Crítica | 120 Batimentos Por Minuto (120 Battements par Minute)

Nota
4

Na França, em meados dos anos 1990, um grupo de ativistas LGBTS denominado Act Up presta seu apoio a pessoas contaminadas pela AIDS e não mede esforços para dar mais visibilidade às vítimas do vírus HIV, fazendo com que o governo crie novas políticas representativas para as minorias e que a sociedade conheça a importância da prevenção e tratamento da doença. Recém-chegado ao grupo, Nathan (Arnaud Valois) vai ficar intrigado em como Sean (Nahuel Pérez Biscayart) consome suas últimas forças nas ações e acaba descobrindo uma grande paixão.

O humanismo presente no cinema francês já não surpreende a quem está acostumado com os deleites da sétima arte europeia, a não ser que tal estilo típico apresente uma característica sempre bem-vinda e, quando utilizada em uma produção bem executada, contribui com um resultado grandioso. Em “120 Batimentos Por Minuto” (120 Battements par Minute), a naturalidade é a caraterística responsável pela intensificação e remediação dos problemas apresentados pela trama.

No longa-metragem, escrito e dirigido com sensibilidade e cuidado por Robin Campillo, já que o cineasta viveu situações semelhantes das que são mostradas no filme, vemos lados extremos, racionais, ingênuos e esperançosos de uma mesma causa. A medida que a discussão nas reuniões do grupo Act Up e suas ações de não-violência aumentam ao longo do filme, o público é surpreendido por fatos absurdamente reais que ainda permanecem invisíveis. Se nos dias de hoje as diversas formas de luta e ativismo a favor da minoria permanecem no mais baixo patamar, no ápice do surgimento do HIV era ainda pior. A necessidade de marcar com seu próprio sangue companhias e governos que ignoravam sua existência era tamanha e “120 Batimentos Por Minuto” acerta demasiadamente ao resgatar e retratar com a exímia direção de Campillo esse momento histórico da França dos anos 90.

Além do destaque no ativismo, a luta pela visibilidade é composta por uma bela história de amor entre os personagens Nathan (um Arnaud Valois de poucas palavras, mas sentimentos únicos que são passados com clareza a ponto de comover imensamente o público) e Sean (interpretado pelo fenomenal talento do jovem ator Nahuel Pérez Biscayart), cuja relação torna-se enfoque principal do filme a partir do segundo ato e é regada por diálogos, situações e conflitos sentimentais por vezes arrastado além do que deveria ser, mas todos eles com claras razões para existirem e, dessa forma, roubarem tanta cena.

“120 Batimentos Por Minuto” talvez tenha como único defeito, mas nada que comprometa demasiadamente o belo resultado do longa, a metragem estendida e o excesso de situações como o conflito entre o grupo e uma grande indústria farmacêutica responsável e as reuniões para decidir a temática da Parada da Diversidade, situações importantes quando encaixadas à trama, mas que poderiam ter mais de suas problematizações reduzidas.

Prestigiado no Festival de Cannes 2017 e ovacionado pelo público e crítica, “120 Batimentos Por Minuto” é uma obra que choca, intriga e, apesar de se tratar de um fato de extrema tristeza e revolva, encanta por saber valorizar suas escolhas, oportunidades e lutas pela incansável vontade de viver. Por fim, o filme mostra como a verdadeira arma de grupos de excluídos pode ser a força de seus questionamentos como também seu próprio corpo.

 

Jornalista, crítico de cinema, fotógrafo amador e redator. Quando eu crescer, quero ser cineasta.

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