Crítica | It: Capítulo Dois (It: Chapter Two)

Nota
4

“Mas você sabe o que dizem sobre Derry? Ninguém que morre aqui morre de verdade.”

Após os macabros eventos do verão de 1984, o Clube dos Otários seguiu caminhos distintos e esqueceu suas tenebrosas aventuras e o laço que um dia formaram. Mas após 27 anos de uma aparente calmaria, a cidade de Derry começa a ter novos ataques que indicaram que a criatura que pensaram ter destruído despertou de seu sono para mais um ciclo.

Mike (Isaiah Mustafa), o único dos Otários que permaneceu em Derry dá o alerta. Ele liga para cada um dos seus companheiros para relembrar o pacto de sangue que todos fizeram quando derrotaram a Coisa pela primeira vez. Mas o retorno para Derry nunca é algo fácil. Bill (James McAvoy), Beverly (Jessica Chastrain), Ben (Jack Ryan), Richie (Bill Hader), Eddie (James Ransone) e Stan (Andy Bean) precisam enfrentar seus traumas e medos e encarar uma última vez o maldito palhaço que mudou de vez as suas vidas.

Em 2017, os fãs do mestre Stephen King ganharam o privilégio de revisitar uma das histórias mais intensas e lembradas do autor, mas foi com receio que muitos (inclusive eu) receberam a notícia que It: A Coisa seria dividido em duas partes. Como transformar algo completamente espelhado em dois filmes distintos que trabalhem bem separadamente e em conjunto? Como narrar a estranheza da obra de uma forma crível sem perder sua essência? Em 2019, posso dizer que essa escolha foi a mais eficaz para trazer a obra à tona.

Dirigido pelo brilhante Andy Muschietti, It: Capítulo Dois traz uma conclusão épica para a história que tanto amamos e adoramos ao longo desses anos. Desde sua abertura, notamos a grandiosidade da obra com uma cena de crueldade  que nos deixa desconfortavelmente colados na cadeira. Tudo está maior e o filme assume o seu manto de conclusão, jogando-nos mais uma vez na insanidade macabra de Derry.

Com uma ambientação primorosa, o longa toma seu próprio tempo para criar uma crescente tensão e construir sua história ao seu próprio modo, sem medo de alongar cenas. Muito do livro é trazido de modo coeso e bem estruturado em um roteiro afiado que fica a cargo de Gary Dauberman. O longa ainda possui uma montagem impecável que mostra todo o cuidado e dedicação que a produção teve com o projeto. São transições bem elaboradas que nos deixam agradavelmente surpresos e não seria de nenhum espanto se esses fatos fossem lembrados nas grandes premiações.

A fotografia memorável que transmuta acertadamente seus tons durantes as diferentes sensações que o filme nos passa, inserindo-nos ainda mais no contexto que o diretor que passar. É notável a liberdade que o estúdio deu ao Muschietti para contar a história do seu jeito e ainda mais notável o respeito que ele teve pela obra original. Não é à toa que o próprio King abençoou o projeto com sua ilustre participação (fiquem de olhos atentos).

Mas o filme não seria nada sem seus personagens.  Utilizando seu maravilhoso elenco infantil para criar um espelho dos problemas e traumas de suas versões adultas, o longa ainda nos presenteia com momentos magníficos, recordando partes que ficaram nebulosas no primeiro filme e trazendo um novo contexto para a obra. É surpreendente o quanto eles ainda têm para nos contar mesmo com todo o primeiro longa parecendo tão fechado.

James McAvoy nos entrega um Bill ainda atormentado com a culpa. O personagem ganha novas camadas e aprofunda ainda mais seu pesar. Sua motivação fica ainda mais evidente, junto com sua urgência em salvar a todos. James consegue transpor tão perfeitamente o personagem que é impossível não visualizar o garoto crescido diante dos nossos olhos. Já Bev tem sua infância refletida diretamente em sua nova vida. Casada com um homem tão perturbado e violento quanto seu pai, a única garota do grupo segue marcada por traumas e protagonizando algumas das cenas mais perturbadoras do longa. O Ben, de Jack Ryan, tomou o destino em suas mãos, mas, ao regressar para Derry, parece encolher e voltar para as sombras de Bill.

Bill Hader e James Ransone são os grandes acertos desse filme. Ritchie e Eddie, respectivamente, são encarnados de uma forma tão sublime que encanta o público. A química entre os dois, junto com suas atuações impecáveis, conquistaram os telespectadores de uma forma envolvente. Com seu humor debochado que nos faz rir até nas piores horas, Richie rouba cada uma das cenas em que aparece. Eddie apela para nosso emocional, tendo sua vida espelhada como a de Bev e vivenciando seu passado de forma tão concisa e penetrante.

Mike tenta manter o grupo unido, mas sua força não é suficiente. Preso em Derry desde a infância, o rapaz se sente obrigado a quebrar o ciclo e salvar a cidade de uma vez por todas, mesmo que para isso ele precise encobrir alguns fatos e mentir para seus amigos. Stan se mostra muito mais presente nesse novo capítulo do que no anterior. O que chega a ser irônico, já que o personagem tem menos tempo de tela, mas seu impacto se torna mais profundo a ponto de mexer com todos os outros.

E chegamos ao demoníaco Pennywise (Bill Skarsgård). Mesmo mantendo a excelência na atuação, o personagem parece mais contido nesse segundo longa. Sim, ele ainda rouba as cenas e se mostra tão amedrontador quanto no longa anterior, mas deixa um espaço maior para os outros brilharem durante o longa. Parece que falta algo, mas isso não torna o personagem menos icônico e poderoso.

Levando a saga a um novo patamar, It: Capítulo Dois finaliza bem o arco dos protagonistas e nos entrega uma adaptação digna do rei do horror. Tenso, poderoso e – por que não? – épico, o filme nos deixa estarrecidos e gratos por acompanhar algo tão intenso e profundo. Expondo nossas cicatrizes e nos dizendo que tudo bem sentir medo, pois nada nessa vida dura para sempre… nem mesmo o pior dos pesadelos.

“Por 27 anos… eu sonhei com vocês. Eu desejei vocês. Eu senti falta de vocês!”

Preso em um espaço temporal, e determinado a conseguir o meu diploma no curso de Publicidade decidi interagir com o grande público e conseguir o máximo de informações para minhas pesquisas recentes além, é claro, de falar das coisas que mais gosto no mundo de uma maneira despreocupada e divertida. Ainda me pergunto se isso é a vida real ou apenas uma fantasia e como posso tomar meu destino nas minhas mãos antes que seja tarde demais...

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *