Depois de Thank you, next é impossível não olhar para a menina Ariana Grande e observar o seu amadurecimento. Após o lançamento da música que ganhou um clipe inspirado em vários filmes da década de 90, percebemos que é impossível não falar da melhor música do seu último álbum, o sweetener, lançado dia 17 de agosto.
You, you love it how I move you
You love it how I touch you
My one, when all is said and done
You’ll believe God is a woman
And I, I feel it after midnight
A feelin’ that you can’t fight
My one, it lingers when we’re done
You’ll believe God is a woman
Nos primeiros 30 segundos de clipe, a cantora mostra o visual da produção, com direito a efeitos especiais e muitas referências. Logo de imediato, vemos a Ariana Grande sobre a Terra usando o seu corpo para girar o cosmo, uma clara referência ao poder da mulher e, principalmente, uma forma de dizer que, sim, ela pode dominar tudo o que a cerca. Em seguida, a cantora aparece mergulhada em um mar de tinta e, ao observar de longe, percebemos que trata-se de uma representação ao órgão sexual feminino. Aqui, ela fala do sexo, da maternidade e ainda faz referência ao trabalho da pintora Georgia O’Keefe, que pinta flores como metáfora à anatomia feminina. Neste momento, a Ariana é a própria obra de arte.
Se enganam os que acham que a música não traz a mulher para a vida em sociedade. Uma das cenas mais marcantes do clipe é o momento em que um livro é aberto e a artista aparece sentada, observando alguns homens jogando insultos em sua direção. Algo que podemos perceber ao vê-la nesta posição é a semelhança com a estátua “O Pensador”, do francês Auguste Rodin. Muitos afirmam que a estátua está em meditação, lutando contra forças internas. Porém, na produção, vemos que, na verdade, a cantora luta contra forças externas, principalmente retratando essas “forças” como a violência verbal. Na cena, vemos alguns homens chamando-a de “vagabunda”, “falsa”, “burra”, “lixo”. Uma imagem pesada, mas real, infelizmente.
No clipe, podemos ver a cantora enaltecendo as mulheres de várias formas. E até aqui isso ficou bastante evidente. Depois de mostrar a poder feminino, ela faz uso da mitologia grega ao surgir como parte integrante de um Cérbero, monstruoso cão de três cabeças que guardava a entrada do mundo inferior. Segundo a história da criatura, o Cérbero é um animal forte e temido por muitos. Assim, ela consegue mostrar o quanto as mulheres podem ser fortes, chegando ao mesmo nível dos homens. Talvez, mostrando que não está sozinha. Afinal, neste momento, ela canta when you try to come for me, I keep on flourishing (quando você tenta me atacar, eu continuo florescendo).
Alguém tem dúvida do que isso representa? Uma referência óbvia à passagem bíblica em que Jesus diz: “eu sou a luz do mundo; quem me segue não andará em trevas, mas terá a luz da vida” (João, 8:12). Inclusive, essa é umas das partes da produção em que ela canta You’ll believe God is a woman e, em seguida, aparece sentada sobre o planeta. O que para muitos é blasfêmia, para a cantora é poder. Amém, Ariana!
E se você pensou que ela ia parar por aí… enganou-se. Mais uma vez, temos uma referência bíblica. Dessa vez, à Santíssima Trindade, representada pelo triângulo que está em volta da artista. E, ao redor da forma geométrica, temos o vários planetas. A imagem e a disposição dos elementos em cena representam o teocentrismo, ou seja, Deus como o centro do universo. E nem precisamos trocar o gênero da palavra “Deus” para entender o que a artista quer dizer.
Aqui, temos uma referência ato ato de dar à luz, mas também uma homenagem à Madonna ao citar um monólogo da diva do pop. Madonna, na década de 90, foi uma artista bastante importante na luta feminista e buscava sempre empoderar a sexualidade da mulher. No monólogo, ela diz: “E eu vou atacar você com grande vingança e raiva furiosa e aqueles que tentam envenenar e destruir minhas irmãs. E você saberá meu nome, é o Senhor quando eu coloco minha vingança sobre você.” Você quer sororidade? Então, toma!
Poderia ser diferente? Não! Aqui, houve uma transformação no famoso quadro de Michelangelo, A criação de Adão, tornando-o A criação de Eva. E, além disso, ainda temos uma Eva como uma mulher negra. Representatividade que chama, não é? O clipe substituiu todos os homens do quadro por mulheres. A cantora também aparece no quadro representando Deus.
Mesmo recebendo muitas críticas, o que não podemos negar é: numa onda tão conservadora em que vivemos, buscar formas de representar minorias através da arte é para poucos. A artista fez uso de vários aspectos históricos e sociais para mostrar o quanto o homem é supervalorizado só por ser homem e o quanto a mulher pode, deve e precisa ter seu próprio espaço, controlar o seu próprio corpo e sua vida. God is a Woman é uma poesia visual cheia de referências. De uma coisa temos certeza, a menina-mulher Ariana Grande está passando por uma fase criativa incrível, produzindo boas músicas e nos entregando obras-primas.
Jadson Gomes
Universitário, revisor. E fotógrafo nas horas vagas.