construir o carisma e a complexidade de seus personagens. Todos eles tem seus receios e medos e todos eles se veem jogados além da imaginação. Os sete protagonistas são expressivos, talentosos e encantadores mantendo bem o interesse do espectador em seu futuro.

Billy é o líder do grupo. Determinado a descobrir os mistérios que cercam o desaparecimento do seu irmão, o garoto se mostra um dos mais valentes e determinados do grupo. A sombra que cerca sua família e a tentativa de reestruturar o que foi perdido leva a questionamentos profundos que o faz instigar todos os outros a prosseguir. Beverly (Sophia Lillis) não tem uma boa reputação na escola. A única garota do grupo vive com a constante ameaça do pai, trazendo algumas das cenas mais perturbadoras do longa. Entregando todo o desespero e desconforto necessários, Sophia entrega uma atuação impecável que desperta o nosso interesse e demonstra que ela vai longe.

Ben (Jeremy Ray Taylor) é o novato da escola. Atormentado pelos valentões, o garoto prefere se esconder na biblioteca e pesquisar sobre o passado sombrio da cidade. Seu jeito doce é adorável, nos fazendo torcer pelo mesmo e despertando nosso carinho de uma forma profunda. Eddie (Jackie Dylan Grazer) trás um menino complexado e inseguro, que vive doente pelo controle obsessivo de sua mãe. Richie (Finn Wolfhard) é o piadista do grupo. Cheio de um humor contestável, o rapaz serve como alivio cômico trazendo um excesso de palavrões, bastante presente para sua idade, como alguém que quer se mostrar mais adulto do que é. Sua química com Eddie é uma das melhores coisas do filme. A interação entre os dois é sublime e divertida.

Mike (Chosen Jacobs) e Stanley (Wyatt Oleff) não possuíam uma presença tão marcante quanto os demais mais conseguem dar personalidade a seus personagens. Henry (Nicholas Hamiltin) é um sociopata asqueroso, que desconta toda sua fúria no grupo e traz um perigo a mais para sua jornada. A atuação de Jackson como o pequeno George é magnífica. O garoto consegue passar de doce e assustado para algo medonho em um piscar de olhos. Tudo nele é magnífico e mesmo com pouco tempo de tela ele trás uma carga sublime a trama.

Trazendo questionamentos latentes e entregando uma trama sublime, It: A Coisa atravessa o campo do horror e nos entrega um filme sobre amadurecimento e amizade. Intercalando perfeitamente a doçura do fim da infância com o terror de traumas pesados, o filme proporciona um misto de emoções que, mesmo que não assuste, nos proporciona algo mais visceral que nos deixa desconfortáveis ou aflitos. Nos mostrando que existem coisas bem mais preocupantes que um palhaço maligno e que o medo em sua forma concreta pode aparecer em lugares inesperados, como no conforto do seu lar.

 

Preso em um espaço temporal, e determinado a conseguir o meu diploma no curso de Publicidade decidi interagir com o grande público e conseguir o máximo de informações para minhas pesquisas recentes além, é claro, de falar das coisas que mais gosto no mundo de uma maneira despreocupada e divertida. Ainda me pergunto se isso é a vida real ou apenas uma fantasia e como posso tomar meu destino nas minhas mãos antes que seja tarde demais...

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