Resenha | Frankenstein: ou o Prometeu Moderno

Nota
5

“Se eu não posso provocar compaixão e amor, então, eu vou provocar o terror.”

Durante uma exploração náutica com destino ao Polo Norte, o navio do Capitão Robert Walton fica preso em um dos congelamentos do oceano. Preso e sem muito o que fazer, o capitão ficava escrevendo longas cartas a sua irmã Margaret, que permaneceu na Inglaterra quando a tripulação avista um estranho espetáculo: um ser, em forma de homem mas com uma estatura colossal de locomoção através do gelo em um trenó puxado por cães.

Logo após a curiosa visão, o mar se abriu e eles avistaram uma balsa com um tripulante moribundo. Resgatado e acolhido, o estranho homem parece traumatizado com os acontecimentos de sua jornada. Aos poucos, o rapaz ganha alguma sobriedade e começa a narrar os estranhos acontecimentos de sua vida.

Victor Frankenstein já foi um ambicioso cientista que almejava com toda sua alma a busca incessante por conhecimento. Tentando entender a origem da vida, o mistério da morte e a própria criação divina, o jovem mergulhou em terrenos sombrios que resultam em uma das criaturas mais assombrosas que se tem registro. Assombrado por seu passado, Victor tenta retornar a sua antiga vida mas sua criação volta para assombra-lo e cobrar o preço de sua existência amaldiçoada.

Durante o verão de 1816, um casal e uma dupla de amigos decidiram criar uma pequena competição. Cada um deles escreveria uma história de fantasmas para passar o tempo, mas apenas uma delas chegará a ver verdadeiramente a luz do dia. Decidida a contar uma história que realmente fizesse enregelar o sangue e assustar aqueles que se aventuraram por suas linhas, Mary Shelley procurou sua inspiração em um pesadelo mas mal podia sonhar que estaria revolucionando o mundo literário.

Considerado como a primeira obra de ficção científica da história, Frankenstein: ou o Prometeu Moderno é uma obra atemporal que se mostra tão aterradora quanto no século em que foi escrita. Utilizando-se de uma narrativa dentro de uma narrativa somos levados atrás de cartas, apresentados ao dilemas de Walton, antes mesmo de conhecermos Victor e seus infortúnios. O leitor passa a se interessar com o estranho cientista e desejar conhecer sua historia de uma maneira natural e, quando por fim estamos prontos para a trama em si, somos transportados com maestria pela conversa fácil que a autora nos proporciona.

Pioneira em tratar sobre assuntos mais sombrios como vidas artificiais, reanimação dos mortos e uma sede destrutiva em tomar a vida nas mãos, Shelley faz uma releitura de mitos gregos comparando a era clássica com a modernidade de sua época. Misturando questionamentos tão antigos quanto o pensamento humano com os avanços tecnológicos do Século XIX. Sua trama possui tantas camadas e aprofunda tão bem suas nuances que é impossível não se sentir tragado pela narrativa.

O realismo de seus personagens é algo tão sublime que é digno de palmas. Os protagonistas da longa jornada permeiam na área cinzenta onde são confrontados pelo melhor é o pior de si. Se livrando da bondade genuína de tantos outros heróis, os personagens são tomados por sentimentos e atitudes tão mundanas que se tornam criveis aos olhos do leitor. Seja pelo desejo compulsivo, a inveja ou a eloquência em ser aceito que torna todos tão humanos.

Victor teve uma infância maravilhosa, mas, obcecado com suas pesquisas, o cientista se aprofunda ainda mais em sua criação, pouco aproveitando todo o amor e beleza que a vida lhe proporciona. Tentando entender e domar a vida e a morte em suas mãos, Victor se torna alguém amargurado e recluso, que torna seus pesadelos reais ao trazer a vida algo tão demoníaco que nem seus piores sonhos poderiam imaginar.

Já o monstro em questão faz o caminho oposto do criador. Abandonado após seu nascimento, ele tem como instinto primário apreciar a beleza da natureza e a simplicidade da vida. Mas, com sua feição monstruosa, ele passa a conhecer o pior lado da crueldade humana se tornando alguém repleto de cicatrizes internas, após tantas tentativas de se mostrar gentil e apenas receber aversão. Amaldiçoando sua posição, o monstro volta sua ira para o único ser que poderia lhe entender: seu cruel criador.

O embate entre criador e criatura é algo tão sublime e memorável que se perpetua pelos séculos. A transposição da crueldade de um com a doçura selvagem do outro leva a uma dualidade impar e, em vários momentos da trama, somos levados a nos questionar quem é realmente o monstro e o vilão da história?

A edição da Martin Claret reúne outros dois clássicos com a eletricidade da obra. Com paginas amarelas e uma fonte um tanto quanto minúscula, o livro tenta condensar o máximo de palavras em seu conteúdo para entregar o que as três histórias querem passar. Com um ar misterioso e simples, a obra cumpre o que promete e nos entrega algo compactado mas não menos primoroso, apresentando até ótimas introduções a cada nova história.

Mergulhando nos lugares mais sombrios da mente humana, Frankenstein: ou o Prometeu Moderno nos entrega uma obra a frente do seu tempo que levanta questionamentos tão latentes que poderiam ser levantados nos dias atuais sem nenhuma dificuldade. Descrevendo o eterno desconforto com a mortalidade e os mistérios da morte, o livro se torna tão humano que é impossível não se interessar por seus questionamentos, mesmo quando eles voltam para nos assombrar.

“Descobri como e porque a vida é gerada. Mais impressionante ainda: tornei-me capaz de dar vida à matéria inanimada – de transformar a morte em vida.”

 

Ficha Técnica
 

Livro Único

Nome: Frankenstein: ou o Prometeu Moderno

Autor: Mary Shelley

Editora: Martin Claret

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Preso em um espaço temporal, e determinado a conseguir o meu diploma no curso de Publicidade decidi interagir com o grande público e conseguir o máximo de informações para minhas pesquisas recentes além, é claro, de falar das coisas que mais gosto no mundo de uma maneira despreocupada e divertida. Ainda me pergunto se isso é a vida real ou apenas uma fantasia e como posso tomar meu destino nas minhas mãos antes que seja tarde demais...

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