Análise | Cult of the Lamb

Nota
5

Desenvolvido de forma independente pela Massive Monster e publicado pela Devolver Digital, Cult of the Lamb é um jogo que mistura elementos de roguelike com gerenciamento de cultos, e que rapidamente conquistou uma fanbase mundial. A granda sacada do jogo é a forma como consegue gerar novos layouts e combinações de equipamentos a cada nova incursão nos reinos, o que torna cada cruzada única, algo que só se fortalece quando se leva em consideração suas batalhas intensas e caóticas, que demandam estrátegias e raciocinios para chegar ao final e ainda conseguir coletar material suficiente para progradir na trama e fortalecer seu culto. O jogo foi lançado em 11 de agosto de 2022 para macOS, Nintendo Switch, PlayStation 4, PlayStation 5, Windows, Xbox One e Xbox Series X/S, e recebeu três indicações no 19º British Academy Games Awards, incluindo Melhor Jogo.

 

ENREDO – CONSTRUA UM PODEROSO CULTO

Lambert, o Cordeiro, é o último de sua espécie, por isso é tão valoroso para os Quatro Bispos da Antiga Fé, que decidem por sacrificar ele. Mas sua jornada pós morte é interrompida quando ele acaba encontrando Aquele que Espera no submundo, uma estranha divindade que está aprisionada em correntes e oferece ao Cordeiro a chance de voltar a vida, com uma condição: ele terá que iniciar um culto em seu nome e usar a Coroa Vermelha, uma coroa demôniaca que canaliza poder atráves da devoção, para derrotar Leshy, Heket, Kallamar e Shamura, os Quatro Bispos que sacrificaram o Cordeiro e que são os guardiões das quatro correntes que selam Aquele que Espera. Uma jornada de aventura e muita disciplina, que leva o Cordeiro a, com a ajuda de Ratau, o antigo escolhido dAquele que Espera, adentrar os reinos de DarkwoodAnuraAnchordeepSilk Cradle ao mesmo tempo que luta para expandir o culto com seguidores, usando essas cruzadas para aumentar ainda mais sua influência e poderes.

GRÁFICOS – O DIABO ESTÁ NOS DETALHES

A estética do jogo é um dos seus pontos altos. Seu visual cartunesco, que mistura elementos sombrios com cores vibrantes, criam um contraste que atrai facilmente a atenção do público. O design dos personagens de destaque e até dos seguidores é envolvente e delirante, dando aquele ar de fofura ao colocar animais como membros do culto ao mesmo tempo que temperam com o macabro, refletindo a temática do culto através de suas interações. A forma como a animação é fluida e bem elaborada só soma na jogatina, dando vida ao ambiente e aos personagens ao mesmo tempo que deixam o jogador imerso nessa busca por manter o culto em ordem, disciplinar os infiéis, manter a congressão acreditando na causa e se enveredar na jornada de libertar seu nosso mestre. Todo esse universo de possibilidades pode ser arrastado no começo, quando as coisas estão sendo liberadas aos poucos, mas a interface intuitiva facilita para o jogador manter o controle quando tudo ficar mais frenético, além disso ainda temos um feedback visual agil, já que cada ação dentro do culto resulta e uma consequência/interação imediata, como quando alguem morre e de repente todos começam a vomitar ou quando um seguidor come um prato duvidoso e imediatamente adoece.

AMBIENTAÇÃO – UM UNIVERSO DEMONIACO DIVERSO

Os diversos cenários que o jogador visita têm caracteristicas únicas, sendo completamente fiel ao significado de bioma. O primeiro dungeon é Darkwood, uma floresta densa formada por árvores altas e de copa cheia, através das quais a luz do sol mal penetra, e cheia de gramas e arbustos espalhadas pelo cénario, que é habitado por vermes, minhocas e morcegos demoniacos. O segundo bioma é Anura, um pantano coberto de grama laranja, musgo e cogumelos de todos os tamanhos (inclusive alguns cogumelos enormes têm pessoas presas dentro) e que é habitado por sapos demoniacos e esqueletos. Em seguida temos Anchordeep, um reino marinho cheio de algas, esqueletos de mortos amarrados por correntes ao fundo do mar e que é habitado por polvos, agua-vivas e carangueijos. Por fim temos Silk Cradle, uma toca obscura tomada por um esquema de cores azul e roxo e cheio de grandes esqueletos, ossos e teias das aranhas e artrópodes que habitam esse lugar. Como se não bastasse a diferença nas aparências, cada cenário também traz mecanicas de armadilhas e mobs diferentes, como o fato de os mobs de Anchordeep terem a capacidade de pular ou correr, dificultando um pouco mais as lutas, ou os mobs de Anura terem capacidade de atirar projeteis, o que dificulta a aproximação. Um trabalho visual que complementa a narrativa e mostra como a ambientação e personagens podem contar uma história e se entrelaçar com o enredo do jogo.

SOM – CHOQUE DE FOFO COM MACABRO

O contraste que existe entre o visual e a trama não é visto apenas visualmente, a trilha sonora parece abraçar o objetivo de mostrar que é possivel ser fofo e assustador ao mesmo tempo. A trilha sonora de Cult of the Lamb é uma parte fundamental da experiência do jogo, misturando notas eletrônicas com um ritmo relaxante de uma forma que parece a moldura perfeita para constrastar com um culto onde você está fazendo rituais sanguinários, como o de convocar uma criatura interdimensional para matar um de seus seguidores em troca de aumentar a crença do resto. Escrita e produzida por River Boy, a trilha é tão diversa quando o espirito do jogo, nos presenteando com uma variedade de estilos, desde melodias suaves e quase inocentes até temas mais sombrios e inquietantes que podem nos relaxar, nos agitar, nos animar ou nos entristecer, despertando um lado macabro dentro de cada um de nós (quem não cansou de tentar disciplinar um infiel e decidiu fazer um sacrificio, não jogou direito). A trilha é um dos pontos fortes da jogatina, já que parece refletir a dualidade que o jogo inteiro representa e criar um atmosfera única, arrematando o visual adorável e cartunesco com tons de tensão e urgência, capturando o sentimento do momento e combinando o terror e a doçura do Cordeiro. Talvez o único problema seja uma jogatina mais longa, já que as músicas, apesar de serem diversas, começam a se tornar repetitivas depois de algumas horas de jogo, o que pode cansar apesar de moldar a identidade do jogo e intensificar a narrativa.

JOGABILIDADE – ABRACE A SEITA QUE TE ABRAÇOU

Cult of the Lamb é um jogo focado em duas vertentes básicas: formar um culto e conquistar os reinos dos Quatro Bispos. Colocando esses dois fatores em consideração, de um lado temos um clássico roguelike, onde o Cordeiro precisa passar de sala em sala, derrotando os inimigos e coletando material para usar em sua moradia ou para se preparar para enfrentar o Boss. Cada um dos mundos é gerado aleatoriamente, o que garante que cada cruzada vai ser diferente, e que a monotonia não vai ser um problema. Não falta tarefas, afinal, enquanto não chega no Boss você tem que coletar recursos, vantagens e armas, encarar os diversos cultistas rivais, resgatar outros sacrificios para doutrinar como seu fiel e até fazer pequenas tarefas. Do outro lado da moeda está um jogo de construção e gerenciamento, afinal tudo começa com o Cordeiro se instalando nas ruínas de um templo, que se torna a sede da seita, e é nesse mund que precisamos garantir que todos os fieis estejam satisfeitos, que eles vão ser bem cuidados quando estiverem com fome, sono ou doentes.

EXTRAS – QUEM NÃO AMA COLEÇÕES?

Em um jogo onde tudo se resume a saquear dungeons e manter um culto em ordem, quase tudo é parte essencial da jogatina, mas os desenvolvedores ainda conseguiram achar espaço para incentivar os jogadores a irem mais além. Primeiro de tudo temos os Follower Forms, que são as ‘skins’ que podem ser aplicadas nos seus seguidores ao entrarem no culto, por padrão o jogo lhe dá cinco opções, mas no decorrer do jogo você vai adquirindo novas opções até completar as setenta e uma formas, além das vinte liberadas por DLC e das quinze limitadas. As Cartas de Tarô são itens fornecem buffs e bênçãos e as Relíquias são itens que permitem executar ataques especiais ou ações especiais, ambos são destravados em dado momento do jogo e vão sendo usadas nas dungeons para ganhar um bônus mega bemvindo, mas acima de tudo, são itens que vão sendo destravados na jogatina, o que permite que o jogador possa desbloquear as 66 opções de cartas e as 62 opções de reliquias. Outra coisa que pode ser colecionada são as decorações, itens que podem ser usados para tornar o local do seu culto mais ‘bonito’, com objetos que podem ser encontrados em lojas no jogo, em dungeons ou até em eventos e missões.

CONCLUSÃO – LOUVADO SEJA NOSSO CORDEIRO QUE JÁ FOI SACRIFICIAL

Com uma pegada envolvente, Cult of the Lamb é uma curiosa surpresa que mescla dois modelos de jogo que se complementam de uma forma gratificante. O jogo permite que cada aventura seja única, onde o jogador vai precisar coletar itens e recrutar seguidores ao mesmo tempo que avançam na batalha contra a Antiga Fé, gerando um ciclo de dependencia onde você precisa participar das cruzadas para melhorar o culto e onde você precisar manter o controle do culto para garantir melhorias na sua próxima run.  Além disso os seguidores surgem com traços de personalidade positivos e negativos, que demandam uma atenção um pouco maior para garantir que as interações e reações interfiram na sobrevida do culto. A narrativa de Cult of the Lamb se desenvolve à medida que o jogador vai desbravando os segredos que esse mundo oferece e se tornam essenciais para decidir o destino do seu culto, como se não bastasse o pós-game traz reviravoltas e uma nova trama, que permite o jogador passar novamente por todas as fases com uma versão alterada dos boss, com novas recomenpensas e novas informações sendo reveladas. Brincando ao colocar toda a trama dentro de um mundo colorido ao mesmo tempo que é sombrio, Cult of the Lamb mostra que não se destaca só visualmente, que também sabe debater sobre fé, poder e sacrifício, ao mesmo tempo que coloca seus usuários para explorar masmorras, enfrentar inimigos, e tomar decisões que afetam a lealdade dos seus seguidores.

Sonhador nato desde pequeno, Designer Gráfico por formação e sempre empenhado em salvar o reino de Hyrule. Produtor de Eventos e CEO da Host Geek, vem lutando ano após ano para trazer a sua terra toda a experiência geek que ela merece.

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